''O BNDES não quer sair agora do JBS''

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Empresário contesta rumores de mercado e diz ter ouvido do banco que o plano para a empresa é de longo prazo

 

O presidente do JBS, Wesley Batista, diz duvidar que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) comece a se afastar da sociedade que tem com o frigorífico. Essa possibilidade foi levantada por analistas em maio, depois que o banco converteu debêntures (dívida) em ações da empresa. Como as ações são mais líquidas e podem ser vendidas a qualquer momento, o mercado especulou que o banco se preparava para desembarcar do investimento no JBS, que tantas críticas já lhe rendeu.

 

"O JBS é um investimento de longo prazo do BNDES. O banco não tem interesse em desinvestir", diz Batista. Para reforçar sua opinião, o empresário cita dois episódios. Há um ano, um investidor estrangeiro pediu à família Batista que sondasse o BNDES sobre a venda de parte das suas ações no JBS. A resposta, segundo ele, foi não. Agora, por conta dessas dúvidas levantadas pelo mercado, os Batista procuraram o banco novamente e o BNDES garantiu que segue no negócio.

 

Recém-chegado dos Estados Unidos, Wesley Batista assumiu a presidência do JBS, o maior frigorífico do mundo, em fevereiro. Ele tem um estilo um pouco diferente do irmão mais novo e antecessor no cargo, Joesley. Também é despachado e orgulhoso de suas origens, mas é menos impetuoso e escolhe as palavras com mais cuidado. Assumiu com a missão de reverter as desconfianças do mercado, que castiga as ações do JBS com uma queda de 27% este ano. A seguir, os principais trechos da entrevista:

 

Por que você entrou no lugar do Joesley (Batista, hoje presidente da holding J&F)?

Quando fizemos as últimas aquisições, ficamos focados na integração dos negócios. O Joesley estava concentrado na compra do Bertin e eu nas aquisições nos EUA (Swift, Pilgrim"s Pride, entre outras). No fim do ano passado, com as empresas integradas localmente, estava na hora de só um de nós olhar o negócio como um todo. Como a operação que estava sob minha responsabilidade representa 65% do grupo, achamos melhor que fosse eu.

 

Seu trabalho será diferente daquilo que seu irmão fez? A política de aquisições vai continuar?

A fase é diferente. Nos últimos quatro a cinco anos, eu e o Joesley lideramos o crescimento da empresa. As grandes oportunidades para diversificar em outras proteínas, como suínos e aves, e para estar presente em países estratégicos foram aproveitadas. Vamos continuar crescendo, mas não estamos mais com o foco em aproveitar a oportunidade. Agora precisamos colher os frutos, trazer resultados, buscar sinergia.

 

O BNDES trocou debêntures por ações do JBS. A companhia anunciou que o objetivo da operação é reduzir o endividamento no Brasil, só que mesmo assim as ações continuam caindo...

As debêntures foram importantes para viabilizar a compra da Pilgrim"s, mas, desde que fizemos a operação, o mercado vem com várias dúvidas. É difícil dizer qual é o motivo da queda das ações. Acho que o mercado não esperava que o BNDES convertesse as debêntures agora, mas só no fim do ano (prazo previsto em contrato) ou até depois. Não esperava essa diluição (dos acionistas minoritários) de bastante relevância ...

 

Por que vocês anteciparam essa operação?

A estrutura de capital estava muito desbalanceada. Quase não temos dívida nos Estados Unidos. Todo o encargo financeiro está aqui. Do ponto de vista fiscal, é ineficiente, porque geramos caixa nos EUA e pagamos muitos impostos. Enquanto isso, carregamos a dívida no balanço no Brasil. O ideal seria transferir a dívida para os EUA, elevar a despesa financeira lá e pagar menos imposto de renda. O problema é que isso não era possível por causa das debêntures, porque havia a perspectiva de o BNDES ter uma participação no JBS USA. Todo esse prejuízo financeiro gera uma conta de US$ 150 milhões por ano. Se já sabíamos que as debêntures seriam convertidas no Brasil, porque esperar e continuar perdendo US$ 150 milhões?

 

Junto com a operação do BNDES, vocês captaram quase US$ 1 bilhão no exterior. Esse dinheiro já chegou ao Brasil?

Está vindo por partes. O plano todo é captar US$ 2 bilhões para pagar dívida aqui. Já captamos US$ 1 bilhão e trouxemos US$ 650 milhões, que chegaram na semana passada.

 

Para alguns analistas, a operação foi um sinal de que o BNDES pode começar a vender sua participação de 31% no JBS.

Alguns investidores levantaram essa dúvida e fomos ao BNDES. Dissemos que as ações podiam estar pressionadas pelo receio de que o banco comece a se desfazer de sua posição. A resposta deles foi: "O JBS é um investimento de longo prazo, acreditamos na empresa e não há interesse de desinvestir agora".

 

Por quanto tempo é interessante para a companhia manter o BNDES como sócio?

Investidores de longo prazo, como o BNDES, atraem qualquer empresa. Um ano atrás, um grande investidor americano quis comprar uma posição grande no JBS e nos pediu para consultar se o BNDES estava interessado em vender uma parte. O banco respondeu que não tinha interesse. Então, nas duas vezes que perguntamos ao banco sobre desinvestimento, a resposta foi não. Agora, se amanhã aparecer uma oportunidade e o BNDES encontrar um comprador, por preço que interesse, pode ser que diminuam um pouco sua fatia. Não dá para prever.

 

Os analistas enxergam um risco de a Pilgrim"s não cumprir as metas de governança acertadas com os bancos credores e, com isso, ser forçada a pagar à vista uma dívida de cerca de US$ 700 milhões. Pode acontecer?

A chance de a Pilgrim"s não cumprir as "covenants" (metas de governança) é zero. O mercado está com receio, mas a chance é zero.

 

Os Batista têm planos de comprar mais ações para recuperar os 50% de participação na empresa (depois da operação com o BNDES, essa fatia está em 47%)?

Não temos nenhum plano de aumentar nossa participação.

 

Mas, se na sua avaliação as ações estão baratas, não seria um bom momento?

Se eu tivesse sentado em caixa na holding, adoraria comprar tudo. Mas não vou tomar dívida na holding para comprar ação, não faz sentido. E essa questão de 47% ou 50% não faz diferença em termos de controle. Eu não compraria ações por causa disso, mas sim porque acho um bom negócio.

 

O grupo Bertin atravessa dificuldades financeiras por causa dos investimentos no setor de energia. Eles já manifestaram interesse em vender sua participação no JBS?

Não. Eles nunca cogitaram essa hipótese.

 

No episódio da Inalca (na Itália), vocês acusaram os Cremonini de má-fé e a parceria foi desfeita. Fica alguma lição?

A lição é: operar num outro país, em sociedade 50% a 50%, não fazemos mais. Ou temos o controle ou não dá. Nós fornecíamos carne para eles há muitos anos. Mas é igual casamento. Você namora anos, acha que conhece a pessoa e só na hora que casa vai ver como é que é.

 

Como vocês vão reconstruir as operações do JBS na Europa?

Não temos interesse agora de remontar nada na Europa. Tem outras oportunidades melhores. Nosso foco está em América do Norte, América do Sul e Austrália.

 

A holding da família comprou o banco Matone, uma empresa de produtos de higiene e está investindo na construção da maior fábrica de celulose do mundo. Não é muita coisa de uma só vez?

Depende o angulo que você olha. Do nosso, não. Já temos um banco pequeno, e estamos fazendo uma fusão com outro banco do mesmo tamanho. Não estamos entrando num ramo novo e não tem desembolso de caixa. Compramos a empresa de higiene e limpeza do Bertin, mas é um ramo em que já atuamos há 25 anos. Pelo prazo e pelas condições, essa aquisição foi uma oportunidade interessante. De fato, estamos entrando num ramo novo que é a celulose. É um negócio muito maior, que exige muito capital. Mas começamos esse projeto anos atrás, temos uma empresa de reflorestamento e acreditamos muito na produção de celulose no Brasil. Não é muita coisa ao mesmo tempo. Não estamos dando tiro para todo lado.

 

QUEM É

Wesley Mendonça Batista, 41 anos, casado, é o quarto dos seis filhos de José Batista Sobrinho. Assumiu a presidência do JBS em fevereiro, depois de quatro anos cuidando dos negócios da família nos Estados Unidos. Começou a trabalhar aos 17 anos, época em que o frigorífico do pai abatia 100 animais por dia. Hoje, com operações em vários países, o JBS abate 68,5 mil bois e 8 milhões de frangos a cada dia. É a maior empresa do mundo em seu setor.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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