Processo de arbitragem não será interrompido e plano de assumir controle do GPA em 2012 está mantido
A noite de ontem foi tumultuada no número 58 da Avenue Kléber, em Paris. No escritório do grupo Casino, uma informação de última hora surpreendeu a diretoria da varejista francesa. O empresário Abilio Diniz, sócio do Casino na holding Wilkes, controladora do Grupo Pão de Açúcar (GPA), estava na capital francesa, mas segundo informação recebida pelo Casino, o empresário teria ido à sede do grande rival Carrefour.
Até o início da noite de ontem, a disposição do Casino era de conversar com Diniz- antes de saber que o empresário teria ido procurar o Carrefour. Diniz, segundo sua assessoria, chegou ontem em Paris e estava tentando um contato com o presidente do Casino, Jean-Charles Henri Naouri. A intenção era entrar em um entendimento, sem brigas com sócio. Inicialmente, Diniz voltaria ao Brasil hoje de manhã, para dar a última aula do seu curso de liderança na Fundação Getúlio Vargas, mas a cancelou. Permanece em Paris na tentativa de encontrar-se com Naouri.
A iniciativa de conciliação foi tomada quase um mês depois de o Casino recorrer à Câmara Internacional de Comércio (ICC), em São Paulo, pedindo uma arbitragem contra Diniz para manter o acordo fechado entre as partes em novembro de 2006 na Wilkes. Segundo o acordo, o Casino deveria ser informado de qualquer oportunidade de negócio para o grupo no Brasil. As conversas sobre uma possível fusão com o Carrefour no país, porém, ocorreram sem o conhecimento do Casino.
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O sócio francês de Diniz já deixou claro seu dissabor com as investidas do brasileiro. Desde 22 de maio, quando a imprensa francesa revelou a aproximação entre o empresário e o Carrefour, o Casino tomou três medidas firmes. Em 31 de maio, entrou com pedido de arbitragem. No início de junho solicitou ao Tribunal de Comércio de Nanterre a apreensão de documentos na sede do Carrefour, que comprovassem as conversas entre Carrefour e Diniz, que teriam começado em março. No dia 16, data da reunião do conselho de administração do Pão de Açúcar, da qual representantes do Casino tomaram parte, a rede francesa anunciou o aumento da sua fatia na companhia, de 34% para 37%.
Durante todo esse tempo, Diniz teria se mantido em silêncio. Sua única comunicação com Jean-Charles Henri Naouri foi no final de maio, quando o presidente do Casino mandou um e-mail ao sócio pedindo explicações sobre as notícias veiculadas pela imprensa francesa, a respeito da sua negociação com o Carrefour. Segundo apurou o Valor, Diniz confirmou a conversa com o rival francês, mas afirmou não ter nenhuma informação relevante a dar ao Casino ou ao Pão de Açúcar. A varejista brasileira, líder absoluta no país, teria ficado à parte dessa negociação, entabulada diretamente por Diniz.
Mesmo Diniz tendo pedido reunião com Naouri, o Casino não cogita interromper o processo de arbitragem. Os documentos apreendidos na sede do Carrefour, que comprovam as trocas de mensagem entre Diniz, Carrefour e Estáter, a butique financeira que assessora o brasileiro, devem ser usados como prova no processo. O Casino não iria abrir mão, também, de exercer sua opção de compra do controle da Wilkes em junho de 2012, já prevista no acordo de acionistas.
Mas agora, se ficar confirmada a visita de Diniz à sede do Carrefour, o Casino só vai ouvir na Justiça o que o sócio tem a dizer.
O Casino confirmou ao Valor que ainda não teve acesso aos 22 documentos apreendidos pelo Tribunal do Comércio de Nanterre que comprovam a existência das conversas entre Diniz e o Carrefour. Por enquanto, a decisão desse tribunal de comércio, anunciada na sexta-feira, de manter sob custódia os e-mails trocados entre Diniz, Carrefour e a Estáter é apenas a "primeira etapa", diz o Casino, ressaltando que a confirmação de que as negociações ocorreram já é um elemento importante. Afinal, o grupo Diniz vem negando os contatos com o Carrefour.
Agora, o próximo passo do Casino será tentar judicialmente obter acesso aos documentos, a grande maioria e-mails.
Na França, o Carrefour, que se recusa a comentar o assunto, deverá contestar, provavelmente em outra instância, a legalidade da apreensão realizada, a pedido do Casino, pelo Tribunal de Comércio de Nanterre. Os recursos contra uma decisão de um tribunal desse tipo são levados a uma corte de apelações, uma instância superior.
Veículo: Valor Econômico