Yoplait decide voltar ao Brasil com operação própria

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Fabricante francesa de iogurte saiu do país há 15 anos

Quem não se lembra da marca Yoplait? Pelo menos o fabricante francês de iogurtes não se esqueceu nem um pouco do mercado brasileiro, que foi "obrigado a deixar", há 15 anos, depois que seu parceiro na época, a Companhia Brasileira de Laticínios, foi comprado pela italiana Parmalat. Hoje, a Yoplait quer voltar ao Brasil, uma das prioridades da empresa, que, desta vez, planeja uma operação própria, disse ao Valor o presidente da Yoplait, Lucien Fa.

 

"O negócio no Brasil deverá envolver compra de produtores de leite e construção de fábricas. Nós vamos voltar ao país, só não sabemos ainda como isso será feito, com qual parceiro e que produtos teremos", diz Fa, que assumiu o comando da Yoplait há 8 anos e conhece muito bem o mercado brasileiro de iogurtes após ter trabalhado mais de 20 anos na rival francesa Danone.

 

Segundo Fa, o Brasil é "um oásis" no continente e possui um mercado de iogurtes tão desenvolvido quanto o europeu, com um setor industrial forte nessa área, diferentemente da Índia, e que ainda apresenta um forte potencial de crescimento, como, por exemplo, o da China. Este país dobrou o consumo em cinco anos, passando de 1 kg de iogurte por habitante em 2004 para 2kg em 2009. Na França, o volume é de 30 Kg por habitante/ano.

 

Para dar impulso à nova estratégia de expansão internacional, que privilegia os mercados emergentes, a Yoplait busca um sócio de peso, que já tenha grande presença nesses países. O processo de venda de 50% do capital da empresa, detido desde 2002 pelo fundo de investimento francês PAI Partners, que quer agora sair do negócio, já foi iniciado, com a nomeação dos bancos que vão cuidar da operação como o Morgan Stanley.

 

Grandes multinacionais como Nestlé, Kraft e General Mills, que já distribui os produtos da marca nos Estados Unidos, a PepsiCo e a francesa Lactalis, cuja oferta, em novembro, de € 1,3 bilhão pela totalidade da empresa já foi recusada, vêm sendo mencionados pela imprensa internacional como potenciais interessadas pelo negócio, estimado pelo presidente da Yoplait em "no mínimo" € 1,6 bilhão.

 

Fa afirma que a venda da participação do fundo PAI se insere em uma "prática normal" desse tipo de companhia financeira, que em determinado momento deve retornar o capital aos seus investidores. Agora, resta saber quem serão os interessados em comprar metade da Yoplait, que não está cotada na bolsa e afirma ser a vice-líder mundial de produtos lácteos, com um faturamento de € 4,6 bilhões, atrás da Danone.

 

Sem reconhecer que tenha "preferências" por um determinado comprador, Fa afirma, no entanto, que a suíça Nestlé "tem o perfil ideal" para desenvolver a Yoplait internacionalmente, em razão de sua ampla implantação geográfica. O grupo suíço, por sua vez, prefere não fazer comentários a respeito.

 

"Nosso desenvolvimento internacional será muito mais rápido se ele for inserido em uma estrutura já existente", diz Fa. Outra multinacional que também possui um "perfil adequado", na avaliação do presidente, mas não tem estado na linha de mira dos rumores na imprensa, é a anglo-holandesa Unilever.

 

Fa estima que a venda de 50% da participação acionária do fundo PAI deverá ocorrer no primeiro semestre de 2011. A partir daí, a Yoplait, que passou a última década reconquistando o mercado perdido nos anos 90 na França e no resto da Europa, poderá navegar de vento em popa em direção aos países emergentes.

 

"Nos anos 90, não soubemos competir na França com a Danone, que havia lançado produtos como o Bio [hoje Activia no mundo todo] e Actimel, e perdermos mercado. Internacionalmente, não tivemos sucesso com algumas operações próprias, como as da Espanha e da Polônia, e também com franquias em outros países", diz o presidente.

 

A Yoplait tem seis filiais (Inglaterra, Republica Tcheca, Eslováquia, Suécia, Bélgica e Portugal), além de 29 franquias e 10 licenças internacionais. Dos € 4,6 bilhões do faturamento, as atividades próprias representam € 1 bilhão e o restante é gerado pelas franqueadas.

 

Em setembro a empresa saiu da Colômbia. O franqueado decidiu encerrar a parceria, o que Fa não vê com maus olhos. "O mercado era pequeno e, sinceramente, a Colômbia não era uma prioridade para nós". A empresa já havia deixado a Venezuela iniciativa própria em razão do presidente Hugo Chávez ter bloqueado as remessas de dividendos.

 

Desde a entrada do fundo PAI e a chegada de Fa ao comando da Yoplait, em 2002, as vendas dobraram. Atualmente, a Yoplait tem 12% do mercado francês, fatia que vem conseguindo manter nos últimos anos, diz o presidente. A rival Danone tem uma fatia de 32%.


 

Segundo Fa, Danone e Nestlé teriam perdido espaço para os iogurtes de marca própria dos supermercados franceses, enquanto a Yoplait teria conseguido manter sua posição. A empresa também tem uma pequena atividade de fabricação de produtos de marca própria para varejistas.

 

Fa reestruturou a carteira de produtos. "Temos menos produtos no total, mas guardamos os que são líderes." A Yoplait tem cinco grandes marcas: Yop, de iogurte para beber, Panier Yoplait, de iogurte com frutas, e as linhas Perle de Lait, Calin (com maior teor de cálcio) e Petit Filou, que são de um tipo de iogurte feito com queijo coalhado, que os franceses chamam de "fromage blanc", mas que apesar do nome, não têm nada a ver com queijo.

 

O presidente da Yoplait estima que as vendas da empresa deverão crescer 5% neste ano. O que deve alimentar ainda mais o apetite dos futuros candidatos à compra de metade do capital da companhia.


 
Brasileiro lembra da marca, diz Fa

 

O presidente da francesa Yoplait, Lucien Fa, acredita que conta com um fator de peso para voltar ao mercado brasileiro: o nome Yoplait ainda deve, segundo ele, estar bem fresquinho na cabeça dos brasileiros como uma referência na área de iogurtes, apesar de seus produtos terem sumido há 15 anos das prateleiras dos supermercados do país.

 

Em dezembro de 1995, a italiana Parmalat comprou a cearense Companhia Brasileira de Laticínios (CBL), com quem a Yoplait tinha uma joint venture para produzir iogurtes da marca no Brasil.

 

A Yoplait aguarda a chegada de um sócio internacional para retomar rapidamente suas atividades no Brasil. A marca não retornou antes ao país, explica Lucien Fa, porque tinha "outras prioridades": o fabricante precisou primeiro reforçar suas atividades na França e no restante da Europa, após ter perdido participações para a Danone nos anos 90.

 

Essa página de dificuldades foi virada e hoje a Yoplait possui uma estratégia de expansão internacional que inclui o Brasil, a Índia, China e Indonésia. As implantações no exterior poderão ocorrer sob forma de franquias, joint ventures (com controle da gestão pela Yoplait) ou atividades próprias, como será o caso do Brasil, diz Fa.

 

Entre 2005 e 2010, o mercado mundial de iogurtes de colher cresceu anualmente 4,1% em volume, e, o de iogurte para beber, 7,6%, segundo a Euromonitor International. No Brasil, o aumento foi, respectivamente, de 9,4% e de 8,3%. O presidente da Yoplait estima que o mercado global deverá crescer 4% em volume em 2010. (DF)

 

Veículo: Valor Econômico

 


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