Feijão transgênico no foco da Embrapa

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Após uma década de trabalho e vários percalços no meio do caminho, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia deverá entrar até meados de 2009 com o pedido de aprovação de uma variedade de feijão geneticamente modificado na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), em Brasília. O feijão, resistente ao vírus mosaico dourado, será a primeira variedade transgênica 100% nacional. 

 

Para pesquisadores, a possível comercialização da leguminosa coroará o que a Embrapa espera que seja uma nova era da autarquia, com mais agilidade e inovação. Essa é a prioridade mais urgente da nova gestão, que desde setembro tem um novo chefe-geral, o biólogo Mauro Carneiro, pesquisador da casa desde 1987. 

 

Em entrevista ao Valor, Carneiro afirmou que as parcerias com a inciativa privada serão fundamentais para a conversão das pesquisas em patentes e produtos. "Sozinhos, não temos capacidade de financiar pesquisas. Nossa capacidade de conversão em inovação é muito fraca", diz. "A ciência avança a um passo muito rápido. É preciso estabelecer parceiros inclusive com outras unidades da Embrapa, aqui e no exterior. Caso contrário, daqui a pouco a gente está fora". 

 

Com um orçamento de R$ 50 milhões em 2007 - cerca de 5% do orçamento total da Embrapa -, o braço de biotecnologia quer trazer a pesquisa para o mundo dos negócios. Desde a sua criação, nos anos 1970, foram patenteados apenas três "métodos de transformação", o jargão científico para o engenharia genética aplicada com sucesso em uma planta. O primeiro, em 1996, tinha como foco o feijão. O segundo, de 2003, o algodão. E o último, de 2006, as leguminosas, que obteve patentes também nos EUA, México, Canadá e Europa. 

 

Mas ainda há uma cesta de outras 20 pesquisas no forno, à espera de aprovação. Em grande parte, elas envolvem tolerância à seca e a insetos e frutas sem sementes, informa a autarquia. 

 

O feijão geneticamente modificado, no entanto, é a maior aposta da Embrapa. Foram quatro estratégias conjuntas com a Embrapa Arroz e Feijão, de Goiás, até acertar a fórmula. Em linhas gerais, os pesquisadores modificaram geneticamente a planta para que ela produzisse uma molécula - o RNA - responsável pela ativação de seu mecanismo de defesa contra o vírus mosaico dourado, devastador à lavoura. 

 

"Mimetizamos o sistema natural", diz Francisco Aragão, autor da pesquisa do primeiro feijão transgênico do mundo. Ele não esconde o orgulho de criar uma variedade genética 100% brasileira. "Tudo o que está no mercado tem o evento elite [a planta-matriz] dos EUA", diz Aragão. "Esta é totalmente nacional". Segundo ele, as pesquisas focaram o carioquinha, mais consumido e plantado, mas outras variedades de feijão serão desenvolvidas. 

 

Desde 2006, os pesquisadores da Embrapa repetem pesquisas de campo com o feijão transgênico em Sete Lagoas (MG), Londrina (PR) e Santo Antônio de Goiás (GO), regiões de alta produção no país. Em todos os casos, os grãos foram infectados naturalmente pelo mosaico dourado. Os transgênicos, diz Aragão, não apresentaram sintomas da doença. Os convencionais tiveram de 80% a 90% das plantas afetadas. 

 

Não é possível prever quando o feijão resistente ao vírus chegará ao mercado. A partir do momento em que a Embrapa pedir a sua aprovação na CTNBio, a pesquisa entrará na fila de avaliação do órgão. "A expectativa é mais uns três anos", afirma Aragão. 

 

Segundo o pesquisador, a variedade está em análise de biossegurança, período no qual se comprova a sua inocuidade ao ambiente e à saúde humana. 

 

Os alimentos transgênicos ainda enfrentam forte resistência de setores da sociedade no Brasil, temerosos dos efeitos no longo prazo das alterações genéticas provocadas pelo homem. 

 

Veículo: Valor Econômico


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