O Rio Grande do Sul se prepara para colher a segunda maior safra de trigo da sua história. Caso se confirmem as estimativas da Emater, que indicam a produção de 2,094 milhões de toneladas, colhidas em 974.942 hectares, o Estado baterá novo recorde em produção, só verificado na safra 2003, quando os triticultores chegaram à marca de 2,395 milhões de toneladas.
O segredo do alto índice produtivo está no bom nível tecnológico aplicado nas lavouras, no prognóstico de clima bom e na boa situação dos preços do trigo no momento do plantio. "Na época, a cotação chagava a R$ 33,00 a saca de 60 quilos. Hoje não passa de R$ 25,00, uma queda de 33%", declara o assistente-técnico da Emater Cláudio Doro.
No que diz respeito à tecnologia, o especialista explica que foi dada maior atenção ao controle de pragas, com utilização mais intensa dos defensivos e melhor tratamento das sementes. Além disso, o aumento de 14,63% da área tem influência direta no aumento de produção, fator motivado especialmente pela melhor capitalização dos produtores, após uma safra de verão cheia. "Tivemos um bom início de colheita, que chega a 5% no Estado. Boa qualidade do trigo e boa produtividade." Nesse quesito, os resultados estão muito acima do esperado, com médias elevadíssimas, como as registradas em Santa Rosa: entre 37 a 45 sacos por hectare, contra a média histórica de 32 sacos.
Além dos bons resultados no campo, os triticultores também comemoram a possibilidade de conseguir incrementar a comercialização no mercado interno, em função da iminente diminuição das exportações argentinas, já que o País passa por forte estiagem. "O Rio Grande do Sul é um estado tipicamente exportador de trigo para o mercado interno. Fica com 900 mil toneladas e exporta o restante. E com a alta produção, para que não tenhamos um excedente, essa brecha deixada pela Argentina será essencial."
A situação do país vizinho é muito complicada e a colheita despencará dos 16 milhões de toneladas do ano passado para 10 milhões este ano. O excedente, quase todo exportado para os brasileiros, que só produzem 5 milhões das 11 milhões de toneladas que consomem. Com o mau tempo, houve redução de área e de produtividade. Mesmo com todas as expectativas positivas, o presidente da Fecoagro, Rui Polidoro Pinto, alerta que, em função do clima adverso que tem marcado a primeira quinzena de outubro, pode resultar em alguma alteração em termos de volume produtivo. "O trigo tem que ser colhido logo, senão perde qualidade e com chuvas, alta umidade e pouca insolação, podem surgir doenças."
Para Polidoro, mesmo com a quebra na Argentina, os agricultores brasileiros podem encontrar problemas em termos de liquidez, já que se verifica uma forte retração de mercado, motivada pela crise financeira internacional. "Os moinhos estão retraídos e podemos passar por uma situação de demanda reprimida."
Para tentar escapar desse problema, representantes do setor tritícola gaúcho encaminham ainda nesta semana um documento com pleitos ao governo federal. Nele, solicitam elevação dos prêmios para escoamento da produção, de R$ 70,00 para R$ 200,00 e credenciamento de mais armazéns pela Conad, para que possam ser adquiridos AGFs.
Veículo: Jornal do Comércio - RS