Consumidores devem aproveitar este fim de ano para renovar o guarda-roupa, já que no início de 2011 as peças devem encarecer devido ao aumento no preço do algodão - principal matéria-prima para confecção.
O preço da matéria-prima apresentou reajuste de 125% nos últimos 12 meses - maior índice dos últimos anos. Calças jeans, por exemplo, devem ficar cerca de 30% mais caras, já que são feitas basicamente do item, segundo estimativa da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção). Na ponta do lápis, uma peça de R$ 120, passaria a custar R$ 156.
As famílias provavelmente não encontrarão preços elevados nas lojas no fim do ano. As coleções primavera-verão já estão nas vitrines, e o aumento do preço do algodão não afetará esses produtos.
O encarecimento do algodão é reflexo da safra mundial. "Durante a crise financeira, no fim de 2008, os estoques estavam baixos. E no País o volume de áreas plantadas eram 15% menores. Desde então, a procura pela matéria-prima ficou maior do que a oferta", explica Rafael Cervone Neto, presidente do Sinditêxtil-SP (Sindicato das Indústrias Têxteis do Estado de São Paulo).
Além disso, entre 2009 e este ano, o País enfrentou problemas climáticos. "A antecipação da chuva sujou o algodão e prejudicou a colheita - geralmente feita entre maio e junho", enfatiza Neto.
Nesse contexto, a indústria têxtil, assim como as confecções e os comerciantes, temem que as vendas caíam a partir de fevereiro. "Estamos enfrentando um cenário delicado. É complicado não repassar a alta dos preços ao consumidor. Para agravar, temos mercado competitivo onde a concorrência é brutal. Temos empresas que pararam de produzir", relata Fernando Pimentel, diretor superintendente da Abit.
Se o Brasil não exportasse 300 mil toneladas de algodão, tendo em vista que produz 900 mil toneladas, seríamos autosuficiente. Isso porque o consumo interno é de 700 mil toneladas. Portanto 100 mil toneladas são importadas por preço alto pela oferta externa reduzida. "A baixa safra é um problema mundial, não é apenas nosso", afirma o presidente do Sinditêxtil-SP.
Setor segue a Brasília em busca de alternativas
A fim de evitar que as vendas no setor do vestuário desabem no início do ano, representantes da indústria têxtil seguem para Brasília para tentar negociar medidas que contribuam para a melhora do segmento.
"Vamos propor a desoneração de alguns impostos para os produtores de algodão. Seria uma das alternativas. A outra é tentar estimular o País a ficar com montante maior daquilo que produz, sem prejudicar as exportações", conta Rafael Cervone Netto, presidente do Sinditêxtil-SP.
Segundo ele, em 2011 a área plantada deve ser ampliada em 30%. "O negócio é produzirmos mais desta matéria-prima."
Para se ter ideia, nos últimos dez anos, o setor cresceu 68% quanto a produção e em 66% quanto a produtividade. "O consumo tem aumentado muito. As pessoas compram mais e precisam achar alternativas para abastecer esse público, sem que os preços se elevem de forma desenfreada", analisa Neto.
OTIMISMO -Atuante no setor de confecção de uniformes empresariais, o diretor-titular da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) São Caetano, Fernando Trincado, acredita que a elevação no preço do algodão não atingirá seu segmento de forma tão negativa.
"Como trabalho com vários fornecedores diferentes, o poder de negociação é grande. Quando há aumento do valor, corro para outro. Acredito que a concorrência entre as empresas nos ajuda", brinca o diretor.
Veículo: Diário do Grande ABC