Com duas filhas gêmeas de três anos, a lista de compras da funcionária pública, Zilda Massami Kanzaki Oki, e do marido Roberto Oki, é extensa. Em busca de preços mais baixos, o casal é adepto das lojas atacadistas, que também vendem para o varejo — os chamados atacarejos. “Compro no atacado como se fosse um supermercado comum, principalmente bebidas e produtos de higiene e limpeza. Chego a ir à loja mais de três vezes por mês”, destaca Zilda.
Famílias como a da funcionária pública estão frequentando cada vez esse tipo de loja. Pesquisa realizada pela Nielsen, empresa global de informação e mídia, mostra que o número de famílias que compram em atacarejos passou de 18% do total em 2008 para 26% em 2010, o que representa um universo de pelo menos 9,6 milhões de lares brasileiros.
Para o gerente de atendimento da Nielsen, Olegário Araújo, esse aumento está relacionado a dois movimentos: mais lojas no mercado e a busca do consumidor por mais opções de compra. O número de lojas atacadistas cresceu 23,3% de 2008 para 2009, passando de 236 para 291 estabelecimentos, segundo a Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad).
Na opinião de Pedro Matizonkas, professor do Núcleo de Estudos de Varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e consultor em varejo, o aumento de pessoas físicas comprando em atacarejos está ligado ao crescimento do poder aquisitivo, principalmente das classes C e D. Entre 2008 e 2010, a frequência da classe média no atacarejo registrou alta de 14% e das classes D e E, 16%. “Essas classes de consumo tendem a ter famílias maiores, conseguiram comprar um carro e ir ao supermercado acaba sendo um programa de família.”
É justamente com a família que a administradora Karina Lira Guelere Oliveira, de 32 anos, costuma fazer compras. Ela vai ao atacarejo pelo menos uma vez por mês acompanhada das filhas Raquel e Sarah, de 2 anos, e os pais Judite e José Avelino. “Quando encontramos um produto muito barato, mas é necessário comprar em uma quantidade específica, aproveitamos para dividir a compra”, relata Karina.
O preço dos produtos vendidos no atacarejo, em média 10% mais baratos, é resultado da compra em maior quantidade aliada a um ambiente mais simples, que contrasta com o ambiente climatizado e a organização das gôndolas dos supermercados tradicionais.
Nas lojas atacadistas, geralmente, o consumidor convive com empilhadeiras e tem menos opções de produtos. “A maior vantagem é a economia na compra. A desvantagem é a falta de serviços no atendimento”, explica o presidente da Abad, Carlos Eduardo Severini.
É a mesma opinião de Rubens Santanna Neto, sócio diretor da consultoria Santanna Inamoto. “O ambiente dos atacarejos não favorece a experiência de compra, mas chama atenção pelo preço”, opina.
Segundo o professor da Universidade de São Paulo (USP) e consultor na área de varejo, Nelson Barrizzelli, é preciso ponderar os esforços para comprar nesse tipo de loja. Um exemplo é a locomoção. Não existem muitos atacados próximos de residências como os supermercados tradicionais. Outro ponto é a condução. É preciso ter um carro para levar a mercadoria, além de ter espaço na casa para guardar as compras.
Veículo: Jornal da Tarde - SP