Fornecedores de refeição coletiva investem para atender pré-sal

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Servir refeições frescas e saudáveis em plataformas petroleiras e navios na área do pré-sal, a 300 km da costa, é uma operação complexa. Não dá para mandar buscar um ingrediente hoje para o almoço de amanhã - além de o armazém mais próximo estar a 48 horas de barco, o abastecimento é feito apenas uma vez por semana.

 

Os alimentos seguem frescos, embalados a vácuo ou congelados em contêineres com compartimentos de diferentes temperaturas, controladas eletronicamente. É preciso ter duas equipes idênticas que se revezam. Cada grupo trabalha 14 dias e folga outros 14. Como os funcionários são transportados de helicóptero, se o tempo fecha, a troca de turno é adiada e pagam-se horas-extras.

 

A despeito disso, ninguém quer ficar de fora. A paulista Nutrin acaba de estrear no segmento com a compra, este mês, de 51% da Elasa, que atende cinco plataformas da Petrobras em Macaé, no Rio de Janeiro e pertence ao grupo mineiro Alimenta. Ao mesmo tempo, as quatro maiores empresas do setor de refeições coletivas no Brasil, que já operam nesse nicho, se movimentam para ampliar operações. A GRSA está investindo R$ 1,5 milhão em um centro de armazenagem também em Macaé e a Gran Sapore planeja aquisições. A Puras e a Sodexo esperam expansão de até 30% na receita da área.

 

"O pré-sal muda a história do segmento", diz Renato Melo, gerente-executivo regional de "offshore" (jargão para o serviço em alto-mar) da Puras. "Há uma expectativa de crescimento muito grande". A empresa gaúcha, que projeta um faturamento total de R$ 1,2 bilhão este ano, é uma das pioneiras na área entre as grandes do setor. Começou em 2003 e hoje seu centro de distribuição (CD) em Macaé, de onde saem os produtos usados nas plataformas, é o maior dos dez da companhia no país. São 24 unidades marítimas atendidas no litoral do Rio de Janeiro, do Espírito Santo e de Santa Catarina, operadas pela Petrobras e por companhias estrangeiras, como a norueguesa StatoilHidro.

 

A área vinha crescendo de 15% a 20% ao ano na Puras e o ritmo deve ser acelerado daqui para frente. "Compramos mais contêineres, temos novos contratos em análise e acredito que até 2015 vamos atingir a capacidade de nosso CD, para atender até 40 plataformas. Aí teremos de fazer parcerias ou investir mais", diz Melo, que começou nesse nicho há 25 anos, numa empresa regional, e está na Puras há 5. A experiência conta, uma vez que o segmento "offshore" tem peculiaridades que o diferenciam do atendimento corporativo em terra. É chamado de "hotelaria marítima": além das refeições o fornecedor fica responsável por serviços de limpeza, conservação, lavanderia e até por opções de entretenimento, como sessões de cinema.

 

Justamente para adquirir esse know-how, a Nutrin decidiu entrar nesse mercado via aquisição. Segundo o presidente da companhia, Aderbal Nogueira, foram investidos R$ 2,5 milhões na compra da fatia majoritária da Elasa. "Queremos entender mais da operação e, no futuro, temos intenção de comprar os outros 49%", afirma. O negócio vai adicionar R$ 13 milhões ao faturamento da Nutrin, que deve atingir R$ 200 milhões.

 

A área promete mais movimentações. A Gran Sapore pretende mais que triplicar o faturamento obtido com esse segmento, de R$ 12 milhões com o atendimento a três embarcações, para R$ 40 milhões em 2011, e estuda aquisições de concorrentes menores. "Temos algumas empresas em vista. É uma forma de acelerar o crescimento nesse segmento", diz Fabio de Medeiros, diretor comercial da companhia que este ano projeta receita total de R$ 900 milhões. "As grandes operações no pré-sal devem começar no ano que vem", acrescenta.

 

É para se preparar para esse novo boom que a GRSA investe num centro de armazenagem em Macaé, que deve ficar pronto em dois meses. A empresa vem trabalhando com um operador terceirizado para o abastecer seus cinco "restaurantes flutuantes". "O pré-sal traz mais operadores [do setor de petróleo] para a região e ter uma base fixa otimiza nossas oportunidades", diz Eurico Varela, presidente da GRSA, do grupo inglês Compass, que atua nessa área em regiões como Alasca, Golfo do México, Índia e Austrália.

 

O fato de ser uma multinacional pode ajudar na conquista de clientes que já contratam os serviços no exterior e estão sendo atraídos pelas descobertas no litoral brasileiro. A francesa Sodexo também se beneficia dessa característica. Há dois anos, a filial brasileira passou a atender a norueguesa Seadrill, como parte de um contrato global. Montou uma sede logística, mandou funcionários para treinamento no Golfo do México e em Cingapura e hoje fornece para oito unidades marítimas no Rio e no Espírito Santo. Este ano, prevê alta de 25% a 30% na receita do segmento.

 


Veículo: Valor Econômico


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