Alimentos: Empresa defende manutenção das marcas Sadia e Perdigão e afirma ter concorrentes fortes no mercado brasileiro, como Marfrig, JBS e Bertin.
A Sadia e a Perdigão concorrem com grandes empresas que estão investindo cada vez mais no mercado brasileiro e, por isso, não precisam se desfazer de suas marcas para ajudar a concorrência. Essa foi a posição defendida pelos presidentes da Brasil Foods, José Antonio Fay, e da Sadia, Julio Cardoso, diante do parecer da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda.
Ambos acreditam que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) não vai seguir o parecer que recomenda o licenciamento e a venda de diversas marcas para que a compra da Sadia pela Perdigão seja aprovada.
"Os nossos concorrentes são fortes. Eles não precisam de nossas marcas", disse Cardoso. "Eles estão até na Copa do Mundo", enfatizou, referindo-se à Seara, controlada pela Marfrig. Além da Marfrig, JBS e Bertin despontam como companhias que podem fazer frente ao poderio da Brasil Foods.
"Nós enviamos dados muito robustos para a Seae de que a operação é competitiva", afirmou Fay. Para ele, a secretaria não se debruçou sobre os estudos da empresa. Esses estudos diziam que, diante de um produto Sadia com preço elevado, o consumidor tende a optar pelo mais barato. Ou seja, a fidelidade à marca não é tão forte se comparada aos preços. Por isso, não haveria sentido em aumentar os preços aos consumidores, após a aprovação do negócio pelas autoridades antitruste. Pelo contrário. A empresa sustentou que vai conseguir produzir em maior escala e, com isso, a tendência é de queda de preços no futuro.
"Agora, vamos continuar sustentando para o Cade que a operação é pró-competitiva", enfatizou Fay. "Vamos mostrar para o Cade o que aconteceu no mercado (desde o anúncio da compra da Sadia, no ano passado). Ele continua saudável, com novos concorrentes", observou.
"Estamos convictos de que temos argumentos e dados que justificam a aprovação sem restrições", acrescentou Cardoso.
A Brasil Foods também argumentou que não pretende formar um campeão nacional às custas do mercado interno. Ou seja, a empresa acredita que o aumento das exportações será plenamente possível, sem que o mercado interno sofra elevação de preços. Isso porque a maior demanda por produtos lá fora deverá fazer com que a produção interna também cresça.
Se houver mais pedidos por peito de frango, por exemplo, no mercado externo, outras partes desse frango podem ser destinadas ao mercado brasileiro. "As nossas fábricas são para o mercado externo e interno", resumiu Fay. "Existe uma relação entre o que se exporta e o que se coloca para o mercado interno", completou Cardoso.
Para a BRF, o relatório da Seae não considera o fato de que a união entre Perdigão e Sadia cria um grande exportador, que "terá condições de ampliar sua presença como competidor global do mercado de alimentos, gerando empregos, renda e divisas". Hoje, 42% das vendas da BRF são no mercado externo, mais de R$ 9 bilhões por ano.
Os presidentes reclamaram que ainda não tiveram acesso à versão integral do parecer da Seae. "Sentimos que apresentamos vários dados e eles simplesmente não ouviram", lamentou Cardoso. Para Fay, o Cade vai fazer o contraditório e, com isso, as empresas terão a oportunidade real de serem ouvidas e levadas em consideração antes da decisão final sobre o negócio.
Veículo: Valor Econômico