O Brasil encara novos recordes

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O Natal de 2010 será o melhor da história e 2011 começará aquecido. Com perspectivas tão favoráveis, as empresas já preparam operações de guerra para não perder essa onda

 

Nas próximas semanas, o pátio da TNT Logística, em São Paulo, estará mais movimentado do que de costume. Além do vaivém das 2,5 mil carretas próprias da frota da empresa, outros dois mil caminhões terceirizados ajudarão a distribuir mais de 160 mil toneladas de mercadorias em todas as regiões do País.

 

Mesmo assim, esses veículos extras podem não dar conta do recado. Um conjunto de indicadores da economia brasileira – entre eles o aumento do crédito, o ritmo de expansão do PIB na casa de 8%, o avanço da renda e o crescimento consistente do consumo – desenha no horizonte o melhor fim de ano da história tanto para a indústria quanto para o varejo e, na ponta, para o consumidor.

 

De olho nesse cenário, os empresários já estão se preparando. O ambiente de vigor econômico fez com que a TNT, por exemplo, ampliasse de 15% para 40% a projeção de crescimento das encomendas neste último trimestre e colocasse em prática um plano emergencial de operação.
 


“O ritmo está impressionante. Colocamos veículos adicionais, ampliamos os pátios e implementamos um processo de etiquetagem com códigos de barras dos produtos para agilizar a movimentação e evitar gargalos”, detalhou o presidente da empresa, Roberto Rodrigues. “É uma questão de eficiência e, ao mesmo tempo, de urgência”, completou o executivo.
 


O senso de urgência do presidente da TNT reflete a realidade empolgante e, ao mesmo tempo, desafiadora para diversos setores da economia, entre eles a construção civil.
 


A Construtora Rossi, ao perceber que as vendas rodam num ritmo 40% superior a 2009, decidiu criar sua própria imobiliária. “Recrutamos 700 corretores e queremos até abrir estandes de vendas em shoppings”, afirmou o diretor nacional de vendas, Marcos Adnet.
 


No campo da construção, alguns exemplos beiram o extremo. O empresário carioca Carlos Conde, dono da Concal Construtora, no mês passado se viu forçado a buscar na China, a toque de caixa, uma grua gigante – um tipo de guindaste para movimentação de materiais pesados dentro do canteiro de obras – porque todos os aparelhos existentes no Brasil já estavam em uso.
 


O equipamento era fundamental para acelerar a construção de um condomínio residencial em São Cristóvão, zona norte da capital fluminense. Diante da surpreendente demanda, ele não teve opção.  “Um dos prédios foi totalmente vendido em apenas um final de semana, antes mesmo de concluirmos a montagem do estande de vendas”, disse, sorrindo, o empresário carioca.

 

O sorriso faz todo o sentido. Segundo o Sinduscon, a indústria da construção cresceu 15,7% no primeiro semestre e, a julgar pelo atual ritmo das vendas, fechará o ano com expansão acima de 20%. “O desafio não é crescer, mas como sustentar esse crescimento”, disse o presidente, Sergio Watanabe.
 


Assim como a construção civil, a indústria automobilística aposta no melhor fim de ano da história. As linhas de montagem no País, sem exceção, hoje estão com força máxima para abastecer as concessionárias e, em paralelo, garantir um estoque seguro para as vendas promocionais do último trimestre, tradicionalmente o melhor período para o mercado automotivo.
 


Para o presidente da Fiat, Cledorvino Belini, que também dirige a Anfavea, a associação que representa o setor, as montadoras do País estão engordando os pátios, acima dos estoques reguladores criados nos anos anteriores, para evitar filas de espera ou falta de modelos.
 


“Nossa estimativa de crescimento de 6,5% na produção deste fim de ano com certeza será superada. Ampliar os estoques é fundamental. Não podemos perder fôlego”, afirmou Belini à DINHEIRO.

 

A projeção, de fato, é modesta. A fábrica da Nissan, no Paraná, registrou neste ano aumento de 88% nas vendas. “Não será difícil dobrar as vendas nos próximos meses em relação a 2009, que já havia sido recorde. Para isso, estamos expandindo a produção e ampliando os estoques”, disse o diretor de vendas, Murilo Moreno. “A conjuntura da economia e o crédito empurram a expansão.”
 


Esse mesmo crédito que leva a Nissan e a indústria automobilística a recordes históricos de vendas e produção alimenta as linhas de produção da Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul.
 


A maior fabricante nacional de linha branca prevê renovar o recorde do final de 2009. “Trata-se de um momento histórico. Devemos vender até 20% acima do volume do final do ano passado, que havia sido o melhor de todos os tempos”, disse Sergio Leme, diretor nacional de vendas. “Achamos que a volta do IPI derrubaria as vendas. Foi o contrário”, completou o diretor de assuntos corporativos, Armando Ennes do Vale.
 


Mais carros, geladeiras e fogões nas casas dos consumidores significa maior produção de aço nas siderúrgicas. O Instituto Aço Brasil afirma que o consumo interno da matéria-prima está hoje cerca de 25% acima do registrado no ano passado, e deve encerrar o ano próximo a 30%.
 


Não por acaso, a Usiminas, a maior fornecedora de aço para os setores da construção e automobilístico da América Latina, por determinação do presidente Wilson Brumer, decidiu, semanas atrás, engordar os estoques e orientar os distribuidores a fazer o mesmo – tudo para evitar surpresas em caso de aumento dos pedidos.
 


“Setores como construção civil, automobilístico e de indústria ligada à infraestrutura continuarão garantindo a demanda de aço nos próximos meses”, afirmou o executivo. A pujança do setor siderúrgico poderia descrever também a indústria do turismo.
 


A operadora Agaxtur registrou até agora aumento de 25% na procura por pacotes para o final do ano. A empresa tem buscado parcerias com hotéis e companhias aéreas para ampliar a oferta e reduzir preços.
 


Em situação semelhante, a CVC neste ano fretou 180 voos a mais por semana para garantir as férias de fim de ano. Resultado: para alguns destinos no Nordeste e América do Sul já não existe disponibilidade.
 


Os exemplos, evidentemente, falam por si, mas poucos setores simbolizam tão bem as boas perspectivas econômica para o final do ano quanto o do varejo. As três maiores redes do País, Carrefour, Walmart e Pão de Açúcar, apostam em aumento acima de 30% nas vendas do último trimestre, e já se preparam para a festa do consumo.
 


Além de fatores como emprego e crédito, a questão cambial amplia a concorrência nas gôndolas, segundo o diretor de importação e exportação do Grupo Pão de Açúcar, Sandro Benelli.
 


Na semana passada, a rede encomendou mais de 1,5 milhão de brinquedos da China, ancorada na aposta de aumento de 150% nas vendas de bonecas e carrinhos eletrônicos. “O preço do frete, ainda mais baixo do que no período pré-crise, dólar estável e ampliação das opções importadas nos levam a acreditar que teremos um crescimento bem acima de 30%”,  destaca Benelli.
 


Por trás do sorriso há uma nova realidade econômica se impondo – surpreendente para alguns empresários, prevista para outros –, mas que traz uma conclusão óbvia: se o País mantiver o passo, novos recordes serão inevitáveis em quase todos os setores da economia.
 

 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro

 

 


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