A Fibria, empresa resultante da fusão entre Votorantim Celulose e Papel (VCP) e Aracruz e maior produtora mundial de celulose branqueada de eucalipto, poderá vender também o Projeto Losango, que hoje compreende uma área de mais de 100 mil hectares - 43 mil hectares de plantio de eucalipto e 60 mil hectares de mata nativa preservada -, como parte do processo de redução de endividamento, que contempla a alienação de ativos considerados não-estratégicos. Segundo uma fonte do setor, o maciço florestal da Fibria, que fica no extremo Sul do país, valeria entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões.
De acordo com o diretor florestal e de estratégia da companhia, Marcelo Castelli, propostas pelo ativo já foram recebidas. "Estamos avaliando a possibilidade de uso (da madeira) para outros fins, como energia e cavaco", afirmou. Em razão de cláusulas de confidencialidade, o executivo não informou se há empresas do setor de celulose interessadas na floresta.
No entanto, a chilena CMPC, que comprou a unidade Guaíba da Aracruz por US$ 1,43 bilhão em 2009, é vista como potencial interessada nas florestas da Fibria em solo gaúcho, por conta dos planos de expansão da operação, hoje denominada Celulose Riograndense. A intenção de ampliar a fábrica já foi declarada pelos chilenos e, caso saia do papel antes de 2015, resultará em pagamento de multa de US$ 250 milhões à Fibria, conforme previsto em contrato.
A companhia segue ainda em busca de potenciais compradores para a unidade de papéis especiais que opera em Piracicaba (SP), que foi colocada à venda no ano passado, com valor de mercado estimado em US$ 400 milhões. "Esses dois ativos estão sendo testados no mercado", afirmou Castelli. Segundo ele, a Fibria espera ter tomado uma decisão sobre as duas operações até o meio do ano. Em 1º de julho, o executivo assumirá a presidência da Fibria, no lugar de Carlos Aguiar, que terá uma cadeira no conselho da empresa em 2012.
O Projeto Losango foi lançado no fim de 2005 pela VCP e previa investimentos de US$ 1,3 bilhão para implantação de uma nova fábrica de celulose, em Rio Grande ou Arroio Grande, como parte da estratégia para alcançar receita líquida US$ 4 bilhões até 2020. No fim de 2008, contudo, a VCP oficializou o adiamento do projeto. Já a unidade de Piracicaba tem capacidade de produção de 160 mil toneladas anuais de papéis térmicos, autocopiativos e couché. Em documento encaminhado a potenciais compradores pelo Goldman Sachs, que foi contratado para coordenar a operação, a fábrica é identificada como a maior em seu segmento na América Latina.
Com a venda desses ativos, a Fibria dá sequência à redução de seu endividamento e nível de alavancagem, que caíram de forma significativa no último ano. Ao fim do primeiro trimestre, a dívida líquida da companhia estava em R$ 7,96 bilhões, uma queda de 19% na comparação com o verificado em dezembro. A alavancagem medida pela relação entre dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) recuou para 2,9 vezes, frente a 5,6 vezes no início do ano passado. "A Fibria começou 2011 com o pé direito", disse o presidente, Carlos Aguiar. "Os resultados mostram a eficácia da estratégia de concentrar esforços na gestão do endividamento."
Segundo o diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, João Elek, embora o nível atual de alavancagem seja "bom", a companhia segue analisando novas oportunidades de redução. "A venda da fatia no Conpacel e da KSR ajudaram. Outros desinvestimentos poderão contribuir nesse sentido." A Fibria registrou lucro líquido de R$ 389 milhões no primeiro trimestre, uma alta de 140% ante o registrado no quarto trimestre, impulsionado sobretudo por essas duas operações. Em relatório de ontem, o Goldman Sachs classificou como "robusto" o resultado da empresa no primeiro trimestre.
Veículo: Valor Econômico