Em busca de preço e qualidade, as grifes brasileiras estão cada vez mais importando tecidos e produtos acabados. Por enquanto, só não perde o setor de malhas e de jeans, que ainda são os carros-chefe da indústria têxtil nacional. Mas quando se fala de seda ou de poliéster, por exemplo, Índia, China e Indonésia são os principais polos. No entanto, as marcas focadas nos públicos A e B mandam profissionais brasileiros para fiscalizar a produção do outro lado do mundo e garantir a qualidade do acabamento.
"Eu procuro preço. A indústria brasileira não tem capacidade de produzir tecido plano de qualidade, como '100% seda', em volume e valor competitivo como o mercado do Oriente", afirma Francisco Lucas, o Paco, diretor de marketing das grifes Oh Boy, Sacada e Addict. Por isso, quando se trata desses tecidos, o grupo importa 70% do que vende.
O mesmo faz a Toulon. "Na Índia e na China procuramos preço e também empresas que tenham a capacidade de fabricar produtos que não podem ser feitos no Brasil", diz Ana Luiza Mota, coordenadora do departamento de compras da Toulon, mostrando um short de poliéster produzido na China. "No entanto, apesar de fabricarmos lá, todo o design e a estamparia são planejados aqui. Mandamos o arquivo e eles fabricam o produto acabado."
Para garantir a qualidade, as duas grifes têm consultores na China. "A gente verifica as peças antes de elas serem produzidas em [grande] volume e depois acompanha a produção para que não tenhamos um problema de qualidade final", afirma Ana Luiza.
Isabela Drelux, responsável pelo departamento de estilo e compras da grife Mara Mac, diz que 60% da sua produção é importada. Mas além do Oriente, ela também compra tecidos italianos e conta que uma das novidades é o algodão com metal que permite que o "efeito amassado" não se perca com o tempo. "É um tecido bom para viajar porque você já leva com um amarrotado diferente", diz. No caso da Mara Mac, apesar de os fornecedores serem do Oriente, os distribuidores são americanos e europeus. Mesmo com a presença de um intermediário, nesse sistema também é possível negociar a exclusividade para estampas dos tecidos.
No entanto, ainda há setores em que, para o mundo da moda, a indústria brasileira é imbatível, como as malharias do Sul ou os fabricantes de jeans. A Toulon, por exemplo, que montou sua própria fábrica em Olaria, no Rio de Janeiro, há três anos, onde corta de 5 mil a 10 mil peças por dia, fabrica suas camisas em malharias do Sul. Ana Luiza explica que para o fio tinto, usado diretamente para tecer a camisa já com a estampa, as malharias brasileiras têm a melhor qualidade. E Paco acrescenta que o preço também é bastante competitivo. " Malha não vale a pena importar".
Eloysa Simão, sócia da Dupla Assessoria e responsável pela organização do Fashion Business - feira de moda de fabricantes nacionais que acontece esta semana no Rio - diz que sempre é melhor comprar o produto no Brasil, já que, se houver problemas com a importação, o produto corre o risco de encalhar, principalmente numa temporada de inverno curta como esta. "Como o carnaval é mais tarde este ano, a nova coleção chega às lojas já perto de março, os volumes de compras são menores."
Já Paulo Borges, diretor da Luminosidade, empresa que organiza o Fashion Rio, afirma que a moda está cada vez mais globalizada, buscando produtos e serviços no mundo inteiro. O necessário, acrescenta, é todo o setor amadurecer para se tornar mais competitivo frente a esse mercado mundial. "Há quem compre tecido aqui e mande estampar na Espanha", lembra, se referindo à empresa La Stampaque atualmente é uma das maiores responsáveis pelas estampas importadas para o Brasil.
Os desfiles do Fashion Rio começaram ontem no Pier Mauá, com a grife Alessa. Na feira de negócios do evento, a Rio-à-Porter, marcas apresentam seus modelos para compradores desde segunda-feira.
Veículo: Valor Econômico