Pesquisa revela que consumidor não mostra entusiasmo com as compras de fim de ano.
A três meses do Natal, o consumidor não aparenta entusiasmo com as compras de fim do ano, o melhor período para o comércio. Levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que, em setembro, o nível de intenção de compras de bens duráveis para os próximos meses foi o mais baixo dos últimos dois anos.
Na pesquisa, 34% dos entrevistados apostam em redução no volume de compras - o mais elevado percentual desde setembro de 2006. Analistas da LCA Consultores e do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) alertam para uma piora nesse cenário, com a possibilidade de menor oferta de crédito ao consumidor, devido ao agravamento da crise financeira.
O levantamento da FGV levou em conta dados apurados na Sondagem das Expectativas do Consumidor de setembro. Para o coordenador da pesquisa, Aluísio Campelo, o consumidor apresentou menor intenção de compras futuras devido ao grande nível de endividamento. "Se o consumidor já se sente endividado, ele não fica tão à vontade para fazer outras compras", disse.
Campelo comentou que a contenção da demanda no mercado interno era uma das intenções do Banco Central ao elevar a taxa básica de juros (Selic). "Além de conter a inflação, havia também o temor por uma explosão de inadimplência", afirmou. Entretanto, ele admitiu que, para o caso específico das vendas de Natal este ano, a atual cautela do consumidor não é uma boa notícia. Ele não descartou a possibilidade de as vendas natalinas terem crescimento menor do que as registradas em anos anteriores.
O economista-chefe da LCA Consultores Bráulio Borges avaliou que o recuo no entusiasmo foi um dos dados mais preocupantes na pesquisa e o que mais chamou a sua atenção. Ele observou que houve um bom resultado na confiança do consumidor no mês (o Índice de Confiança do Consumidor - ICC subiu 4,2% ante agosto), mas considerou que essa melhora pode ter ocorrido por causa da boa influência do enfraquecimento da inflação dos alimentos. "O que vimos é que, esse aumento de confiança não necessariamente representa aumento nas intenções de compras", afirmou. "Esse cenário sinaliza um Natal não tão pujante quanto o do ano passado", completou.
Bens duráveis - Um dos setores que mais serão afetados, na análise do especialista, será o de bens duráveis. Isso porque o consumidor usa mais a opção de crédito ao comprar esses itens, que são mais caros. A boa oferta de financiamentos nos últimos dois anos tem beneficiado as compras desse tipo de produto.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em dezembro de 2007, as vendas de veículos, motos, partes e peças subiram 13,5% em relação a igual mês em 2006. Já as vendas de móveis e eletrodomésticos subiram 11,8%, no mesmo tipo de comparação. "No caso de automóveis, é bem provável que essa taxa de crescimento se aproxime de zero no final do ano" disse
Ele acrescentou que, além da probabilidade de diminuição de oferta de crédito, a crise também pode deixar os bancos mais cautelosos e com tendência a reduzir prazos de pagamentos. "Creio que será um Natal de menos bens duráveis para presentes, e mais de ‘lembrancinhas’", disse.
A menor oferta de crédito influenciando as compras de Natal também foi lembrada pelo ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e atual consultor do Iedi, Julio Gomes de Almeida. Usando dados do BC anunciados recentemente, ele comentou que o crédito às pessoas físicas continuou perdendo ímpeto em agosto, quando subiu somente 12%. (AE)
Veículo: Diário do Comércio - MG