O crescimento da atividade comercial brasileira no mês do Dia dos Namorados deve chegar a 7,1%, em relação a junho de 2010, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). As vendas relacionadas à data comemorativa, entretanto, podem obter um aumento de 10% nos centros de compra, de acordo com a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop).
Especialistas do setor de comércio, consultados pela reportagem, avaliam que o mercado segue aquecido, neste mês e no ano, embora não apresente o mesmo vigor observado em 2010, cujos resultados foram considerados os melhores da década. Hoje, há uma desaceleração provocada principalmente pelas medidas estatais de restrição ao crédito e pela ameaça de inflação.
"Todo dificultador de consumo é prejudicial ao comerciante", disse o superintendente da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), André Luiz Pellizzaro. "Mas confiamos no desejo do brasileiro, que tem por costume gastar bem no Dia dos Namorados. E a classe C está entrando para valer no consumo", contrapôs o representante.
A CNDL divulga hoje sua projeção para a data, mas já indicou ao DCI que as vendas devem superar o resultado de 2010, quando houve alta de 7,23%. O tíquete médio que era de R$ 100 em junho do ano passado deve aumentar neste mês.
Para o economista Fábio Bentes, da CNC, a taxa mensal de crescimento do comércio brasileiro, agora, será menor que nos últimos doze meses. "A nossa previsão para junho é de 7,1% nas vendas", afirmou. Já a projeção anual é de 7,4%, ante a alta de 10,9% verificada em 2010.
Bentes analisa, como motivos para a retração econômica, o encarecimento do crédito, a incidência da inflação em produtos "menos básicos" e a corrosão na renda dos trabalhadores. "O rendimento real não tem mais a força que tinha no ano passado", afirmou o economista. "E as vendas a prazo, que acomodavam os juros, pararam de crescer".
Otimismo
Nesta semana, baseada em pesquisa, a Serasa Experian divulgou que 57% dos principais executivos do varejo nacional esperam aumentar seu faturamento no Dia dos Namorados. "Nós tivemos um ótimo Dia das Mães. Como a data é logo em seguida, mantém-se o nível de otimismo", observou o assessor econômico Carlos Henrique de Almeida, da Serasa.
O especialista acredita que o encarecimento do crédito, promovido pelo governo federal, e o aumento no endividamento do consumidor, paralelo à diminuição da confiança, não vão afetar o consumo relativo à data comemorativa. "O comércio para atingir o consumidor endividado, faz parcelamentos", afirmou Almeida.
E para ele há também uma questão cultural. "O consumidor é irracional no mundo todo, mas no Brasil ele não é acostumado a avaliar os juros e continua a pagar a prazo.
O consumidor brasileiro vê somente a facilidade do crédito, sem avaliar os custos", disse.
Almeida avalia que os produtos mais vendidos serão os de "ampla margem de preço", como roupas, acessórios e calçados, em primeiro lugar, e perfumes e cosméticos, em segundo. Isso se deve a uma "ameaça de inflação ainda não consolidada", que leva maior procura às mercadorias com mais ofertas de preço.
Nem tanto
O diretor de relações institucionais da Alshop, Luís Augusto Ildefonso, fez uma afirmação importante ao DCI, em comentário à projeção de crescimento feita pela entidade, segundo a qual as vendas devem crescer 10% neste Dia dos Namorados. "Seria razoável um número menor", disse.
"Cada vez mais, o consumidor usa da racionalidade em vez da emotividade. Principalmente os novos consumidores, advindos da classe C, que não compram nada parcelado se não tiverem certeza de que poderão pagar", explicou Ildefonso.
Aqui vale lembrar que o Palácio do Planalto tem representado medidas de restrição ao crédito, elaboradas pelo Ministério da Fazenda e o Banco Central. A manutenção da taxa básica de juros, o aumento na cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a nova regra para cartões de crédito - pagamento maior da primeira parcela - são exemplos de ações macroprudenciais, em combate à inflação.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,43% em maio, o menor resultado para o mês desde 2007, segundo o Instituto Brasileito de Geografia Estatística (IBGE).
Veículo: DCI