Moinhos cobram R$ 450 mi devidos pelo governo federal

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O governo federal escoa a produção de trigo brasileiro com o capital de giro da indústria. Essa é a opinião dos proprietários dos maiores moinhos do Estado de São Paulo. Segundo Christian Mattar Saigh, diretor superintendente do Moinho Santa Clara e vice-presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado de São Paulo (Sindustrigo), o prazo para o repasse do Prêmio para Escoamento do produto (PEP) terminou ontem. "O governo escoa a safra de trigo com o dinheiro da indústria", afirma.

 

Números do setor mostram que R$ 450 milhões do PEP não foram repassados aos moinhos. "Os documentos foram entregues à Companhia Nacional de Abastecimento [Conab] em janeiro", diz Saigh.

 

Segundo João Carlos do Nascimento, da superintendência de operação comercial da Conab, os pagamentos são realizados de acordo com previsão orçamentária. "Os proprietários de moinhos estão receosos porque houve um pequeno atraso, mas não existe um prazo final estipulado para pagamento", diz.

 

Nascimento disse ainda que ontem foi o último dia para a entrega dos documentos necessários para análise de pagamento. "A Conab tem dez dias para analisar os papéis. Para o repasse do dinheiro podem ocorrer atrasos."

 

Para Luiz Martins, presidente do conselho de administração da Anaconda - Industrial e Agrícola de Cereais, e presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), esse cenário inviabiliza a realização de outros leilões. "Se o governo fizer outro PEP ninguém vai entrar", adianta.

 

Segundo Vicente Genícola Junior, consultor do Sindustrigo, outro impasse na comercialização do produto nacional está na qualidade do cereal. "A qualidade da próxima safra brasileira é duvidosa, já que houve uma redução considerável nas vendas de adubo", pondera Martins.

 

Enquanto o setor aguarda os resultados da semeadura no Brasil, a indústria se abastece com o grão norte-americano e canadense. "A Argentina já exportou o que tinha. Estamos em período de entressafra", comenta Saigh.

 

Para o executivo do Santa Clara, mesmo com a Tarifa Externa Comum (TEC) fixada em 10%, o trigo chega dos Estados Unidos US$ 8 mais barato do que o grão do Canadá.

 

Para a temporada 2010/2011, o Brasil prevê uma produção de 5 milhões de toneladas. Na Argentina, cuja produção é esperada para o fim do ano, a estimativa é de 12 milhões de toneladas.

 

O Brasil consome, por ano, cerca de 10,5 milhões de toneladas do cereal. Já a Argentina, que deve disponibilizar para exportação de três a cinco milhões de toneladas do produto, o consumo anual é de seis milhões de toneladas.

 

De acordo com Martins, as produções de trigo do Uruguai e do Paraguai tendem a avançar. "Com as políticas de taxações de exportação na Argentina, os produtores do país têm migrado para o Uruguai e Paraguai", disse.

 

De acordo com dados da Abitrigo, o Uruguai deve comercializar este ano, 1,8 milhão de toneladas do grão e o Paraguai aproximadamente 400 mil toneladas. "A produção do Uruguai já triplicou e do Paraguai duplicou", comenta Junior, do Sindustrigo.

 

PEP 2011

 

Segundo Saigh, em 2011, as compras realizadas pelo governo serão feitas de acordo com a classificação do produto. "O Brasil é o único país que paga prêmio por quantidade e não por qualidade. Isso vai mudar", disse;

 

Para os executivos do trigo, a redução de 10% do preço mínimo de referência do grão estipulado pelo governo tem como uma das finalidades reduzir gastos para escoar a safra. Até agora o governo teria comercializado via PEP 3 mil toneladas de trigo nacional.

 


Veículo: DCI


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