O feijão atingiu em outubro o posto de maior inimigo do bolso do consumidor no ano. O aumento médio do preço do grão, nos dez meses, foi 23 vezes superior à inflação acumulada no mesmo período no Grande ABC. Ao todo, o preço da leguminosa subiu 107,61% neste ano, passando de R$ 1,97 em dezembro do ano passado para R$ 4,09 no fim de outubro, em média.
A informação refere-se ao cruzamento dos dados da pesquisa semanal da cesta básica feita pela Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) com o IPC-USCS (Índice de Preços ao Consumidor da região da Universidade Municipal de São Caetano) e coincide com o resultado do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), divulgado ontem do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Pelo indicador nacional, o item que representa o feijão- carioquinha, o mais consumido no Estado, mais que dobrou de preço, acumulando alta de 109,78%. Já considerando todos os tipos de feijão integrantes da pesquisa, a variação foi de 23,48% em outubro e de 76,74% no ano.
Apesar de registrar a maior alta de um alimento no ano, a perspectiva, segundo o Ibrafe (Instituto Brasileiro do Feijão) é de que o grão siga em escalada até janeiro, quando o mercado recebe nova safra da leguminosa. Para o presidente da entidade, Marcelo Luders, a alta acontece pela falta de subsídio governamental aos agricultores, que tiveram dificuldade em vender sacas restantes no início deste ano.
"O governo não deu suporte para o produtor e não estimulou o plantio em janeiro. Depois disso, tivemos problema com o clima e, agora, paga-se caro porque o consumidor não quer o feijão mais escuro, que é o que temos estocado", explica.
No entanto, Luders atesta que esta não é a primeira vez que o item atinge índices astronômicos e torna-se produto de luxo na mesa do consumidor. "Em 2008 também chegou nesse nível. É o que chamamos de efeito manada. O preço cai muito e os produtores desistem de plantar o grão, mas, quando sobe, todos voltam a cultivá-lo. A tendência, no entanto, é de que o valor suba com mais frequência à medida que temos maior influência de fenômenos naturais de clima, que dificultam a plantação", aponta.
O engenheiro agrônomo da Craisa, Fábio Vezza de Benedetto, orienta que consumidores pesquisem antes de escolher o produto, que chega a variar 45% entre supermercados e, se possível, optem por outros tipos do grão, que tiveram menos oscilação nos valores, como o feijão-preto. "Nesse período de produto caro, não prejudica em nada diminuir o consumo. O melhor é comprar o mínimo necessário e substituí-lo pelo feijão-preto, que pode ser encontrado a preços menores e aguardar a chegada da próxima safra."
Benedetto afirma ainda que na última pesquisa feita pela Craisa, o item dava sinais de recuperação, voltando à casa dos R$ 3, com recuo de 5% em relação à semana anterior
Veículo: Diário do Grande ABC