Redes de varejo mantêm planos, apesar dos riscos

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Magazine Luiza, Renner, Ponto Frio e Ricardo Eletro não pretendem frear os investimentos nem em 2009

 

Pego no contrapé pela crise financeira, o mercado varejista de bens duráveis protagoniza uma estranha expansão em grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, sem ter ainda a exata noção do que pode representar esse movimento. Grandes redes de eletrodomésticos, como Ponto Frio, Ricardo Eletro e Magazine Luiza - que aproveitaram o segundo semestre, o período mais aquecido das compras, para pôr em prática a ampliação das atividades - nem sequer tiveram tempo de reavaliar investimentos e apostam num fim rápido para a crise. Por enquanto, decidiram apostar e manter também a programação prevista para 2009.

 

No centro do bombardeio de informações, que aponta um cenário nebuloso para a economia, o consumidor também parece ainda perdido e indeciso. “Tenho olhado muito por aí, mas posso esperar para ver o que vai acontecer até o final do ano”, comentava, na sexta-feira, a aposentada Guilhermina Couto, diante de uma fila de fogões em oferta numa loja do centro do Rio. Ela pretende fazer a compra à vista, para fugir dos juros, que já aumentaram.

 

Os preços dos eletrônicos estão entre 5% e 10% mais caros no mercado, informa o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula. “Os juros subiram e, se o varejo está repassando ou não, é uma questão de tempo. Com relação a preços, a indústria vai repassar entre 5% e 10%, obrigatoriamente. O dólar inverteu (a cotação em relação ao real) em questão de dias. O reajuste é prudente, até para que freie um pouco mais (o consumo)”, considera.

 

Antes da virada no cenário, marcada pela quebra do Banco Lehman Brother, grandes redes de varejos esbanjavam investimento. Em apenas um dia, a Magazine Luiza inaugurou 44 lojas em São Paulo. A Ricardo Eletro abriu oito no Rio e as Lojas Renner comprou a Leader, com 39 lojas, elevando a sua rede para 133.

 

Segundo consultores, 2009 será um ano bem diferente. “Eles vão puxar realmente o freio de mão, não vão ficar com essa euforia toda. Com certeza, esse movimento de aquisições vai parar. Com essa loucura que está aí, vão segurar dinheiro. Os bancos vão pisar no freio, ninguém tem dinheiro sobrando”, avalia Marco Quintarelli, fundador da consultoria Quintarelli Solutions. Para ele, 2009 será o ano de trabalhar nas lojas inauguradas para seduzir clientes de outras redes, já que não deve haver grandes planos de expansão.

 

O coordenador-geral do Programa de Administração de Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração, Claudio Felisoni, avalia que os planos de expansão de redes como a Magazine Luiza foram feitos “na hora errada”. Para ele, em 2009 as empresas vão por o pé no freio. “Os planos de expansão podem não se dar na mesma velocidade que estavam imaginando; existe probabilidade de os planos serem retardados”, diz.

 

O administrador de empresas Ivo Campos pesquisava, nesta semana, preços de geladeiras, que planeja pagar à vista, também para fugir dos juros. Ele já pensa em desistir, se a crise mundial piorar e os juros e preços aumentarem mais. “Posso esperar um pouco mais com a geladeira velha mesmo.”

 

Felisoni confirma que os preços dos bens duráveis já estão em elevação, por conta da valorização do dólar, aumento da taxa de juros e redução de crédito, com diminuição dos prazos de pagamento.

 

PLANOS MANTIDOS

 

Até o crescimento das vendas do varejo de eletrodomésticos, que nos últimos três anos ficou em 15%, em média, alcançando um movimento anual de R$ 70 bilhões, deve recuar para entre 8% e 10% em 2009, estimam especialistas. Mesmo assim, os planos de expansão para 2009, garantem executivos, estão mantidos, a não ser que haja um agravamento da crise.

 

“O freio que a gente está colocando é mais critério na concessão de crédito para o consumidor, porque o risco aumentou no País. A gente está com um pouco mais de parcimônia na concessão de crédito”, admite o presidente da Ponto Frio, Manoel Amorim. Segundo ele, ao cortar pela metade a oferta de itens parcelados em até 10 vezes sem juros, a rede preserva o fluxo de caixa.

 

Amorim não estimou qual foi o aumento de juros nos produtos parcelados no carnê. Não foram informadas as taxas de antes e depois da crise. Por outro lado, disse que a rede aumentou sua parcela de clientes com cartão de crédito com bandeira própria, cujos juros no parcelamento das compras recuaram. “No início do ano, em janeiro, praticamente 100% das vendas financiadas eram com carnê, mas hoje essa parcela caiu para 30%. Os outros 70% são com cartão de crédito que nós emitimos. Aí tenho taxas de juros muito mais baixas”, disse.

 

Recém-chegada ao Rio, a rede mineira Ricardo Eletro, que tem atuação nacional, ainda não mudou a política de juros e prazos de financiamento. Tampouco revisou os planos de expansão. Mas o proprietário do grupo, Ricardo Nunes, admite o clima de apreensão. “Tem que esperar para ver o que vai dar. A gente acha que não vai atrapalhar o nosso crescimento, mas, caso haja algum reflexo no ano que vem, a vantagem nossa é que podemos parar a hora que quisermos. A gente pode pisar um pouco no freio e dizer: não vamos crescer agora, vamos segurar”, afirmou Nunes.

 

Apesar do clima de desconfiança, duas das maiores redes de varejo de eletrodomésticos garantem que planos de expansão estão mantidos para 2009. A Ponto Frio iniciou este ano com 427 lojas e vai encerrá-lo com 477. Para 2009, o presidente da rede anuncia outras 70 unidades, num investimento de quase R$ 50 milhões. A Ricardo Eletro fecha este ano com 250 unidades e quer mais 30 ano que vem, num investimento de cerca de R$ 30 milhões.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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