Mesmo com a expectativa de alguns varejistas em fechar as vendas do Dia da Criança até 20% maiores em relação ao mesmo período do ano passado, o comércio, de maneira geral, está receoso quanto às compras e o desempenho para o Natal deste ano, devido aos impactos da crise internacional, e ao arrocho com relação ao crédito. A última data forte antes do Natal está sendo encarada por muitos como uma prova de fogo, que determinará o ritmo nas vendas de final de ano, que chegam a representar até 20% do faturamento anual de algumas companhias.
De maneira geral, os segmentos mais beneficiados com a data sazonal foram os de brinquedos e vestuário, entretanto, nos últimos anos, os varejistas que comercializam eletrônicos e celulares também têm aumentado os ganhos. Para pegar carona na data, a Casas Bahia, maior rede de eletroeletrônicos e móveis do País, começou a vender, em São Paulo, brinquedos, que nas lojas de Santo Amaro, centro popular de compras na zona sul paulistana, ganharam destaque em ilhas no centro do ponto-de-venda.
Segundo um funcionário que preferiu não se identificar, as vendas desses produtos foram satisfatórias, sendo os celulares e o Playstation 2 seguiram esse caminho. Ao que parece, a líder do setor está no rastro dos passos do Magazine Luiza, recém-chegada à capital paulista, cujas vendas de itens infantis também são fortes no período.
Na mesma região da Casas Bahia, as varejistas Ponto Frio e Lojas do Baú Crediário registraram alta de 20% na venda de celulares e eletrônicos. "Desde quinta-feira precisamos repor o estoque várias vezes, pois houve alta demanda pelo Playstation 2, vendido por R$ 500", disse Carlos Egídio, subgerente da Lojas do Baú, pertencente ao Grupo Sílvio Santos. A loja foi remodelada em janeiro, desde que a holding decidiu acelerar sua expansão no varejo. A respeito do volume de vendas para o final de ano, Egídio acredita que poderá acontecer uma leve retração . "É difícil precisar, mas a tendência é que os juros aumentem, fator que pode inibir inicialmente novos gastos dos clientes, principalmente os de baixa renda", disse o subgerente. Nas Lojas do Baú, a taxa de juros está entre 3% e 5%.
A rede de vestuário de calçados Besni, com aproximadamente 30 lojas no Estado de São Paulo, é outra que estava com o setor infantil movimentado, mas deve um desempenho menor. Na loja do Largo Treze, também Zona Sul da capital, um funcionário disse que "o consumidor está realmente com o pé atrás, devido à crise". As vendas no setor infantil deverão crescer até 5% no período.
Multidão
A região da 25 de Março, no centro de São Paulo - que fatura anualmente R$ 16 bilhões, segundo pesquisa da InterScience -, atraiu 1,3 milhão de pessoas na véspera do Dia da Criança. Conhecida como a "Meca" dos importados, a região espera vendas até 10% maiores na comparação com 2007, apontou a União de Lojistas da 25 de Março (Univinco). Como os importados representam cerca de 65% dos produtos, Pierre Sarruf, diretor da Univinco, acredita que as vendas de Natal sejam afetadas. "Trabalhamos para que o crescimento nas vendas de final de ano tenham, no mínimo, até 5% de crescimento. A maioria dos produtos foi nacionalizada antes da crise, mas existe o efeito psicológico no comprador", avaliou Sarruf.
Cautela
Em entrevista ao DCI, David Bobrow, presidente da Tip Top, marca voltada para o público infantil da TDB Têxtil, afirmou que "as empresas ficaram mais cautelosas neste último mês, tanto que multimarcas e magazines estão segurando ao máximo as compras para o final de ano. A estratégia é ver como será o desempenho no Dia das Crianças para fazer novas encomendas". Bobrow, que planeja para este ano seis filiais e tem a ambição de atingir 100 lojas em cinco anos, crê que até o ano que vem poderá ocorrer queda no consumo e que o cenário preocupa bastante seus clientes. Mas em meio à hostilidade econômica, as vendas nas lojas deverão ser 20% maiores que o mês passado.
A tormenta pela qual passa a economia mundial fez, inclusive, que o empresário revisse para baixo a projeção de crescimento da TDB Têxtil. "Antes da crise, projetávamos crescimento de 8% para 2009, agora abaixamos o numero para 5%. O cenário econômico almejado para o ano que vem era um Produto Interno Bruto de (PIB) de 4% e inflação de 5%", explicou o presidente.
Tradicional escolha das crianças nesta época, as empresas do setor de brinquedos viram um tíquete médio menor nas vendas em relação a 2007, motivado pelo volume de compras à vista, como a rede BMart Brinquedos, com duas lojas no Shopping Center Norte, maior centro de compras da zona norte da capital. A gerente Wera Lucia Castro afirma que o tíquete médio deste ano quase 30% menor que o ano passado. "Apesar de pais gastarem cerca de R$ 80 este ano, encerraremos a data com 20% a mais de vendas." Para ela, as vendas no Natal poderão ser menores, pois parte das mercadorias ainda não foi comprada.
Na rede concorrente, a PBKIDS Brinquedos, o gerente comercial Renato Floh, afirmou que o preço dos produtos importados vendidos nesta data não sofreram alta, pois foram recebidos há dois meses. A rede crê que seu tíquete cresceu 5%, fechando a R$ 110, e as vendas foram 11% maiores.
Menos otimista que as empresas, com o cenário atual, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) crê que o setor alcance ganhos com as vendas no período envolvendo o Dia da Criança só até 5% maiores frente a 2007. Para Emílio Alfieri, economista da entidade, "este é um teste importante, pois, se o desempenho for bom, sinaliza que haverá fôlego às vendas de Natal", analisou.
Mesmo com algumas varejistas contabilizando alta de até 20% nas vendas na data sazonal, o setor permanece em estado de alerta com as vendas para o Natal, devido a indícios de que haverá maior queda no consumo
Veículo: DCI