Com rentabilidade até 30% superior à da variedade arábica, produto tem atraído investidores
Empresários ligados ao segmento de café e também de outras áreas de negócios decidiram ampliar os investimentos na produção do grão. São Paulo foi o Estado escolhido para a empreitada e, desta vez, a aposta é na variedade robusta, ainda desconhecida da agricultura paulista, e destinada principalmente à produção de café solúvel. São Paulo é terceiro maior produtor de café do Brasil, atrás de Minas Gerais e Espírito Santo, mas produz apenas a variedade arábica.
O interesse dos empresários em introduzir uma nova variedade em São Paulo se deve principalmente à perspectiva de melhor rentabilidade do produto.
Dados preliminares da Secretaria de Agricultura paulista indicam que a produção do café robusta oferece uma rentabilidade entre 20% e 30% superior à do café arábica, mesmo com um preço 45% menor que o da variedade mais nobre. O custo inferior e a alta produtividade justificam o investimento no plantio em terras paulistas.
Com a experiência de ter sido sócio do Café do Ponto, vendido para Sara Lee, e depois presidente da trading da multinacional americana até 2005, Luiz Roberto Gonçalves é um dos empresários que acreditam no desenvolvimento do robusta em São Paulo. Atualmente vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, Gonçalves está cultivando, junto com outros cinco produtores, 10 hectares da variedade em modo experimental na região de Lins, no noroeste paulista. A cidade já foi importante na produção de gado bovino e é o berço do frigorífico Bertin, vendido para a JBS no ano passado.
Cerca de 25 mil mudas de café foram plantadas em setembro de 2009 na região de Lins e terão, neste inverno, a sua primeira florada. A expectativa é de que a primeira colheita da região ocorra no segundo sementre de 2011. "Os clones trazidos do Espírito Santo se adaptaram bem à região, e o desenvolvimento das árvores foi ótimo até o momento", afirma Gonçalves.
Outro que acredita na mudança da cafeicultura paulista é Edvaldo Frasson Teixeira, um dos sócios da Treviolo Café, empresa que já atua na produção do grão, tem uma rede de cafeterias com o mesmo nome e também fabrica máquinas para expresso. Teixeira levou o robusta para uma propriedade em Adamantina, município próximo à divisa com o Mato Grosso do Sul, onde plantou 17 mil pés em cerca de 6 hectares.
Já produtor de café arábica em Matão - região forte em cana e laranja - , o empresário Pedro Moreira Sales, presidente do conselho do Itaú-Unibanco, também está investindo no plantio de robusta em sua propriedade.
O projeto de introdução da variedade robusta em São Paulo está sendo coordenado pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Dados do instituto indicam que o cultivo de robusta é viável economicamente em São Paulo. Além de maior produtividade e menor custo do robusta, o Estado tem 250 torrefadoras e três solubilizadoras - indústrias de café solúvel - instaladas, que absorvem aproximadamente 7 milhões de sacas por ano.
Os clones que estão sendo cultivados em São Paulo foram selecionados e trazidos do Espírito Santo pelo ICA. O órgão tem um banco de germoplasma de robusta, fruto de um trabalho realizado no passado por pesquisadores do instituto.
"Apesar de valer menos que o arábica, o custo de produção do robusta é muito mais baixo. Com isso, a produção dessa variedade passa a ser uma alternativa às culturas de cana-de-açúcar, laranja e pecuária, principalmente paras as pequenas propriedades", afirma João Sampaio, secretário de Agricultura de São Paulo.
Enquanto a produção de café robusta não se consolida em São Paulo, o Estado segue como terceiro maior produtor nacional, com expectativa de colher 4,35 milhões de sacas em 2010, conforme a última estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A oferta do Brasil para este ano é estimada em 47,1 milhões de sacas, das quais 35,3 milhões serão de arábica e 11,7 milhões de robusta.
Veículo: Valor Econômico