Supermercados de menor porte também preveem mais dificuldade para negociar preços com fornecedores
Acesso a recursos do BNDES não é fácil devido ao nível de exigência do banco de fomento. Para a modalidade de crédito direto a aprovação do financiamento pode durar um ano.
O apoio do governo à fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour não é vista com bons olhos. A negociação vai criar um concorrente feroz, com forte influência entre os fornecedores, os quais vão tentar recuperar o prejuízo no pequeno varejo.
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) assina embaixo para a fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour, os pequenos varejistas ainda veem os recursos do banco de fomento como um sonho distante. Na rede Futurama, com sete lojas em São Paulo, a ideia de conseguir um financiamento não foi levada adiante pois o nível de exigência do banco é muito alto. “É um processo muito trabalhoso e eles pedem muitas garantias”, diz Antonio de Souza, gerente da empresa.
A Super Rede, central de negócios que concentra seis supermercados nordestinos, possui cerca de R$ 195 milhões em financiamentos junto ao BNDES, mas este valor poderia ser maior segundo o presidente da associação, Gladson Lemos. “Temos dificuldade para acessar o BNDES. Eles exigem muita documentação e níveis altos de faturamento por parte das empresas”, afirma. O valor mínimo de financiamento no chamado crédito direto é de R$ 10 milhões. Abaixo desta quantia, as empresas devem recorrer aos bancos privados, os quais repassam recursos do BNDES.
Recentemente, o atacadista Tenda conseguiu seu primeiro empréstimo junto ao banco de fomento. O montante de R$ 50 milhões será usado para expansão e levou um ano para ser aprovado. “Tivemos de apresentar um projeto. Foi trabalhoso, mas valeu a pena, pois o custo é muito mais barato”, diz Marco Gorini, diretor da Vox Cred, financeira do grupo Tenda.Oexecutivo acredita que em uma próxima oportunidade o prazo para aprovação deva ser reduzido para cerca de seis meses. “Foi nosso primeiro financiamento com o banco, por isso demorou”.
Não é só emrelação aos financiamentos que os varejistas se sentirem preteridos. Para os executivos, o governo não deveria apoiar a fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour. Juntas, as empresas dominarão 27% do varejo brasileiro.
Batalha dos fornecedores
Atualmente, negociar a venda de produtos para Pão de Açúcar e Carrefour, separadamente, é tarefa para gladiadores. Assim, a união das empresas promete aumentar o martírio de muitos fabricantes. Mas, como nesta briga ninguém parece disposto a levar desaforo para casa, os fornecedores vão tentar recuperar a margem de lucro perdida para os gigantes durante as negociações com o pequeno varejo. “Como também não podemos ficar com o prejuízo, vamos repassar possíveis aumentos aos consumidores”, diz Lemos, da Super Rede.
Em maio deste ano, o Pão de Açúcar deu uma pequena amostra decomoeles são duros nas negociações. Na ocasião, a Globex, que reúne as operações de eletroeletrônicos do grupo, trabalhava com um estoque de produtos de dois meses e um prazo médio de pagamento aos fabricantes de 51 dias. Na época, a empresa anunciou que não considerava a negociação adequada e que renegociaria com os fornecedores para diminuir a quantidade de estoque ou ampliar oprazo de pagamento.
A indústria, por sua vez, dá sinais de insatisfação. Pesquisa feita pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) revela que 30% dos fabricantes nacionais desaprovama fusão. “Vai diminuir a opção de compras. O vendedor e produtor de mercadorias para supermercados serão prejudicados”, diz Eduardo Vieira, presidente da Firjan. Ele afirma que a fusão não beneficiará as exportações, confirme divulgou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. “Senão, essas empresas já estariam exportando. E não há razão para exportar apenas porque uma empresa brasileira terá 11% do capital de uma companhia estrangeira”, diz Vieira.
Cerca de 30% da indústrianacional desaprova a fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour, segundo pesquisada Firjan; juntas, asduas empresas terão 27% do varejo brasileiro
Veículo: Brasil Econômico