Será o fim do chocolate?

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Alta demanda e falhas na produção de cacau podem fazer com que o doce mais popular do mundo se torne uma raridade em 20 anos

 

De agora em diante, um conselho: saboreie cada pedaço de chocolate que você levar à boca como se fosse o último. Para desespero dos chocólatras, pode ser que isso não seja apenas força de expressão. De acordo com especialistas no plantio de cacau e chocolatiers, em 20 anos o doce mais popular do mundo poderá ser tão raro e custar até dez vezes mais do que o caviar. Um dos autores do aterrorizante prognóstico é John Mason, diretor do Nature Conservation Research Council, instituto sediado em Gana, país que, ao lado da Costa do Marfim, é um dos maiores produtores de cacau do mundo. A equação que ameaça a iguaria é simples. Enquanto a demanda cresce nos países emergentes, a produção de cacau cai em consequência das más condições de trabalho dos produtores do oeste africano. Recebendo apenas US$ 0,80 por dia, muitos preferem investir no dendê, de olho no mercado de biocombustíveis. Para piorar o cenário, o solo africano está desgastado por causa da cultura tradicional, e devastadora, de plantio da fruta. A verdade é que os efeitos desses problemas já estão aparecendo. Com 70% da produção mundial concentrada em solos africanos, o preço do doce dobrou nos últimos seis anos.

 

Mas, antes que viciados em chocolate entrem em colapso, há uma luz no fim do túnel, pois os grandes fabricantes estão se mexendo. Há uma década, mais de 70 empresas se juntaram e criaram a World Cocoa Foundation (WCF), para capacitar agricultores a plantar cacau de forma sustentável. “Nós atacamos em várias frentes: ensinamos o manejo sustentável das árvores, o controle de pragas e até mesmo como fazer o marketing de sua produção”, explica Bill Guyton, presidente da WCF. Segundo ele, alguns dos 420 mil produtores ajudados pela instituição já conseguiram triplicar seu plantio. Na Costa do Marfim, a Nestlé tem um projeto de replantio de dez milhões de árvores. No campo científico, as gigantes e concorrentes Mars (que faz o M&M) e Hersheys estão destrinchando o genoma do cacau para chegar a variedades cada vez mais produtivas e resistentes.

 

No que depender dos brasileiros, o cenário também será melhor. O Brasil, que já foi o segundo maior produtor e perdeu o posto por causa de um fungo conhecido como vassoura-de-bruxa, hoje importa cacau. Segundo a Associação Brasileira de Cacau (APC), das 200 mil toneladas consumidas em 2009, 40% foram importadas. “Mas só a Bahia vai crescer quase 50% neste ano. Vamos passar a exportar em pouco tempo”, acredita Henrique de Almeida, presidente da APC. Para os chocólatras, temerosos de que as tentativas de reverter a escassez falhem, resta apelar para Quetzalcoatl, o deus asteca que, reza a lenda, teria criado o néctar marrom. E dá-lhe chocolate para combater a ansiedade!

 

Veículo: Revista Isto É


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