Por que o Wal-Mart foi às compras na África

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É mais uma manhã ensolarada de domingo e os porta-malas dos carros estão abertos, prontos para serem carregados pelos sul-africanos que retornam das compras.

 

"Fazer compras? É, as pessoas aqui adoram", diz uma vendedora do departamento de eletrônicos da varejista de desconto Makro, subsidiária da Massmart Holdings Ltd. "No meio do dia", diz, "há um estouro de gente atravessando as portas."

 

Cenas parecidas por toda a África do Sul ajudam a explicar por que a rede varejista americana Wal-Mart Stores Inc. está estudando fazer uma oferta de 32 bilhões de rands (US$ 4,63 bilhões) para mais de 50% da Massmart, que opera lojas do tamanho de armazéns onde se vende desde comida e bebida atá roupas, equipamentos de ginástica e artigos de decoração. O Wal-Mart está agora na quinta semana de inspeção do Massmart. Executivos estão inspecionando cada uma das 228 lojas do Massmart, que estão localizadas em 14 países africanos, embora a maioria fique na África do Sul.

 

Se a empresa for adiante com uma oferta formal, a aquisição será a maior dela em mais de dez anos. Também dará ao Wal-Mart uma vantagem na África Subsaariana sobre os rivais europeus Carrefour SA e Tesco PLC, que não têm nenhuma loja lá.

 

O Carrefour tem supermercados em Marrocos, Egito e Tunísia com sócios, mas a porta-voz Amandine Cuinet não quis comentar a estratégia da empresa francesa para o resto do continente. A Tesco também se negou a comentar sobre mercados nos quais não opera.

 

Os sindicatos de trabalhadores da África do Sul se pronunciaram contra a potencial chegada do Wal-Mart, mas o país parece oferecer um terreno mais amistoso e familiar do que a China e a Índia, onde o Wal-Mart fez incursões anteriores.

 

Para começar, a África do Sul entrou na onda dos shopping centers. Eles pipocam nas cidades, subúrbios e, cada vez mais, nas áreas urbanas onde uma nova e cada vez mais afluente classe média negra emergiu na última década. Em áreas como Soweto, no sul de Joanesburgo, megashoppings basicamente substituíram os camelôs.

 

"Há uma nova classe média de consumidores informados", diz Simon Susman, o diretor-presidente da varejista de roupas, utensílios e alimentos Woolworth Holdings Ltd. "Um shopping center da África do Sul não é muito diferente de um shopping australiano ou de um britânico."

 

O próprio Massmart cresceu por meio de aquisições, explica seu diretor-presidente, Grant Pattison. Fundado com o Makro e seis lojas em 1990, ele comprou uma série de outras marcas, como a rede de lojas de eletrônicos Dion, em 1993. No ano passado comprou a Cambridge Foods, uma cadeia de supermercados de baixos preços que atende aos milhões de sul-africanos de baixa renda que têm de se transportar para o trabalho de suas áreas urbanas e vilarejos. Se o negócio for realizado, o Wal-Mart deve manter a diretoria do Massmart para guiar sua entrada no continente.

 

"A África do Sul o força à rota das múltiplas plataformas", diz Pattison. Décadas de regime apartheid, quando os negros eram excluídos da economia principal e dos subúrbios, terminaram em 1994. Mas o legado é uma economia de dois níveis que está acabando apenas lentamente. O país conta com a presença de multinacionais, é rico em recursos minerais e dispõe de uma classe média emergente. Mas o desemprego continua em torno de 25% da população ativa.

 

A estratégia de dois níveis permitiu ao Massmart e a outros varejistas ter bom desempenho mesmo quando o resto da economia não foi bem. Nos 12 meses até junho, o Massmart conseguiu aumentar sua receita em 10%, para 47,55 bilhões de rands, embora o país tenha continuado a perder empregos.

 

O Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos, a maior confederação do trabalho do país e aliada política do Congresso Nacional Africano, o partido do governo, afirmou que vai combater a "walmartização" do setor varejista. Mas Andy Bond, um ex-diretor-presidente da Asda, subsidiária britânica do Wal-Mart, que está comandando as negociações para a empresa americana, disse que o Wal-Mart vai trabalhar com os sindicatos existentes do Massmart.

 

Pattison diz que os sindicatos têm uma forte posição no país e as leis trabalhistas são muito claras, algo que não mudaria com o controle estrangeiro do Massmart.

 

Naturalmente, o Wal-Mart não conseguiu sempre acertar na sua expansão para novos mercados. Em 2006, teve de abandonar sua operação alemã depois de passar oito anos tentando se firmar num dos ambientes varejistas mais competitivos da Europa. Na mesma época a empresa saiu da Coreia do Sul.

 

Um desafio agora é que, apesar de todo seu potencial, a África do Sul continua sendo um mercado relativamente pequeno, de cerca de 50 milhões de pessoas. Mas o Wal-Mart vê o país como porta de entrada em outro enorme mercado continental. "É preciso adotar uma visão de longo prazo na África", diz Pattison.

 

 
Veículo: Valor Econômico


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