Segundo maior consumidor de café do mundo, o mercado brasileiro ficou ontem um pouco mais estrangeiro. A americana Sara Lee, dona das marcas Pilão, Café do Ponto e Seleto, fechou a compra do grupo paranaense Café Damasco por aproximadamente R$ 100 milhões. Com o negócio, a multinacional reforça sua atuação nos mercados da região Sul do Brasil, onde tinha baixa penetração e a Damasco conta com as marcas Maracanã (PR), Negresco (PR) e Pacheco (RS).
A compra envolve, ainda, as marcas América (BA) e Palheta (RS), bem como as fábricas de Curitiba e de Salvador. As duas fábricas garantiam à Damasco uma capacidade de produção de 5,6 milhões de quilos por mês e a colocava como a sétima maior do Brasil.
"Ainda é cedo para planos específicos de cada uma das marcas. Vamos avaliar cuidadosamente o portfólio e desenvolver uma estratégia que nos ajude crescer", disse Ernesto Duran, porta-voz da Sara Lee. O executivo lembrou que a transação reforça a presença na empresa no Sul, mas também no Nordeste. "A fábrica de Salvador vai ajudar a atender o mercado do Nordeste de forma mais competitiva, pois poderemos produzir e distribuir localmente", afirmou.
O negócio com a Sara Lee interrompe as tratativas que Guivan Bueno, presidente da Damasco, mantinha há um ano com a italiana Segafredo Zanetti. Com os italianos, no entanto, Bueno negociava a venda de uma participação no grupo, não o controle. Procurado, ele disse estar impedido de comentar sobre a operação.
Com a aquisição, a participação de grupos estrangeiros no mercado brasileiro fica ainda maior. Há pouco mais de uma década, antes da entrada da Sara Lee no Brasil, quando apenas Mitsui e Melitta eram as estrangeiras atuando no mercado doméstico, essa presença não superava 5%. Dez anos depois, e com a venda da Damasco, os grupos estrangeiros passaram a representar, hoje, entre 50% e 55%.
Depois da Sara Lee, que se consolidou no topo do ranking brasileiro com uma fatia de quase 21%, o segundo maior grupo do segmento é o 3Corações, joint venture entre a brasileira Santa Clara e a israelense Strauss, que detém 20% e recentemente flertou com a liderança. A alemã Melitta ocupa a terceira colocação, seguida pelas brasileiras Café Maratá e Café Cacique.
A venda do Café Damasco simboliza a dificuldade que as indústrias familiares enfrentam diante das grandes. No ano passado, as dez maiores empresas ligadas à Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic) dividiram o processamento de 9,1 milhões de sacas. Outras 3,9 milhões foram compartilhadas por outras 375 empresas de pequeno porte. As 5 milhões de sacas que somam as 18,4 milhões consumidas no Brasil foram divididas por não associadas da Abic.
"Esse é um processo que já ocorreu no mundo. Acredito que o próximo movimento será de fusões e negócios entre as empresas menores", afirma Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Abic.
Veículo: Valor Econômico