O sabor do pãozinho francês tem ficado mais salgado nos últimos 12 meses, isso porque o principal item do café da manhã dos brasileiros acumula alta de 11% nos supermercados e de 9% nas padarias durante o ano, segundo a Fecomercio (Federação do Comércio de Bens Serviços e Turismo do Estado de São Paulo).
No Grande ABC, o aumento médio chegou a 10%. O preço que anteriormente variava de R$ 5,85 a R$ 6,30 ficou entre R$ 6,50 e R$ 7, estima o presidente da Sipan (Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria de Santo André), Antonio Carlos Henriques.
Os maiores reajustes ocorreram nos meses de setembro (2,55%) e outubro (3,42%). A explicação para a escala nos preços vem de longe. Problemas de seca na Rússia estão afetando o custo do trigo mundialmente. Como os moinhos brasileiros compram insumo da Argentina, Estados Unidos, Canadá e Uruguai, o produto sofre o efeito por tabela e fica mais caro.
De acordo com a assessora econômica da Fecomercio Júlia Ximenes, a redução na oferta do trigo impacta o preço internacional. "O Brasil não é autossuficiente na produção desse grão e precisa importar, principalmente para se obter a farinha especial, usada na fabricação do pão."
Essa oscilação no preço do trigo não afetou apenas o pão francês, abrange também outras variedades de pães, bolos, biscoitos e rosquinhas. A pesquisa da entidade aponta alta de 3,5% nos produtos panificados entre janeiro e outubro.
Henriques afirma que não foi apenas a quebra na safra russa e os problemas com exportação na Argentina que prejudicaram o trigo. "Houve um pouco de especulação por parte dos moinhos, interessados em elevar o preço dos produtos", dispara.
REAJUSTES - Na Padaria Vitória, em Santo André, houve apenas um reajuste em agosto, quando o valor do quilo foi de R$ 6,80 para R$ 7,80, diferença média de 14%. O gerente Kennedy Carvalho Pereira comenta que mesmo com vários aumentos no preço da matéria-prima, foi realizado somente um ajuste no valor do quilo.
"Até julho, a saca de 50 quilos da farinha de trigo especial custava R$ 59. Pouco tempo depois foi alterado para R$ 64 e atualmente não saí por menos de R$ 68", enumera Pereira. Ele diz que é rotina para o setor lidar com a forte oscilação no valor da commodity.
O presidente da Sipan salienta que os preços da farinha de trigo caminham para a estabilidade devido à chegada da safra argentina e a colheita da safra nacional, deixando os estoques do produto regulados. "Não acredito em grandes problemas a curto prazo", diz Henriques.
Segundo o presidente do conselho de administração do Moinho São Jorge, Nilo Sírio, "a tendência é que o preço desacelere até fevereiro, entretanto, é iminiente o risco de avanço dos preços a partir de abril devido à mudança na estação".
Na região, Coop consegue segurar custo
Na região, a supermercadista Coop (Cooperativa de Consumo), na contramão dos concorrentes, conseguiu segurar o preço do pãozinho. Em tese, como esses estabelecimentos comercializam extensa gama de produtos, é possível segurar o preço de alguns itens.
De acordo com a assessora econômica da Fecomercio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) Júlia Ximenes, esses estabelecimentos conseguem reduzir a margem de lucro sem elevar o preço do item.
Desde julho, a Coop controla o preço de todos os seus produtos fabricados com farinha de trigo. A gerenciadora de marca própria Daniela Marchiolli conta que o quilo do pão é vendido a R$ 4,99, porém, entre janeiro e fevereiro a rede precisará reavaliar os custos da produção, o que pode ocasionar a elevação no preço.
Ainda na Coop, o gerenciador de categoria Airton Miranda detalha que foi necessário trocar de fornecedor para não acompanhar o mercado e elevar o preço do produto. "Entre agosto e outubro o valor do quilo da farinha foi de R$ 1 para R$ 1,30." A rede utiliza diariamente seis toneladas de farinha de trigo.
O presidente do conselho de administração do Moinho São Jorge, Nilo Sírio, afirma que a tonelada do trigo era vendida a US$ 289 em julho, mas agora custa US$ 300, sendo que teve picos de US$ 375. Enquanto a saca de farinha comercializada a R$ 57,80 em agosto teve pico de R$ 61 em novembro e agora é vendida por R$ 57,20.
Veículo: Diário do Grande ABC