Se o Walmart for coadjuvante, o resultado tende a não ser bom para consumo e consumidores. Caso contrário, a rivalidade cumprirá seu papel social.
CLAUDIO FELISONI DE ANGELO
Atribuí-se ao famoso estadista britânico a seguinte frase: "...a Inglaterra não tem posições. Tem interesses." O cenário tumultuado pelo anúncio dos entendimentos ou desentendimentos entre os três gigantes do varejo, Pão de Açúcar, Casino e Carrefour, estimula o exame dos aspectos, ou interesses, que motivam suas posições.
A peça bem poderia denominar-se "O desejo pelo controle". Esse desejo certamente está motivado pelo crescimento auspicioso do mercado de consumo no Brasil.
A encenação dos protagonistas, cujo objeto de desejo é o controle, tem o apoio de um coadjuvante de peso: o governo brasileiro. O papel desempenhado por esse ator é obviamente condicionado pelo conjunto de valores dos que governam. A análise da história recente dos negócios demonstra as preferências desse ator pela formação de conglomerados capitaneados por locais.
Dois outros atores interagem nesse espetáculo: consumidores e fornecedores. Ambos preocupam-se com a concentração das vendas no setor. Consumidores ficam receosos que a redução dos competidores implique preços maiores. Os fornecedores temem que a existência de menos empresas compradoras obrigue-os a encolher margens.
A eventual fusão aumenta a concentração. De 2004 a 2010 a concentração medida pelos cinco maiores supermercados aumentou sete pontos percentuais, para 47%. Mas é importante mencionar que as comparações internacionais, Europa e Estados Unidos, não revelam uma concentração excessiva.
Contudo, como a competição se estabelece no plano das lojas, é certo que em determinadas regiões o outro ator, o governo, nessa situação com a indumentária do Cade, terá de agir para que o ambiente de competição seja preservado protegendo os interesses dos consumidores.
Os fornecedores, por sua vez, vão enfrentar ambiente mais duro. Porém, a queda de braços se fará entre dois atores muito musculosos. Como em todos bons enredos não se conta tudo, aqui também fica uma interrogação caso a negociação prospere: ficará o Walmart em uma posição de ator coadjuvante no mercado brasileiro ou tentará ser protagonista.
Se for coadjuvante, o resultado tende a não ser bom para consumo e consumidores. Caso contrário, a rivalidade cumprirá seu papel social.(CLAUDIO FELISONI DE ANGELO é presidente do Conselho do Provar/Ibevar)
Veículo: Folha de S.Paulo