Resíduos de agrotóxicos podem prejudicar a produção de vinhos na região da Serra Gaúcha. É o que alerta o pesquisador Gildo Almeida da Silva, da Embrapa Uva e Vinho.
Um estudo feito pelo especialista na sede da entidade de pesquisa, em Bento Gonçalves (RS), indicou que resíduos de produtos químicos, especialmente os fungicidas, presentes nas uvas colhidas nos parreirais e encaminhadas para as vinícolas, podem prejudicar o processo de fermentação e afetar a qualidade do vinho.
Leveduras. "Por causa do clima muito úmido da região, o uso de produtos químicos é fundamental para a produção de uvas sadias, livres de organismos patogênicos, como fungos", diz o pesquisador. "O problema é que o processo de fermentação das uvas é feito por leveduras, que também são fungos. Então, se a uva que vai para a campina tiver traços de fungicidas, as leveduras serão prejudicadas e a fermentação sofrerá alterações."
Silva conta que percebeu os indícios dessa alteração há alguns anos, quando vinicultores reclamavam que os vinhos produzidos por eles estavam com alta taxa de açúcar. "Havia casos nos quais a concentração chegava a 50 gramas por litro, o que é muito para um vinho de boa qualidade, porque causa a propagação de bactérias que elevam o teor de acidez do vinho", diz.
O especialista ainda diz que os resíduos de agrotóxicos podem deixar os vinhos mais turvos durante a fermentação. "Observamos casos nos quais o vinho começa a ficar turvo próximo do sétimo mês após o início da fermentação. Investigamos outras possibilidades e concluímos que isso também tem acontecido devido ao excesso de fungicida", afirma.
A pesquisa feita por Silva, entretanto, mostra que essas alterações nem sempre são causadas pelo não respeito às quantidades de fungicidas ou o prazo de carência entre as aplicações. "Fizemos testes com os 13 produtos mais utilizados aqui na região e notamos que mesmo respeitando as especificações alguns desses produtos ainda apresentavam resíduos", revela. Por outro lado, Silva também diz que alguns fungicidas testados até auxiliaram o processo de fermentação. Com os resultados em mãos, o próximo passo é divulgar para os produtores da região quais os produtos que estão fora dos padrões.
Veículo: O Estado de S.Paulo