O resultado de vendas excepcional no período natalino está formando um panorama de corrida por produtos de volta ás aulas no varejo, depois que grandes redes como Grupo Pão de Açúcar, Casas Bahia, Ricardo Eletro, Armarinhos Fernando, entre outras, começam a ver batidas as expectativas de vendas no período e passam a montar estoques de olho nas próximas grandes vendas de 2011: volta às aulas e o carnaval.
Outros segmentos que viram os números atingirem as projeções neste Natal foram os de lojistas de centros de compras, tanto que a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) viu crescimento de 13% no período, e a Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce) de 15%. Na rede Armarinhos Fernando, o balanço do final de ano foi bom e a saída dos produtos grande, por conta disso a empresa já está com foco na volta às aulas e carnaval.
De acordo com Ondamar Ferreira, diretor do grupo, a saída de bonecas e carrinhos foi o grande destaque das vendas neste fim de ano. "Sempre esperamos que as bonecas tenham uma saída maior, e este ano não foi diferente.Temos três modelos este ano que saíram bastante, uma delas com um valor médio de R$ 300, que não é barato, mas mostra o maior poder aquisitivo do brasileiro neste Natal", disse.
No balanço prévio de Natal, o executivo estima que o crescimento tenha sido de 5,5% e diz que nenhum item chegou a zerar no estoque, porque o grupo oferece presentes o ano inteiro e não faz compras específicas para o Natal. "Somos uma rede que trabalha o ano inteiro com brinquedos, por exemplo, que é o nosso forte, então já nos preparamos para o ano todo abastecido", diz
Fora isso, as vendas de material escolar já começaram nas lojas da rede Armarinhos Fernando, e de acordo com Ferreira desde a terceira semana de dezembro o estoque já começou a ser colocado nas lojas.
"No dia 3 de janeiro já teremos todos os itens novos para o período de volta às aulas, que também é uma data importante para o grupo", disse o executivo que lembrou que o carnaval também deverá impulsionar as vendas no primeiro trimestre do ano.
A possibilidade de vendas de atacado e varejo para datas como volta às aulas e carnaval impulsionam o estoque da rede. "Esse tipo de produto venderemos em grande quantidade, para pequenos bazares, o que nos faz ter uma atenção especial com o atacado", afirmou o executivo.
Eletrônicos
Quem também fecha o ano com crescimento neste Natal é a rede varejista mineira Ricardo Eletro. De acordo com o presidente Ricardo Nunes, ainda não é possível divulgar o balanço das vendas, mas é possível adiantar que a saída de eletrônicos foi bem grande neste Natal. "Com o poder aquisitivo maior e com o crédito mais amplo, as pessoas preferiram se presentear neste Natal ao invés de dar presentes para os outros", afirmou o executivo que destacou TVs de alta definição como um exemplo de grande saída. "O crédito está amplo, o e-commerce está forte, por isso a expectativa é fechar o ano com um crescimento próximo aos dois dígitos", disse. Com relação ao estoque, Nunes disse que a logística vai bem, e não houve falta de produto nem haverá para as vendas do primeiro trimestre.
Em sua melhor previsão em dez anos, as vendas da Casas Bahia podem ter alcançado um crescimento de 10% no período de festas de fim de ano em relação ao mesmo período do ano passado, segundo informou o presidente do Conselho de Administração da Novas Casas Bahia, Michael Klein. "Ainda não temos um balanço realmente fechado, mas se o Natal deste ano for muito bom, o crescimento pode ser de até 10%. Se for 'mais ou menos', as vendas podem aumentar 7% no mês de dezembro", disse.
Segundo Luiz Marques Pereira, professor de consumo contemporâneo da Universidade São Paulo (USP) o bom desempenho do País no ano resultou em estoques carregados no fim de 2010. "Ano passado, devido a crise, algumas grandes redes seguraram as compras de estoque, e por isso tivemos problemas pontuais com falta de produto, porque o brasileiro sempre compra bem no Natal, mesmo na crise."
Em 2010, no entanto, o professor considera que o Brasil terá o balanço mais positivo da década. "Todas as associações fecharam suas previsões muito otimistas, e isso desde julho, então, os estoques já vinham carregados." Outra previsão do professor fica por conta do primeiro trimestre de janeiro que, segundo o acadêmico, é naturalmente fraco. "Os três primeiros meses é historicamente mais fraco que os outros, e por isso houve grandes queimas de estoques, porque se sabe que no primeiro tri o brasileiro compra menos, em função do acúmulo de dívidas", diz.
Além da pisada no freio natural nas compras, as medidas anunciadas no final de 2010 pelo Banco Central (BC) para conter a inflação do País e segurar o crescimento econômico. Também deverá representar mudanças no quadro econômico brasileiro. "Com essa medida do BC, as vendas precisarão ser gradualmente mais elaboradas, com aumento do crédito, facilidade de parcelamentos e cada vem mais investimento e cartões de bandeira própria", disse.
O BC anunciou a retirada de R$ 61 bilhões dos bancos por meio de recolhimento compulsório - dinheiro que as instituições são obrigadas a deixar depositadas no BC. Com isso, a tendência é que os bancos emprestem menos dinheiro e cobrem juros mais altos, o que vai reduzir o crédito.
Para Nunes, 2011 também será um ano de crédito forte, apesar da medida. "A gente já vem aumentando gradativamente o parcelamento do cliente, vamos fechar o ano com o parcelamento em 19 vezes, e a tendência é ir se ajustando ao bolso do brasileiro", diz o presidente da Ricardo Eletro.
Para o presidente da Alshop, Nabil Sahyoun, a medida não impedirá o segmento de crescer 10% em 2011. Em comparação com 2009, na média dos 12 meses, a Alshop registrou um crescimento de 12%.
Fecomércio
O Natal de 2010 será o melhor da década para o varejo, segundo um levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio). Segundo as previsões da associação, as compras para o feriado devem ter movimentado R$ 3 bilhões, somando R$ 11 bilhões em dezembro.
A marca é superior aos R$ 8 bilhões tida como média dos outros meses. No acumulado de 2010 o movimento do varejo na Grande São Paulo deve superar R$ 100 bilhões. "Este desempenho está diretamente relacionado à capacidade que o comércio varejista em saber explorar o crédito disponível ao consumidor", afirmou o diretor-executivo da federação, Antonio Carlos Borges, que disse que a capacidade de consumo das famílias brasileiras, em todo o país deve encerrar 2010 movimentando R$ 2,2 trilhões.
Veículo: DCI