Como Wal-Mart quer acelerar o crescimento internacional

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Se a divisão que Doug McMillon comandasse fosse uma empresa independente, seria um dos maiores varejistas do mundo.

 

Agora, o diretor das operações internacionais do Wal-Mart, cujo faturamento anual já supera US$ 100 bilhões com cerca de 4.000 lojas em mercados como China, México, Brasil e Reino Unido, está prestes a ver seu império aumentar ainda mais.

 

O Wal-Mart concluiu na semana passada a aquisição do controle da rede sul-africana de supermercados Massmart Holdings Ltd., o que dá à empresa uma base num continente que pode estar maduro para o varejo focado em preços baixos. McMillon, de 44 anos, não faz segredo de seu plano ambicioso para a África, dizendo que o mercado pode ser tão grande para o Wal-Mart quanto a América Latina é hoje.

 

Mas o executivo enfrenta desafios em quase todos os cantos do planeta, da rotatividade nas diretorias do Japão e da China à lenta aceitação pelos consumidores brasileiros de sua fórmula de preços, batizada de "Preço Baixo Todo Dia". A empresa tem constatado que os consumidores brasileiros desconfiam da promessa do Wal-Mart quando podem encontrar preços mais baixos de certas mercadorias em outras redes que fazem grandes promoções em alguns itens enquanto aumenta os de outros.

 

Numa entrevista ao Wall Street Journal na sede da empresa em Bentonville, no Estado americano de Arkansas, este nativo da região - que algumas pessoas com conhecimento da empresa consideram o provável sucessor de Mike Duke na presidência executiva - discutiu os problemas da empresa na China, a entrada no mercado indiano e os planos para a Europa. Trechos:

 

WSJ: Quais são seus planos para a expansão na África?

Doug McMillon: Queremos acelerar o crescimento. Distribuir alimentos e atender os clientes de renda baixa à média na região são dois dos motivos por que estamos tão empolgados. O negócio de alimentos do Massmart hoje em dia é bem pequeno.

 

WSJ: Então a América Latina é um mercado comparável?

McMillon: A América Latina é uma boa comparação, mas começamos na América Latina em 1991. Algumas pessoas acham que as coisas acontecem do dia para a noite e simplesmente não é assim. Demora para conhecer o cliente, para criar a capacidade de logística. Acho que a África será parecida.

 

WSJ: O sr. enfrentou um êxodo de executivos de alto escalão recentemente, três na China e o diretor-presidente do Japão, na semana passada. Por que o sr. está perdendo tantos executivos na Ásia?

McMillon: A China está crescendo tão rapidamente, as operações do Wal-Mart estão crescendo tão rapidamente, que a rotatividade dos executivos continuará sendo parte dos nossos negócios.

 

WSJ: O sr. disse na assembleia geral do Wal-Mart, este mês, que não acha que a empresa vai algum dia ser a número 1 na China. Por que não?

McMillon: O comentário a que você se refere na verdade é apenas um reconhecimento de como o mercado é grande, como é diverso, como está crescendo rapidamente e quantos concorrentes estão nele.

 

WSJ: O sr. está satisfeito com o desempenho na China? Será que a saída recente desses executivos é o sinal que o sr. está buscando para adotar um direcionamento diferente?

McMillon: Gostaríamos de implementar de maneira mais bem-sucedida na China e num futuro não muito distante a política do preço baixo todo dia. Pedimos que algumas pessoas que têm experiência com o Preço Baixo Todo Dia e o Wal-Mart mudassem [dos EUA para a China], para nos levar a uma nova fase e ajudar a progredir ainda mais. Assim, acho que é o momento certo para sacudir um pouco as coisas e nos posicionar para outra camada de crescimento.

 

WSJ: O sr. está preocupado com uma desaceleração no Japão depois do terremoto?

McMillon: O mercado em geral é muito desafiador. E não é um mercado emergente, ele vai ter um índice de crescimento muito menor que o da China, por exemplo.

 

WSJ: Vamos conversar sobre a filosofia de oferecer "Preço Baixo Todo Dia", em vez de baixar mais o preço só de alguns produtos. Será que essa abordagem funciona em outros lugares como funciona nos EUA?

McMillon: Isso me lembra quando começamos a expandir nossa oferta de alimentos para mais regiões dos EUA e uma viagem que fiz a Michigan como comprador de alimentos, onde nossos funcionários explicaram que o Preço Baixo Todo Dia não daria certo em Michigan. Já ouvi isso antes. A grande aposta é que os clientes são espertos, e estou disposto a apostar isso em qualquer lugar do mundo, em qualquer hora. Com o tempo eles começam a prestar mais atenção nas pechinchas e oferecemos preços baixos todos os dias em todas as categorias de produto, não só em leite e ovos e produtos altamente visíveis para eles, eles entendem isso.

 

WSJ: O que o sr. está fazendo na Índia para convencer o governo a permitir investimento estrangeiro direto no varejo? O sr. já está perto de conseguir uma luz verde?

McMillon: Temos uma joint-venture com a Bharti [Enterprises Ltd., um dos maiores conglomerados da Índia] e já estamos lá faz alguns anos. Hoje temos seis lojas de atacado e cem outras de varejo para as quais prestamos apoio de retaguarda ou para compras e logística. Então já tivemos uma oportunidade de provar que estamos ajudando a baixar os preços, e a inflação é uma grande questão na Índia. Já demonstramos nossa capacidade de fornecer alimentos seguros.

 

WSJ: O sr. está abrindo um escritório administrativo regional na Europa. O sr. tem novos planos para a Europa continental?

McMillon: Com tempo, enquanto aprendemos mais coisas em comércio eletrônico e [varejo] multicanal. Mas não temos de fazer tudo ao mesmo tempo.

 


Veículo: Valor Econômico


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