Alta de 11,5% é o melhor resultado desde 2001, segundo o IBGE; economistas apostam em expansão recorde no ano, o que pode estimular a elevação do juro
As vendas do comércio varejista bateram recorde no primeiro semestre, com crescimento de 11,5%, o melhor resultado desde 2001, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Todas as atividades pesquisadas registraram expansão, impulsionadas por aumento da renda, melhora no emprego, boa oferta de crédito e dólar mais baixo, que tornou mais atraentes os preços dos importados.
"Foi o melhor semestre de todos os semestres", resumiu o economista da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, Reinaldo Pereira. A expectativa de economistas é de que o bom desempenho do varejo prossiga em 2010. Alguns até apostam em alta recorde também para o ano, o que poderia estimular novas altas de juros pelo Banco Central (BC), para conter os efeitos negativos do aumento da demanda interna na inflação.
O comércio também mostrou sinais positivos em outras comparações, com alta de 1% no volume de vendas em relação a maio, e aumento de 11,3% ante junho de 2009. As taxas de crescimento elevaram o otimismo de analistas no mercado financeiro. "O ritmo forte e sustentável de expansão do varejo brasileiro reflete a contínua melhoria das condições macroeconômicas do País", disse o diretor da consultoria Gouvêa de Souza, Luiz Goes. Além disso, a Copa do Mundo em junho também ajudou a puxar para cima o desempenho do comércio, na avaliação de Goes.
Entre os aumentos no volume de vendas do comércio no primeiro semestre, o setor de hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo foi destaque absoluto, com alta de 10,4% nas vendas nos primeiros seis meses do ano. "Com certeza este setor foi o que comandou o resultado do semestre", disse o técnico do IBGE.
Os preços dos alimentos subiram abaixo da média da inflação varejista, o que aumentou o ritmo de compras nos supermercados. Móveis e eletrodomésticos, cujas vendas cresceram 20,6% no primeiro semestre, também puxaram para cima o comércio.
Para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC, Carlos Thadeu de Freitas, as vendas no varejo caminham para alta recorde de 10% este ano. "O mês de junho mostrou que a acomodação da economia brasileira no fim do segundo trimestre não influenciou muito os resultados de comércio" disse. "Os dados favoráveis de preço e dólar barato estão favorecendo as vendas", completou.
O superintendente de Economia e Pesquisas da Fecomércio-RJ, João Carlos Gomes, também aposta em alta entre 9% e 10% no faturamento do comércio este ano. No entanto, fez uma ressalva: em junho, por causa do fim da redução do IPI para automóveis, que durante meses reduziu o preço dos automóveis, as vendas de veículos, motos, partes e peças caíram 0,6% ante maio, e 9,5% ante junho do ano passado.
Juros. As boas perspectivas no comércio varejista, que refletem um mercado interno aquecido, podem influenciar a trajetória futura de juros. Para o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, o cenário no comércio poderá fazer com que o BC tenha de elevar a taxa de juros (Selic) em 2011.
Atualmente, a Selic está em 10,75%. "A dinâmica da economia é ainda forte, o que significa que há um ajuste (na Selic) sendo postergado para o ano que vem", disse Camargo Rosa.
Veículo: O Estado de S.Paulo