O varejo, que se mantém otimista com as vendas de modo geral até o fim do ano, investe em facilidades e promoções de vendas para os equipamentos de linha branca, com vistas a que o segmento turbine as expectativas de crescimento de até 10% nas vendas deste Natal. Os dados, divulgados pelo Programa de Administração de Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (FIA), apontam que a intenção de compra do consumidor para a linha branca caiu mais de 10%. Especialistas acreditam que o aumento do crédito por parte dos varejistas, somado ao crescimento de aquisição da classe C deva resultar em recuperação do setor até o final de 2011.
De acordo com dados da Media Control GFK International, as vendas do setor de linhas brancas caíram 7% no terceiro trimestre de 2010 no comparativo com o mesmo período do ano anterior. Os refrigeradores foram os produtos que apresentaram maior queda no período, atingindo 10% seguidos de perto pelas maquinas de lavar roupa com 9% e os fogões com 4% de queda.
O motivo da queda, para o professor Carlos Sanches, da Universidade Metodista de São Paulo, foi a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). "Depois do superaquecimento das vendas da categoria com a redução do IPI promovido pelo governo brasileiro em 2009, o mercado de linha branca já apresenta redução de vendas no segundo trimestre de 2010 com o fim deste beneficio. No primeiro trimestre ainda apresentou sinais positivos", disse.
Os números da consultora alemã GFK apontam que, no terceiro trimestre de 2009 foram vendidos R$ 4,6 milhões em linha branca, no terceiro trimestre de 2010, o número foi de R$ 4,3 milhões. "É uma queda considerável, não pelo número em si, mas pelo otimismo do resto do mercado varejista, que não encontra muitos pontos de retração", conforme analisou o acadêmico.
De acordo com os números liberados pelo Provar, o consumidor prevê gastar com linha branca, até o final do ano, em média R$ 974, o que representa 24,5% a menos do que a previsão do último trimestre de 2009, quando a intenção era gastar R$ 1290.
Para reverter este dado, as grandes varejistas apostam na ampliação do prazo médio das vendas, que já vem subindo consideravelmente.
Financiamento
Conforme os dados do Banco Central, em agosto, o prazo médio de financiamento para pessoa física ficou em 536 dias. O número é 11% maior na comparação com o mesmo mês de 2009, quando o prazo médio de vendas foi de 481 dias. "Hoje percebemos uma tendência do consumidor em ter mais preocupação com o prazo médio do crédito do que com a renda efetivamente", afirmou Cláudio Felisoni, presidente do Provar.
De acordo com os números da pesquisa divulgada pelo instituto, cada 1% de alteração no prazo médio de crédito para o cliente, resulta em 0,44% nas vendas. No ano passado essa relação era de 0,28% de alteração nas vendas para cada 1% de oscilação do prazo.
De olho nos números, alguns dos grandes varejistas já optaram pela ampliação do crédito, visando às vendas do 4º trimestre. "Nunca oferecemos um prazo sem juros tão longo. Esses planos são inéditos", afirma o diretor de Negócios do Carrefour Soluções Financeiras, Ricardo da Cruz Barreto.
Desde setembro, mês de aniversário da companhia, a rede parcela no cartão de crédito próprio os eletrodomésticos da linha branca em 30 meses sem juros, aparelhos de áudio e vídeo em 24 meses e itens de informática em 18 meses. Os resultados foram tão favoráveis que a rede decidiu estender essa condição de pagamento até o fim do ano.
Por ocasião também do seu aniversário, comemorado neste mês, o concorrente Walmart começou em outubro a dividir em até 12 meses sem acréscimo o pagamento de uma lista produtos de linha branca. A facilidade inclui não apenas produtos das lojas físicas, mas também as vendas on-line. No Extra, os eletroeletrônicos também são financiados com prazos que chegam a 18 meses no cartão próprio.
Já no Ponto Frio a condição de um ano e meio para pagar com cartão da rede vale só para produtos anunciados. Enquanto isso as Casas Bahia oferecem os prazos mais curtos em relação à concorrência: cinco vezes sem juros no cartão próprio e dez vezes, sem acréscimo, nos cartões de crédito tradicionais.
Além da possibilidade no aumento das vendas, Sanchez ressalta a confiança do consumidor como agente motivador das redes. "O aumento do crédito, das parcelas, a diminuição de juros deve-se mais a confiabilidade na economia brasileira do que na necessidades de vendas", disse.
Mais lembradas
De acordo com os dados do Provar, as marcas mais lembradas pelo público que possui interesse em comprar linha branca são Casas Bahia, Ponto Frio e Magazine Luiza. Para Felisoni, o número nem sempre representa mais ou menos vendas das redes. "Esse número quer dizer que estas são as marcas mais lembradas pelo consumidor, talvez por popularidade, ou informação. Mas não quer dizer que a compra será efetivada em um ou outro local", disse.
Outro fator importante, para Felisoni, é que estas marcas estão atendendo cada vez mais a classe C, o que fomenta uma rotina diferente de venda. "A classe C hoje compra mais, mas compra mais lentamente. Compra menos vezes por ano, parcela mais. Já é um grande avanço, visto que antigamente a classe não consumia tanto", disse.
As redes varejistas querem retomar a força de vendas de itens de linha branca (geladeiras, fogões e máquinas de lavar) depois de constatar queda de até 10%, em alguns casos, ao fim da redução do imposto sobre produtos industrializados (IPI), este ano.
A meta do varejo são promoções que turbinem até 10% as vendas neste Natal, já que as vendas de linha branca caíram 7% no terceiro trimestre de 2010. Agora a guerra será pelo crédito. "Nunca oferecemos prazo sem juros tão longo: esses planos [até 30 meses] são inéditos", diz o diretor de Negócios do Carrefour Soluções Financeiras, Ricardo Barreto. O Walmart também começou a dividir em até 12 meses. O Extra mira os eletroeletrônicos, agora financiados em até 18 meses, no cartão próprio.
Depois da casa própria, classe C quer linha branca
Com a redução do IPI a classe se C volta-se mais uma vez para o sonho antigo de ter uma casa própria. Segundo a empresa de informação e estratégia Quorum Brasil, a casa própria é o maior desejo da classe D, ou seja, há uma enorme demanda reprimida. Atingido este principal desejo, o complemento ideal é comprar o primeiro automóvel. Esta é a classe do "eu também quero", que depois da classe C virá para conquistar seu espaço.
Devido a essa tendência, especialistas apontam que a compra de produtos como fogão, geladeira e micro-ondas deve entrar em breve na lista de compras da classe D. "À medida que a economia se firma no Brasil, e projetos como o 'Minha Casa Minha Vida' se consolidam, o varejo entra no embalo e proporciona recheio para as novas residências adquiridas", afirmou Carlos Sanhez, da Universidade Metodista de São Paulo.
De acordo com o acadêmico, a expectativa de ascensão da classe C e D é tão grande que os reflexos já serão vistos em 2011. "Acredito que, até o fim do ano que vem, o final da classe C e o começo da classe D já estejam consumindo linha branca, e isso irá recolocar o setor entre os mais fortes do mercado", disse.
Veículo: DCI