Com caixa, Diageo está pronta para fazer aquisições

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Às vezes todos os seus Natais vêm de uma só vez. Não muito tempo atrás, a Diageo, do Reino Unido, estava com muito dinheiro em caixa e não tinha para onde ir. Agora a paisagem já não parece tão árida. No final de outubro, aLVMH, grupo francês de artigos de luxo, revelou uma participação de 17% naHermès.Isso levantou uma interrogação provisória sobre o futuro da sua participação na Moët Henessy. Ampliar a participação na Hermès poderia significar a liquidação de outro ativo, e o grupo que atua no setor de bebidas, onde a Diageo tem um controle de 33%, seria um candidato óbvio.

 

Pouco mais de um mês depois, a Fortune Brands, dos EUA, decidiu cindir-se em três partes - bebidas alcoólicas, produtos para golfe e acessórios e equipamentos para casas. Isso torna uma aquisição dos ativos relacionados com bebidas destiladas, que inclui o bourbon Jim Beam, mais viável.

 

E na Turquia a Mey Icki, produtora dominante de "raki", a bebida alcoólica tradicional no país, foi posta à venda pela TPG. Assim como no caso de outros ativos, a venda está longe definida: o grupo de private equity também está estudando uma IPO.

 

Estando o crescimento orgânico no setor das bebidas alcoólicas nas faixas inferiores de um dígito, aquisições são uma das poucas maneiras pelas quais as empresas no setor podem aumentar significativamente seu volume de negócios. Mas encontrar o alvo certo pode ser difícil. "Esse é o grande dilema deles", diz Melissa Earlam, analista da UBS para o setor de bebidas alcoólicas europeias. Ela ressalta que a Diageo tem um peso relativamente baixo em mercados emergentes, particularmente na Ásia, mas é improvável que o único ativo que mudaria o cenário, Moet Hennessy, venha a ser vendido, principalmente a um preço aceitável, pelos acionistas da Diageo.

 

Em anos mais recentes, a Diageo não realizou aquisições, o que a deixou o grupo com um balanço sólido: com uma endividamento líquido 2,2 vezes os lucros antes de impostos, juros, depreciação e amortização (Ebitda) no fim de junho. Analistas acreditam que o montante bem seja mais baixo ao final deste ano fiscal.

 

Embora o grupo britânico tenha uma atitude mais rigorosa em face de sua dívida do que muitos de seus pares, Trevor Stirling, analista da Bernstein, acredita que a empresa poderia confortavelmente assumir entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões de novo endividamento elevando ligeiramente a relação dívida líquida/ebitda até duas vezes e meia.

 

O dilema sobre onde investir está longe de ser exclusivo da Diageo, ou mesmo do setor de bebidas. Empresas que vendem bens de consumo estão diante da opção de alocar capital nos mercados emergentes, repleto de crescimento elevado, riscos elevados e sinergias mínimas ou permanecer no moribundo mundo desenvolvido e justificar possíveis gastos citando economias de custos disponíveis.

 

A Unilever, por exemplo, foi criticada por suas recentes aquisições em mercados maduros - um passo retrógrado, opinaram alguns, para o grupo anglo-holandês que realiza metade de suas vendas em mercados emergentes.

 

Ian Shackleton, analista de bebidas no Nomura, destaca que a maioria das fusões e aquisições em fabricação de cerveja nos últimos cinco anos foi focada em mercados emergentes, como a aquisição da cervejaria sul-americana Bavariapela SABMiller.

 

"As empresas produtoras de bebidas alcoólicas estão agora chegando nesse ponto de interrogação", diz ele. "Será melhor investir em mercados mais estabelecidos ou investir diretamente em mercados emergentes?"

 

A resposta, diz ele, é mais matizada nos caso de produtores de bebidas alcoólicas. Variedades premium superpostas a marcas existentes, como a expansão da marca Johnny Walker, pertencente à Diageo, dão margem a crescimento mesmo em mercados maduros. O que torna os EUA um mercado atraente. Mas as considerações estratégicas tendem a favorecer os mercados emergentes, apesar de as recompensas serem de mais longo prazo e, muitas vezes, implicar em maiores investimentos.

 

A Diageo está já está examinando a possibilidade de negócios em mercados emergentes - por exemplo, está buscando conquistar o controle da chinesa Shui Jing Fang, marca do destilado "baijiu" premium. Mas os valores são minúsculos - ampliar sua participação de 49% para 53% na holding custaria 14 milhões de libras (US$ 21,8 milhões) e é improvável que seja simples crescer em escala num país muito lembrado por ter impedido a venda de um fabricante de sucos para a Coca-Cola.

 

E suas outras opções são menos atraentes do que podem, à primeira vista, parecer. A Mey Icki, diz a Earlam, "é uma empresa local de valor baixo", que promete crescimento elevado, porém margens mais baixas e oportunidades limitadas para exportações. A expectativa é de que o ativo seja negociado por aproximadamente US$ 2 bilhões a US$ 2,5 bilhões, o que significaria avaliar a empresa entre 10 e 13 vezes seu ebitda. "Será a Turquia suficientemente atraente para investir US$ 2,5 bilhões no país?", pergunta ela. Como outros, ela preferiria ver a Diageo colocar dinheiro em Portugal, uma alternativa que a própria Diageo preferiria, mas é mais cautelosa quanto às oportunidades.

 

Seja qual for o percurso escolhido pela Diageo, observa Stirling, o próximo mês será crucial. Caso não se materialize nenhum negócio com a Fortune (por restrições antitruste, a Diageo não poderia adquirir todo o portfólio) como um acordo envolvendo a Mey Icki, a empresa ficará sob pressão para que recompre ações, diz ele. "Mas seria tolice recomprar ações e, então, seis meses depois, ampliar o endividamento para comprar um desses ativos."

 


Veículo: Valor Econômico


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