Dólar subiu 16,5% em setembro e, de acordo com especialistas, deve permanecer em um patamar elevado, encarecendo os eletroeletrônicos, os produtos preferidos dos consumidores para os presentes de fim de ano
A crise americana já ameaça encarecer o Natal do brasileiro. O pânico que tomou conta dos mercados esta semana fez o dólar disparar - ontem, a moeda fechou cotada a R$1,90 e encerrou setembro com alta de 16,5%, a maior valorização mensal em seis anos. Como boa parte dos componentes usados para fabricar eletroeletrônicos é importada (ou, ao menos, tem seu preço cotado em dólar), a tendência é que esses produtos fiquem mais caros em breve. E são justamente eles que aparecem como candidatos a vedetes do Natal de 2008.
Portanto, para quem planeja adquirir computadores, TVs, aparelhos de som, eletrodomésticos, celulares, brinquedos eletrônicos ou qualquer outro artigo importado, convém aproveitar os preços atuais e antecipar as compras de fim de ano. Até porque, os preços desses produtos caíram bastante nos últimos meses.
Pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), medido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), os preços dos equipamentos de informática e telefonia baixaram 15,78% nos últimos 12 meses. Na categoria ‘aparelhos de imagem e som’, a queda ficou em 13,57%. Para os eletrodomésticos, o recuo foi de 3,80% no período.
“No último ano, a valorização do real frente ao dólar e o acirramento da concorrência no mercado brasileiro reduziram significativamente o preço dos importados e dos eletroeletrônicos”, observa Antônio Evaldo Comune, coordenador do IPC da Fipe. “Agora, esse cenário vai se inverter, e os produtos passarão a custar mais.”
Para Comune, é “praticamente impossível” o dólar voltar tão cedo ao patamar de R$ 1,60 em que se encontrava no início de setembro. “A moeda americana está escassa no Brasil', diz o coordenador do IPC. “As únicas maneiras de o País captar divisas são a exportação e o investimento estrangeiro, e, em nenhum dos dois casos, as perspectivas são animadoras. Afinal, as exportações devem ter queda nos próximos meses e os investidores estão resgatando dinheiro, e não aplicando.”
Com menos dólares no mercado, a moeda americana deve continuar em alta. A dúvida agora diz respeito ao novo patamar em que a cotação vai se estabelecer - é isso que vai pautar o reajuste de preços dos eletrônicos e importados.
“Depois de terça-feira, quando o dólar encostou na casa dos R$ 2 e nos pegou de surpresa, ficou difícil prever qualquer coisa”, afirma Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Informática, líder na fabricação de computadores no Brasil. “Nunca tive tanta dificuldade em definir o preço do meu produto.”
Rotenberg diz que os estoques da Positivo devem durar até a primeira semana de outubro. Depois disso, haverá reajuste. “Só não sei quanto vai subir”, admite. Entretanto, ele afirma que, se o dólar se estabilizar em um patamar abaixo dos R$ 2, a alta não vai pesar tanto no bolso do cliente. “Se o produto ficar cerca de R$ 100 mais caro, por exemplo, esse aumento acaba se diluindo nas prestações ”, argumenta.
A Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) informou em nota que as empresas estão preocupadas com o efeito da alta do dólar sobre os custos de produção. Para a Eletros, é certo que ocorrerão aumentos. A entidade avalia, entretanto, que o cenário instável “dificulta uma avaliação mais exata”.
Altamiro Carvalho, assessor econômico da Federação do Comércio (Fecomercio), afirma que o efeito da alta dólar não deve ser notado tão rápido assim. “Muitos produtos são sensíveis à cotação da moeda americana, mas nem sempre o repasse desse aumento é imediato”, avalia. “Por conta da concorrência, os lojistas podem absorver parte dessa alta para não afugentar os consumidores.”
Veículo: Jornal da Tarde