Seca em vários países produtores e a volta dos fundos ao mercado de commodities agrícolas pressionam o cereal
Aumento de 85% no valor do trigo na Bolsa de Chicago pode gerar elevação de 5% a 10% nos preços do pãozinho
A valorização de até 85% do trigo nas últimas seis semanas na Bolsa de Chicago vai afetar os preços do pãozinho. A alta deve ficar entre 5% e 10%, segundo Lawrence Pih, do Moinho Pacífico.
Somados os efeitos da alta do pãozinho, massas e outros produtos que utilizam o cereal, os derivados de trigo podem gerar inflação de 0,15% no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), segundo Pih.
O mercado está apreensivo com o trigo. Quanto o cereal vai subir ou cair depende dos estragos provocados pela seca na Europa, na Rússia e nos países pertencentes à antiga União Soviética.
Após acelerada alta na quinta-feira, os preços caíram forte ontem.
A elevação dos preços do trigo vai pesar no bolso dos consumidores, mas é um alívio para produtores e governo. Os agricultores atualmente recebem valores inferiores ao mínimo estipulado pelo governo.
Já o governo federal, com a alta, não terá de entrar no mercado para garantir os preços mínimos vigentes, reduzindo gastos do Tesouro.
Importador de 50% do trigo que consome, o país pagará mais pelo cereal importado, que vai influenciar também os preços internos.
Os preços do trigo contrariam as expectativas para este ano. Houve recuperação de estoques e os preços apontavam para baixo. Em junho, a Bolsa de Chicago chegou a negociar o produto a US$ 4,25 por bushel (27,2 quilos).
Nas últimas semanas, no entanto, os principais órgãos que acompanham o setor começaram a trabalhar com números de safra e de estoques bem menores.
Na mais recente avaliação mundial de safra, o Conselho Internacional de Grãos previu 651 milhões de toneladas, 13 milhões a menos do que em junho. Esse volume está próximo do que o Brasil consome anualmente.
Com essa queda, as estimativas de estoque também recuaram, para 192 milhões de toneladas. Parte do mercado já trabalha com valores inferiores a 180 milhões. As estimativas anteriores indicam 201 milhões.
A alta não é explicada, no entanto, só pelo clima, na avaliação de participantes do mercado.
Lawrence Pih, dono do Moinho Pacífico e há quatro décadas no mercado de trigo, disse que "é uma loucura nunca vista", ao se referir à disparada dos preços.
Ele é um dos que atribuem parte dessa alta aos fundos, que já colocaram em suas carteiras de negociação 30 milhões de toneladas de trigo nas últimas semanas.
Fernando Muraro, da Agência Rural, também credita parte das altas das commodities agrícolas à volta dos fundos. Segundo ele, nas últimas semanas, os fundos elevaram para 32 milhões de toneladas a compra de soja.
Veículo: Folha de S.Paulo