Donos do JBS investem R$ 200 mi em banco

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Holding que controla a gigante do setor de carnes usa o gaúcho Matone, que passava por dificuldades financeiras, para ampliar seu braço financeiro

 

A holding J&F, que controla a gigante do setor de carne JBS, vai usar um banco em dificuldades para expandir seu braço financeiro. A J&F investirá R$ 200 milhões para criar uma nova instituição, com a união dos ativos do Banco JBS com os do gaúcho Matone. A dona da JBS ficará com 60% do capital - a estrutura do acordo prevê um aporte de R$ 100 milhões em dinheiro novo pelo sócio minoritário.

 

Com mais de 40 anos de setor financeiro, a família Matone viu a estrutura de seu banco sofrer abalos relevantes nos últimos três anos. Na esteira da crise econômica, a instituição teve prejuízo de R$ 47,7 milhões em 2008 - o que corroeu mais de um terço de seu capital à época.

 

Depois de novos resultados negativos nos últimos dois anos, nem uma nova injeção de capital feita pela família no ano passado foi suficiente para pôr as contas da empresa em dia. Desde setembro, o Matone tinha índice de Basileia - que mede a capacidade de solvência dos bancos - de 9% (a relação mínima exigida pelo BC é de 11%). Isso influenciou o rebaixamento da nota de risco da instituição pela agência Fitch no fim do mês passado.

 

Na prática, os Matone precisavam de um sócio. Segundo Luis Miguel Santacreu, analista de setor financeiro da Austin Rating, o banco sofria pressão para reestruturar suas contas. O presidente da instituição gaúcha, Alberto Matone, disse ontem que tinha dificuldades para captar recursos, o que prejudicava sua competitividade. "Desde 2006 estamos buscando um sócio capaz de nos capitalizar."

 

Segundo o presidente da holding J&F e ex-presidente da JBS, Joesley Batista, o negócio com os Matone não envolveu as tradicionais fase de auditoria e due diligence. O acordo, fechado no "fio do bigode" na sexta-feira antes do carnaval, se baseou na relação de amizade entre as famílias.

 

O organograma do novo negócio, porém, excluirá os Matone da gestão - os minoritários ficarão restritos ao conselho de administração assim que a fusão for concluída. O presidente do Banco JBS, Emerson Loureiro, vai migrar para a nova instituição e pretende atrair um executivo de um grande banco de varejo para comandar o segmento de crédito ao consumidor.

 

Escala. Ao unir ativos com o Matone, o Banco JBS dá um passo para ganhar a escala que persegue desde a fundação, há três anos. As 85 lojas que herdará do Matone serão usadas para dar visibilidade à instituição no varejo. A operação, porém, será baseada no equilíbrio entre a oferta de crédito ao consumidor e o financiamento à cadeia produtiva da pecuária.

 

O banco que surgirá ainda será de pequeno porte, com ativos de R$ 1,5 bilhão e patrimônio de R$ 600 milhões (já com os novos aportes). Porém, com o poder de captação internacional do JBS, a instituição traça metas ambiciosas de crescimento: quer elevar o total de empréstimos para R$ 6 bilhões em um ano e meio.

 

Segundo Joesley Batista, ainda há espaço para uma forte expansão do crédito no País. "Queremos capturar a prosperidade pela qual o Brasil tem passado. Achamos que as previsões de crescimento que temos visto são conservadoras. O crédito para as pessoas físicas no Brasil ainda é muito baixo", diz o executivo.

 

Embora Batista afirme interesse genuíno no crédito ao consumidor - e também em financiamento imobiliário -, o sócio da ABM Consulting, Alberto Borges Matias, pondera que entrar de cabeça em um setor completamente diverso do negócio principal pode ser uma aposta arriscada. "Melhor seria aproveitar as lojas do Matone para ampliar o contato com o pecuarista. O caso do Concórdia, da Sadia, mostra que dissociar o braço financeiro da atividade principal pode não ser a melhor estratégia."

 

PARA LEMBRAR

 

A associação com a J&F não é o primeiro negócio dos Matone com um grande grupo. Em 2004, a família vendeu a Credimatone ao HSBC por R$ 30 milhões. As 47 lojas da rede foram incorporadas à Losango. Em 2008, segundo fontes, André Esteves, do BTG - o mesmo que comprou o Panamericano este ano -, considerou ficar com o Matone.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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