O presidente mundial da Nestlé, Paul Bulcke, declarou ontem que vai manter o "pé no acelerador" para expandir as vendas em 2009 no Brasil, apesar da crise financeira internacional, argumentando que de toda maneira "as pessoas vão continuar comendo".
O novo vice-presidente para a América Latina, Luís Cantareli, informou que entre janeiro e setembro o crescimento orgânico da empresa no país ficou próximo dos 17%, o dobro da média mundial, e os investimentos não serão afetados. "Vamos acelerar o que já estamos fazendo e um pouco mais", afirmou.
A Nestlé aposta na sua diversificação geográfica, com 500 fábricas no mundo, e na estratégia de identificar outros nichos para resistir à turbulência global, como nutrição para bebês e uma nova linha de chocolates de luxo na Europa, além do lançamento de mais produtos populares e mais baratos nos países em desenvolvimento. No Brasil, a companhia quer expandir a capacidade da produção de produtos populares, ampliar seu negócio de máquinas de cafés em milhares de bares e continua interessada na aquisição de um negócio de água engarrafada.
No início de setembro, sem revelar detalhes, o presidente da companhia no Brasil, Ivan Zurita, disse que estavam sendo fechadas as aquisições de duas empresas e que os anúncios deveriam ser feitos em até um mês. Nenhuma compra foi anunciada até agora. Procurada pelo Valor para falar sobre os negócios, a Nestlé não se pronunciou.
Ao anunciar ontem os resultados dos primeiros nove meses do ano, Bulcke só mencionou a crise econômica global numa frase durante mais de uma hora de exposição e explicou depois que a empresa sentiu até agora "alguns ventos" da turbulência.
A Nestlé anunciou faturamento total de 81,4 bilhões de franços suíços (US$ 72,4 bilhões), entre janeiro e setembro, numa alta de 3,4%. O crescimento orgânico foi de 8%, acima das expectativas.
Somente a divisão de água engarrafada sofreu queda de negócios, atribuída em parte à resistência de consumidores da Europa ao produto por razões ecológicas. Além disso, mais empresas européias estão estimulando seus funcionários a beber água da torneira para economizar.
Nesse cenário, o grupo quer expandir seu negócio de água engarrafada nos mercados emergentes mais rapidamente. John Harris, vice-presidente de Nestlé Waters, disse que enfim resolveu um litígio com o município de São Lourenço (SP) e pode voltar a relançar no país a água Pure Life, a mais vendida no mundo.
Ele lembrou ainda que a companhia tem uma joint venture com a InBev na Argentina em água mineral e disse que "tudo é possível" também para o Brasil.
Com a desaceleração econômica em 2009, a empresa quer aumentar a produção dos PPP, que são os "produtos de grande marca em menor quantidade", como define Cantareli. Embora insista que não prevê diminuição da classe média, até porque conhece pouco o país, sabe que durante as crises as pessoas passam a ser mais cuidadosas com o orçamento.
Outra área em que a Nestlé diz querer colocar o pé no acelerador é na de refeições corporativas e fora do lar. Segundo Marc Caira, o chefe da Nestlé Professional, o potencial de mercado global do segmento de food service é de US$ 400 bilhões.
O presidente Paul Bulcke afirma que a empresa tem um portfólio já muito forte e parece apreciar pouco as grandes aquisições. Segundo ele, as compras já feitas permitiram crescimento de apenas 1% comparado ao crescimento interno de 5%.
Veículo: Valor Econômico