Mercado: Preço alto no mercado motiva produtor a aumentar taxa de renovação e a plantar em novas áreas
Há tempos que os fundamentos do mercado de café não criavam um ambiente tão favorável para a valorização dos preços da commodity. O aumento do consumo internacional e doméstico, mesmo após um cenário de crise global, e a oferta mais apertada, depois da redução da safra colombiana e dos países da América Central, já fizeram com que as cotações subissem 47,3% na bolsa de Nova York em 2010, apesar da queda de 1,29% em novembro, como mostram cálculos do Valor Data até o dia 26.
A conjuntura para o café é tão favorável que no Brasil, maior produtor e exportador do planeta, já está difícil encontrar até mudas para serem adquiridas. A valorização dos preços nos últimos meses foi tão intensa que os viveiristas - como são chamados os produtores de mudas - de alguns dos principais polos do país não conseguiram atender à demanda de quem deixou a decisão de comprar as novas plantas para a última a hora.
Em Minas Gerais, responsável por 52,3% da oferta nacional de café, não há mais mudas disponíveis. Dono do maior parque cafeeiro do país, com 3,11 bilhões de pés em produção e outros 473,7 milhões em formação, o Estado tem necessidade média de 155 milhões de mudas novas por ano, considerando-se uma taxa de renovação de 5%. "Em Minas Gerais não existe mais muda para comprar. Pague o preço que for, hoje já não é mais possível encontrar quem tenha mudas para vender", afirma Antônio Carlos Paulino, presidente da Cooxupé, maior cooperativa de café do mundo.
Segundo Paulino, o preço médio do milheiro de mudas no início do ano estava em R$ 250, mas apenas para quem fechava contratos de compras naquele momento e para entrega entre outubro e novembro. Para quem optou por fazer as compras no mercado disponível, apenas no momento do plantio, o preço médio do lote de mil mudas subiu de 30% a 50%, dependendo do período de compra.
"O valor das mudas acompanha o preço da saca. Quem acertou a compra antes pagou menos do que quem deixou para a última hora. O fato é que quem quer comprar agora não consegue mais", afirma Paulino.
Em São Paulo, segundo maior produtor de café arábica do Brasil, com um parque cafeeiro total de 446,2 milhões de pés, a situação não é diferente. De acordo com dados da Secretaria de Agricultura do Estado, a disponibilidade de mudas este foi inferior que em 2009. A expectativa dos viveiristas para a oferta de mudas para 2010 é também menor que a do ano passado. O plano anual dos viveiristas paulistas de 2009 previa a oferta de 21,3 milhões de mudas, enquanto para este ano a disponibilidade de mudas foi reduzida para 21,3 milhões, quase 35% a menos.
O desestímulo dos produtores de mudas está relacionado com os preços. Em novembro do ano passado, o valor médio da saca de café, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), era de R$ 272,55. Em maio, quando a produção de mudas começa, a saca de café já valia R$ 289. O preço chegou a R$ 355 em novembro, 30% mais do que no mesmo período do ano passado.
"Ainda não conseguimos quantificar exatamente, mas já é possível sentir uma migração de áreas de pastagem e grãos para o café. Foi esse efeito manada que pegou os viveiristas no contrapé e fez com que a disponibilidade de mudas ficasse mais ajustada", diz Celso Vegro, pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), órgão da Secretaria de Agricultura paulista.
Há 12 anos no negócio de mudas, o produtor Walter Garcia Bronzi vendeu neste ano 1,5 milhão de mudas a partir dos dois viveiros que tem no interior paulista, em Batatais e Altinópolis. A disponibilidade do produtor acabou há dois meses, apesar de o período de plantio do café durar de dezembro a fevereiro.
"E se eu tivesse mais um milhão teria para quem vender. Nunca vi uma demanda tão grande quanto a desse ano, tanto que consegui vender a unidade por entre R$ 0,35 e R$ 0,40 este ano, sendo que o preço historicamente varia de R$ 0,20 a R$ 0,25", afirma Bronzi.
Veículo: Valor Econômico