Suspensão da redução de 10% nos preços mínimos estimula o setor, avalia a Atriemg.
A suspensão da Portaria nº 478, que estabeleceu a redução de 10% nos preços mínimos do trigo para a atual safra, foi comemorada pela Associação dos Triticultores do Estado de Minas Gerais (Atriemg). De acordo com o presidente da entidade, Lucas Johannes Maria Aernoudts, a medida poderá incentivar a ampliação do cultivo em Minas Gerais. A portaria fixava os preços de R$ 31,80 para a saca de 60 quilos do trigo pão tipo 1 e de R$ 26,46 para o trigo brando tipo 1, sendo que o custo mínimo de produção gira em torno de R$ 32,10.
Segundo Aernoudts, caso mantida, a medida poderia causar novas reduções da área plantada no Estado. Outro reflexo negativo da redução dos preços mínimos seria a geração de renda para os produtores que, além de enfrentarem o aumento dos custos de produção, ainda concorrem com o trigo importado e o produzido na região Sul do país.
"Os representantes políticos precisam defender o produtor ao invés de criar medidas que vêm para prejudicar o setor, como a redução nos valores mínimos. Todo ano enfrentamos o encarecimento dos custos de produção e somente os preços de venda são reduzidos", disse Aernoudts.
Migração - A safra 2009/2010 de trigo em Minas Gerais deve apresentar retração de 30%, conforme estimativa da Atriemg. A queda na produção se deve ao preço do feijão estar mais atraente do que o pago pela tonelada do cereal, o que provocou a migração de cultura. Entretanto, o 10º levantamento da safra de grãos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê que a produção de trigo em Minas Gerais aumente cerca de 3% frente à safra anterior, atingindo cerca de 98 mil toneladas.
A nova safra mineira de trigo deverá render 98 mil toneladas contra as 95 mil toneladas do ano anterior, o que representa um incremento de 3%. A área plantada será de 22,8 mil hectares, contra 20,3 mil hectares utilizados em 2009, com aumento de 12,3%. Cerca de 100 produtores mineiros estão envolvidos no cultivo do trigo.
A previsão da Atriemg é de que os preços do trigo no mercado interno, em 2010, devem superar, com ampla margem, os preços mínimos estipulados pelo governo. A valorização será impulsionada pela redução da oferta do produto e dos estoques mundiais. O que poderá impulsionar a demanda local.
As cotações do trigo fecharam julho com alta expressiva na Bolsa de Chicago, 38%. A possibilidade da Rússia suspender as exportações devido à quebra da safra provocaram o aumento da demanda no mercado futuro do cereal. O contrato setembro subiu 5,42%, passando para US$ 6,6150 por bushel, a medida corresponde a 27,216 quilos do cereal.
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) sinalizou que as estimativas para a produção e os estoques mundiais em 2010/2011 deverão ser reduzidas em 10 milhões a 15 milhões de toneladas. Em junho, a FAO previu uma safra de 676 milhões de toneladas. A chuva no Canadá também poderá interferir na qualidade do trigo, o que se confirmado poderá ampliar a demanda no Brasil e alavancar os preços.
Redução do ICMS - Outro fator que pode contribuir para a melhoria dos preços do trigo em Minas Gerais é a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) sobre a venda do trigo para São Paulo, maior consumidor do produto no país.
Até a safra anterior, a alíquota incidente em Minas era de 12%. Para a safra atual, o ICMS caiu para 2%. Com a redução, a expectativa é que as vendas voltadas para o estado aumentem significativamente, uma vez que Minas passa a competir igualmente com os estados do Sul do país, que já contavam com o benefício fiscal.
De acordo com o presidente da Atriemg, Minas Gerais possui grande potencial para a expansão da produção. Cerca de 60% do trigo utilizado nas indústrias brasileiras são provenientes de outros países.
O Estado, além de apresentar condições climáticas favoráveis para a produção do trigo, tem a vantagem de colher o cereal primeiro, o que garante ao produtor maior rentabilidade no começo da colheita, quando a oferta ainda é restrita.
Uma das principais expectativas para os próximos anos é o lançamento do plano de governo para a formação de um novo polo produtivo de trigo no país, que abrangerá a região Centro-Oeste do país. O plano do governo federal deverá ser implementado em 2011.
Através do programa serão adotadas medidas para ampliar a produção. As modificações serão baseadas nas necessidades de cada região. Em Minas, as principais demandas se referem ao melhoramento da logística e a maior divulgação do produto.
Atualmente o transporte do trigo é realizado por caminhões. O objetivo é investir no transporte ferroviário, que possui custo menor frente ao rodoviário.
Veículo: Diário do Comércio - MG