Comércio eletrônico mira alta de 35% este ano

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Com uma taxa de crescimento na receita de 1.200% de 2001 para 2007, o mercado de comércio eletrônico (e-commerce) viu o seu melhor momento surgir com o barateamento dos itens de informática, que permitiu acesso das classes menos favorecidas da população brasileira aos equipamentos e serviços baseados na rede mundial de computadores.

 

Sustentado por esse fenômeno, o e-commerce do Brasil saltou de um faturamento de R$ 550 milhões, em 2001, para R$ 6,3 bilhões, no ano passado. "E a expectativa este ano é que gente feche com R$ 8,5 bilhões, o que daria um crescimento próximo a 35% em relação a 2007", declarou Pedro Guasti, diretor-geral da e-bit e diretor da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, conhecida também como Camara-e.net.

 

O executivo é o convidado desta segunda-feira do programa "Panorama do Brasil", exibido pela TVB em parceria com o jornal DCI. Junto dele, estará o jornalista e apresentador Roberto Müller acompanhado por Camila Abud, editora do DCI, e Milton Paes, da rádio Nova Brasil FM. Leia abaixo alguns trechos da entrevista.

 

Roberto Müller: O comércio eletrônico é novo no Brasil, mas já apresenta um número expressivo de usuários e vem crescendo de uma forma expressiva também. Isso é verdade? E quais são as suas perspectivas?
Pedro Guasti: Sim, o comércio eletrônico no Brasil começa a partir de 1995, quando as primeiras empresas tiveram experiências virtuais. Mas nós tivemos uma grande ascensão a partir de 2000, com grandes investimentos, quando apareceram as empresas que até hoje trabalham e estão presentes no e-commerce. Tivemos, entre 2001 e 2007, um crescimento de mais de 1.200% no faturamento, nada comparável ao de qualquer outro setor da economia. Estamos falando de um faturamento que partiu de R$ 550 milhões, chegando, em 2007, a R$ 6,3 bilhões.

 

Roberto Müller: E este ano, chega a quanto?
Pedro Guasti: A expectativa para este ano é que gente feche com R$ 8,5 bilhões: um crescimento próximo a 35% em relação ao ano passado. É importante lembrar que esse faturamento não incorpora a venda de passagens áreas, nem de veículos ou leilões virtuais; estamos falando de faturamento de bens de consumo vendidos a consumidores, computador, notebooks, eletroeletrônicos, câmaras digitais, livros, principalmente, que é uma das categorias que mais se vendem pela Internet, CDs, DVDs, roupas, acessórios, medicamentos. Hoje você pode comprar o que quiser pela Internet, no conforto da sua casa, do trabalho.

 

Milton Paes: E por que não incorpora esses outros setores?
Pedro Guasti: A nossa metodologia cobre vendas de bens de consumo. A venda de passagens aéreas é uma venda de serviços. Nós a poderíamos incluir, mas é um mercado ainda muito concentrado, com praticamente duas empresas, e nós não podemos abrir individualmente o faturamento das empresas que estão no nosso guarda-chuva de serviços prestados. Mas é um canal bastante importante para a venda de passagens aéreas, com certeza.

 

Roberto Müller: Hoje, pelo que percebemos, as empresas do varejo que atuam de forma presencial tendem, futuramente, se não estão, a ingressar no e-commerce. Hoje, por exemplo, pelo que vocês acompanham, a venda feita virtualmente e a venda feita de forma presencial, vocês têm um parâmetro de como está essa venda hoje?
Pedro Guasti: Sim, as empresas que começaram a suas operações na Internet acompanharam esse crescimento e hoje o comércio eletrônico dentro dessas empresas tradicionais já representa a maior parte das vendas dentro do setor, em termos de loja. Um exemplo. Em uma rede como o Extra, o Pão de Açúcar ou o Magazine Luiza, a loja virtual tem uma participação muito expressiva dentro do faturamento desses grupos, podendo chegar a representar até 10 lojas físicas, mas sem investimento físico. Obviamente tem o investimento em tecnologia, com uma mão- de-obra mais qualificada. Mas, por outro lado, é um setor que permite 'escalabilidade', você agrega mais computadores, mais banda, e já tem uma capacidade ampliada de atendimento, e, a partir daí, você ganha em escala e tem uma redução significativa em custos e na sua margem. Mas voltando a falar de empresas que ainda estão fora desse segmento, ainda há redes tradicionais com marcas muito fortes no varejo no Brasil que não estão na Internet.

 

Camila Abud: Você está falando de Wal-Mart, Carrefour, Casas Bahia?
Pedro Guasti: Isso. Basicamente essas empresas tinham o principal público consumidor, o foco, público-alvo, em classe C e D, que estavam fora da Internet. Só que com o processo de inclusão pelo próprio barateamento do computador -hoje você pode comprar um computador de R$ 800,00 parcelados em 15 vezes, você paga cerca de R$ 70,00 por mês -, isso cabe na carteira de uma população menos abastada e faz com que esse público acesse a Internet, por meio de banda larga, pagando em torno de R$ 45,00 por mês. Começa, então, a gerar um círculo virtuoso, mais pessoas acessando à Internet, comparando preços, tendo acesso a informação e comprando. Essas redes, que ainda estão fora, estão revisando sua posição, e no máximo em um ano, ou um ano e meio, estariam presentes, e poderão acompanhar essa alta.

 

Milton Paes: O custo da Internet, mesmo investindo em pessoal qualificado, nunca vai ser comparável ao de uma loja física, em que você tem um número de funcionários maior, e uma série de despesas, como a da luz, concorda?
Pedro Guasti: O investimento para montar a sua operação virtual de qualidade, profissional, com segurança, requer investimentos pesados, às vezes até maior do que o de uma loja física, ou duas, três.

 

Camila Abud: A área de logística é importante?
Pedro Guasti: A área de logística é importantíssima. Montar um Centro de Distribuição (CD) ou até mesmo um estoque virtual, que reflita no site a sua posição real de estoque, é muito importante, senão você vai vender um produto e não vai entregar, vai prometer para o consumidor e não vai ter estoque, e nós sabemos, pelas pesquisas do e-bit, que a entrega no prazo é o principal quesito avaliado pelo cliente e que gera fidelização. Uma pessoa que compra pela Internet e não recebe no prazo fica frustrada, principalmente se for um primeiro consumidor, é importante ter uma operação de logística redonda e azeitada. Mas quanto ao investimento em tecnologia e pessoas, hoje existem no mercado empresas especializadas no fornecimento desse tipo de tecnologia, meios de pagamento digitais criados para a Internet, ferramentas de comércio eletrônico, hosting, banda larga, enfim, que podem te dar condições de brigar de igual para igual com empresas que já estão previamente estabelecidas. Claro que essas empresas terão de ter uma curva de aprendizado, vender pela Internet é completamente diferente de vender no balcão. Lá você pega o produto, experimenta, você negocia olhando no olho, mas muitas pessoas não gostam desse tipo de relação, gostam de uma coisa mais objetiva, mais planejada, pesquisada. Hoje em três cliques você entra em um site de comparação de preços, como o Buscapé, o Bomdefaro, você compara, consulta comentários de consumidores que já fizeram compras naquela loja, ou seja, informação é o principal atributo que faz as pessoas tomarem decisões.

 

Roberto Müller: E também ganha-se tempo, não é? Fazer uma pesquisa física demora, mas na Internet, já está ali.
Pedro Guasti: Nós, que vivemos em grandes centros urbanos, cada vez mais congestionados, demoramos muito a nos deslocarmos, os shoppings cobram estacionamento, muitas vezes paga-se um valor alto. Além disso, o tempo hoje virou uma matéria-prima escassa, mas, com a Internet, em três, quatro cliques você tem listadas em uma única tela as empresas que têm o melhor preço, qual empresa vende determinado produto, qual delas tem a melhor qualificação e avaliação segundo o próprio consumidor. A própria pesquisa e-bit alimenta o setor, dando uma certificação para as lojas que estão nesse processo, dando uma medalha de diamante, ouro, prata ou bronze, então o consumidor tem uma tela com toda a informação para uma tomada de decisão. E um outro fator interessante é a interligação entre os canais. O que quer dizer isso? Você vai na Internet, pesquisa preço, toma a decisão de compra, e, se ainda tem medo, imprime tudo, leva debaixo do braço, vai numa loja física, até em um concorrente, mostra que tem outras condições. Então você pode até acabar ajudando o consumidor a conseguir melhorar a negociação junto às lojas físicas. O contrário também ocorre, eu estou em um final de semana em uma loja com produtos eletroeletrônicos de valor agregado, eu pesquiso, posso usar o próprio vendedor como consultor, pego todas as características e vou para casa e compro pela Internet. A nossa pesquisa aponta de que os canais se complementam. Há 40% de integração entre os canais, e em alguns segmentos chega a 60%. Se você analisa o público de classe C, que está comprando seu primeiro computador e tem uma capacidade de pagamento restrita, ele não pode errar, ele precisa de muita informação na hora de comprar.

 

Roberto Müller: Fui a uma livraria, vi um livro, acabei não comprando. Quando cheguei em casa, entrei no site da livraria e vi que estava muito mais barato, comprei, e depois de três ou quatro dias recebi em casa. Isso é comum? É mais barato comprar pela Internet?
Pedro Guasti: Sim, geralmente a Internet oferece melhores preços e condições de pagamento. Principalmente em livros, DVDs e CDs e em algumas categorias. Eletroeletrônicos é uma categoria que também é melhor, mas já tem um padrão de preço, a própria indústria faz um acordo com as empresas que não podem diminuir determinado patamar. Isso é muito comum: muitas vezes, você encontra um livro na Internet que custa metade, 30% do preço de um livro em uma livraria de rua ou em um shopping center. As pessoas ficam admiradas, perguntam como é possível. É que a Internet permite fazer oferta em mais de 2 milhões de produtos. Em uma curva A, B, C, 30% dos livros correspondem a 70% do faturamento. Muitas vezes, a livraria não tem imediatamente aquele livro no estoque, mas ela tem um acordo com a editora, e se você quiser comprar aquele livro poderá demorar uma semana, talvez 10 dias, talvez seja necessário ele vir da Europa, mas você tem à sua disposição um sortimento muito maior que em uma livraria que tem o seu espaço físico restrito. E isso, em uma livraria de shopping, é custo, metro quadrado caro. Na Internet, não: existe um galpão, em um Centro de Distribuição, que está longe de um centro urbano, com um custo por metro quadrado menor, por isso o preço é diferenciado.

 

Camila Abud: Há algum estudo das entidades, da e-bit, da Câmara, que mostre o ranking de quais são os segmentos mais vendidos na Internet? E como está isso no Brasil e em outros países?
Pedro Guasti: Sim. Nós acompanhamos essa evolução de vendas nas categorias ano a ano. Nós sabemos das diferenças, principalmente de produtos CDs, DVDs e fitas de vídeo, que vem caindo ano a ano, que hoje está abaixo de dois dígitos e sempre foi uma categoria que foi mais vendida. Nós levantamos com o relatório do e-bit, Web Shoppers, agora no primeiro semestre, na sua décima oitava edição, o ranking dos produtos mais vendidos. Temos em um primeiro lugar os livros, com 17% das vendas, seguidos de produtos de informática, softwares, computadores, com 12%, e, em terceiro lugar, artigos de perfumaria e cosméticos. Até há pouco tempo você imaginaria uma pessoa comprando perfume pela Internet? Então, agora já representa 10%. Depois tem eletrônicos, linha branca, telefonia celular também. E, diferentemente do que acontece nos Estados Unidos, por exemplo, a categoria de roupas e acessórios ainda é pouco vendida aqui. Nos Estados Unidos essa categoria vendeu, em 2006, US$ 18 bilhões, que representa 10% da toda a venda do varejo tradicional, mas isso porque lá existe uma cultura de comprar por catálogo, as pessoas compram e recebem depois, aqui no Brasil não tivemos isso, a nossa cultura inflacionária não permitiu.

 

Camila Abud: Tive conhecimento de uma pesquisa que mostra que o Brasil representa 45% das vendas no comércio eletrônico na América Latina. É o primeiro país. Tem uma análise que eu gostaria de saber se está correta. É que o segmento automotivo e imobiliário está vendendo a taxas chinesas e batendo recordes nos últimos dois anos, mas a tendência, com o cenário atual, é que se desacelerem seu crescimento e recordes. Por outro lado, o e-commerce parece que caminha no sentido ao contrário, com um maior número de pessoas da classe C com acesso à Internet, isso está certo?
Pedro Guasti: Está certo, o e-commerce vem nesse crescimento constante desde 2001. Passamos por períodos turbulentos em 2001 e em 2003, e o setor não mudou. Este cenário que você mostrou para daqui para frente, inclui também o e-commerce e podemos ter algum tipo de impacto nesse crescimento. Mas ainda assim vai ser um crescimento de pelo menos 30% nos próximos três anos, ou seja, tem possibilidade de dobrar o faturamento em três anos.

 

Roberto Müller: Quantas pessoas têm computador no Brasil, ou seja, poderiam comprar pela Internet?
Pedro Guasti: O Brasil tem aproximadamente 50 milhões de pessoas que usam a Internet. Nós chamamos isso de penetração. Se considerarmos o público acima de 12 anos, estamos falando de quase 30% da população com acesso à web. Mas nem todos compram por ela, nós temos dados do e-bit que apontam de que em torno de 12 milhões de pessoas já tiveram alguma experiência de compra na Internet. Mas nós temos também outros números e indicadores, como pessoas que têm conta corrente e têm acesso a banco e Internet banking, que são aproximadamente 25 milhões. Então o e-commerce tem metade dessa população que tem conta corrente, que tem um cartão e poderia comprar pela Internet.

 

Roberto Müller: Pedro, o que faz a sua empresa? Porque você nem compra nem vende.
Pedro Guasti: O e-bit é uma empresa de pesquisa de comércio eletrônico, nós estamos no meio do processo entre a loja o consumidor final. Somos o termômetro. O consumidor, quando compra e finaliza a sua compra pela Internet, pode ter acesso e responder a uma pesquisa do e-bit para manifestar se está satisfeito com a compra e posteriormente com a entrega. O e-bit é um infomediário, é uma empresa que está no meio do processo do e-commerce.

 

Veículo: DCI


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