O dono da lata

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A Novelis domina o setor de embalagem para bebidas no Brasil. Para manter o reinado da companhia, o CEO Philip Martens vem ao País e anuncia investimentos de US$ 300 milhões

 

Uma empresa quando alcança o status de a dona do segmento no qual atua normalmente tem a tendência de se acomodar e assumir uma postura arrogante. Trata-se de um dos grandes pecados do capitalismo moderno e que já levou muita gente boa à ruína, de acordo com o guru americano Jim Collins, especialista em gestão.

 

É que, para muitos executivos que se encontram nessa chamada “zona de conforto”, para se manter no mercado basta ficar sentado no escritório, esperando chegarem os pedidos. Não foi isso que fez a Novelis.

 

Única fabricante de chapas de alumínio do Brasil, a companhia desembarcou por aqui em 1977, ainda com o nome Alcan, e nunca descuidou de seu patrimônio. Muito pelo contrário.

 

Desde então, ajudou suas clientes (as empresas que produzem latas) a roubar boa parte do mercado de bebidas, antes território exclusivo das embalagens de vidro. Hoje, o alumínio responde por 94% das embalagens metálicas, seguido pelo aço com uma fatia de 6%.

 

A Novelis conseguiu esse feito graças à construção de um portentoso parque fabril em Pindamonhangaba (SP). Na quinta-feira 18, Philip Martens, presidente mundial da Novelis, visitou a unidade para anunciar mais uma rodada de investimentos para ampliação da planta.

 

Dessa vez, no valor de US$ 300 milhões. Trata-se do segundo maior desembolso já feito na fábrica. Com isso, será possível aumentar em 50% sua capacidade produtiva anual, das atuais 400 mil toneladas de folhas de alumínio para 600 mil toneladas.

 

“O Brasil é nossa prioridade, pois é aqui que a companhia obtém um de seus melhores desempenhos globais”, disse Martens à DINHEIRO. No País, 73% das receitas de US$ 948 milhões, do exercício encerrado em 31 de março de 2010, foram obtidas com o setor de bebidas.

 

A visita de Martens, a terceira desde abril de 2009, quando ele assumiu o posto, dá a exata dimensão da importância do País para a empresa controlada pelo grupo indiano Hindalco Industries Limited.

 

E o Brasil é, de fato, uma das joias da coroa da maior companhia global de laminados de alumínio. E não poderia ser diferente. Ser a única fornecedora em um mercado dinâmico e em franco crescimento como o de bebidas é a certeza da continuidade dos ganhos.

 

“O Brasil está servindo de base tecnológica para nossas operações na Índia”, conta Martens. Em sua rápida passagem por São Paulo, o executivo participou de uma feira do setor, onde aproveitou para fazer contatos com clientes e aparar algumas arestas.

 

É que a elevação do consumo de bebidas, que se manteve no ritmo do verão durante todo o primeiro semestre, por conta da Copa do Mundo, pegou de surpresa os fabricantes de bebidas e as produtoras de latas. Resultado: pela primeira vez o Brasil está importando latinhas. Será 1,9 bilhão de unidades até o final do ano.

 

A companhia se exime de qualquer responsabilidade. “Temos capacidade produtiva suficiente para atender à demanda”, argumenta Alexandre Almeida, presidente da Novelis do Brasil. Tanto Almeida quanto o chefão Martens disseram que o gargalo não se deveu à falta de matéria-prima.  “Fomos pegos no contrapé”, reconheceu Rinaldo Lopes, presidente da Crown Embalagens. 

 

Para normalizar o abastecimento e garantir a demanda no ritmo esperado pelo setor de bebidas, acima de 10% ao ano, até 2015, os três fabricantes de latas (Rexan, Crown Embalagens e LatapackBall) anunciaram que farão um desembolso total de US$ 521 milhões em suas fábricas.

 

Com isso, a produção será ampliada dos atuais 16,8 milhões para 25,5 milhões de latinhas até o final de 2011, de acordo com cálculos da Abralatas, associação das empresas do setor.

 

Apesar de não considerar um problema em si a existência de um único fornecedor, Rinaldo Lopes, da Crown, diz que é consenso no mercado que caso o segmento contasse com mais jogadores seria positivo. Até porque os contratos de fornecimento de matéria-prima são fechados por prazos longos: de dois a três anos.

 

Por que ninguém se interessa em atuar nessa área? “Já questionamos diversos produtores de alumínio do Brasil e do Exterior, mas não recebemos uma resposta satisfatória”, resigna-se Renault Castro, presidente da Abralatas. Se não há respostas, existem ao menos pistas.

 

Com o investimento anunciado agora, a Novelis eleva para cerca de US$ 1 bilhão os aportes feitos no Brasil nos últimos 33 anos.  “Somos uma empresa global, acostumada com a competição”, defende o presidente mundial da Novelis. Não, pelo menos no Brasil.

 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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