O mercado do milho vive um período de tensão no âmbito produtivo, tanto em nível internacional como em nível nacional.
Pelo lado externo, registra-se atualmente expressivo atraso nas operações de plantio nos Estados Unidos, que foram prejudicadas pelo clima frio e úmido e que marcou o início da safra 2011/12 no hemisfério Norte.
Até o dia 24 de abril, o plantio norte-americano de milho havia totalizado apenas 9% da área estimada, ante 46% semeados no mesmo período do ano passado.
Com a janela de plantio tornando-se estreita, há dúvidas se os produtores norte-americanos conseguirão semear os 37,3 milhões de hectares planejados. Com os baixos níveis de estoques de milho nos Estados Unidos, obviamente que há uma preocupação em relação à oferta futura do grão.
Em virtude desse cenário de incerteza, os preços futuros do milho negociado na Bolsa de Chicago voltaram a romper a barreira de US$ 7 por bushel.
No mercado doméstico, o clima seco no Estado de Mato Grosso gera preocupações em relação ao desenvolvimento da segunda safra de milho. O plantio da safrinha já havia sido prejudicado pelo excesso de chuvas, que acabou por retardar a colheita da soja.
Consequentemente, as áreas de milho safrinha que foram semeadas tardiamente são as mais expostas ao risco climático, como é o caso do noroeste mato-grossense.
Boa parte das áreas produtoras de Mato Grosso não registra chuvas há mais de 20 dias. Cruzando essa informação com os dados relativos à evolução de safra, é possível calcular o percentual da área plantada que estaria exposta ao risco de perdas caso o Estado não registre chuvas no curto prazo.
Até a última sexta-feira, cerca de 39% das lavouras mato-grossenses de milho encontravam-se no estágio de floração, período extremamente sensível à escassez de água. Nesse mesmo período, cerca de 7% das lavouras não haviam atingido ainda os 30 primeiros dias após a germinação.
Portanto, mais de 45% das lavouras de milho de Mato Grosso correm risco de registrar perdas caso não haja mudança nas condições climáticas. As incertezas em relação à segunda safra de milho podem ser observadas pelos preços futuros do grão negociado na BM&FBovespa.
Nos últimos dois meses, o contrato para setembro deste ano já registrou valorização superior a R$ 2,50 por saca. Do ponto de vista dos preços, as condições são pendentes para a manutenção das cotações em patamares altos, tanto no mercado externo como no doméstico.
Obviamente que tais condições poderão ser revertidas caso as mudanças climáticas tornem-se favoráveis.
No entanto, enquanto esse cenário não se concretiza -e não podemos afirmar se irá se concretizar- o mercado deverá permanecer em clima tenso, o que dará suporte para os altos preços do grão.
Veículo: Folha de São Paulo