Em 2 das 18 farmácias visitadas na capital, funcionários ignoraram a resolução da Anvisa que exige receita recente
Nem todas as farmácias da capital paulista se adequaram à nova norma para os antibióticos, que desde ontem têm sua venda controlada, de acordo com resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Duas das 18 farmácias de diferentes regiões da cidade visitadas pela reportagem não exigiram apresentação da receita para a compra desse tipo de medicamento: uma na Vila Mariana e outra no bairro da Saúde. Nesses estabelecimentos, não houve questionamento sobre a falta da receita.
A medida, publicada em 28 de outubro, determina que o paciente entregue, no ato da compra do antibiótico, a prescrição médica em duas vias, uma das quais será retida pela farmácia e a outra será carimbada e devolvida. A receita passa a ter prazo de validade de dez dias e deve conter uma série de itens obrigatórios, tais como nome completo do paciente, dados do médico e informações detalhadas sobre o remédio receitado.
Ao tentar comprar um antibiótico sem receita, ontem, o discurso mais ouvido nas farmácias foi: "Se fosse até ontem, nós venderíamos. A partir de hoje, não podemos mais." O farmacêutico Gilvan Félix de Souza, que atendia em uma drogaria da zona norte, conta que alguns clientes insistiram para conseguir antibióticos sem receita. Houve até um cliente que adulterou uma receita, rasurando a data do documento. "Vai ser difícil para a população se acostumar. O correto seria que houvesse médicos suficientes para atender todo mundo", diz o farmacêutico. Sineo Ujihi, gerente de uma farmácia da região central, tem a mesma preocupação. "O problema é que as pessoas de classes mais baixas vão ao hospital e não conseguem ser atendidas a tempo".
A medida pegou a estudante Fabiana Alves da Silva, de 22 anos, de surpresa. "Há dois meses, tive uma cistite e fui ao médico. Agora estou com o mesmo problema e vou ter de ir a um pronto-socorro para ser medicada, apesar de saber qual antibiótico devo tomar."
Para o infectologista Orlando Jorge da Conceição, do Hospital São Luiz, a medida é positiva. "Existe um hábito muito grande de automedicação. A regra vai obrigar o paciente a procurar assistência médica", diz. Ele lembra que o uso indiscriminado de antibióticos contribui para o surgimento de superbactérias.
Veículo: O Estado de S.Paulo