Leopoldo Almeida criou um abridor de sachês de ketchup, ganhou prêmio nos EUA e já vendeu mais de 50 mil peças
O administrador Leopoldo Almeida adora ketchup, mas sempre teve problemas com aqueles sachês com pequenas porções do molho que são oferecidos em lanchonetes e restaurantes. Um dia, enquanto saboreava um prosaico cheese-salada acompanhado de suco de morango com leite, ele teve uma ideia simples e original. Criou um abridor de sachês que o transformou em microempresário.
Almeida, de 39 anos, é o inventor do Khort, um pequeno dispositivo de plástico com uma lâmina embutida que corta o bico dos sachês em uma única passada. Uma solução que acaba com cenas recorrentes em muito balcão de lanchonete: gente apressada tentando abrir as embalagens no dente ou na unha, muitas vezes sem conseguir ou rasgando demais a ponto de provocar uma incômoda mancha na roupa.
O Khort custa, em média, R$ 6, e pode ser colado em porta guardanapos ou nos próprios cestos de sachês dos estabelecimentos. Testes mostram que, nas lanchonetes que adotam o dispositivo, o consumo de sachês aumenta 20%, mas o custo é amenizado pela redução do desperdício.
"Vimos que o cliente que não consegue abrir o sachê joga no lixo e tenta outro. Com o Khort, a pessoa se sente mais confortável no estabelecimento e usa mais molhos, como ketchup ou maionese", diz Almeida. Ele já vendeu 50 mil peças e firmou parcerias com os maiores interessados: os produtores de sachês. Só a Bom Sabor comprou 4 mil no mês passado para repassar a seus clientes.
Inovação. Para viabilizar o negócio, Almeida ficou sócio de um fabricante de peças plásticas da Baixada Fluminense. A inovação conquistou os jurados da 25.ª edição da Exposição de Inventos e Novos Produtos (Inpex) de Pittsburgh, nos Estados Unidos, no mês passado. O Khort ficou em terceiro lugar na disputa pelo título de melhor invenção das Américas.
O caminho até transformar sua ideia em produto, no entanto, não foi tão fácil. Ex-vendedor de equipamentos médicos, Almeida já tinha perdido um carro ao investir numa outra invenção, malsucedida. Desempregado, teve um "clique" em 2007, quando comia numa lanchonete da rua Uruguaiana, no Centro do Rio. "O atendente pegou alguns sachês, cortou as pontas com uma tesoura e colocou num pratinho. Achei aquilo ótimo, adorei poder colocar ketchup sem soltar meu sanduíche. E me dei conta de que é isso que a maioria quer num lanche rápido: não ter de parar a cada mordida para abrir sachê. Então decidi criar algo que permitisse abrir a embalagem com apenas uma das mãos."
Obcecado, Almeida passou dias estudando alternativas até fabricar um modelo do Khort com um pedaço de canaleta plástica e uma lâmina.
"Quando funcionou, tive um frio na barriga", conta, exibindo o protótipo como um amuleto. Em vez de reproduzir a ideia de qualquer jeito, tratou primeiro de protegê-la depositando uma patente para então sair em busca de investidores. Em três anos, conseguiu reverter cerca de R$ 200 mil para o desenvolvimento, produção e o depósito de patentes em outros países, como Estados Unidos e China.
"Eu não tinha um tostão no começo, mas fiz um plano de negócios profissional. Contei com amigos para tudo, do desenho do produto à marca. Depois, levei muita porta na cara atrás de investidores até ser ouvido. Ninguém me levava a sério. Mas usei o meu talento de vendedor e persisti. Sabia que era viável", conta Almeida. "Ter a ideia foi o mais fácil."
PRESTE ATENÇÃO...
1. Consumo. As três maiores produtoras brasileiras vendem todo mês cerca de 500 milhões de sachês de molhos como ketchup, mostarda e maionese.
2. Desgaste. As lâminas do Khort abrem até 4 mil sachês antes de perderem o corte e duram de dois a três meses numa lanchonete. Podem também cortar pontas de caixas de leite.
Veículo: O Estado de S.Paulo