Calçadista mineiro "bate" a China

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Segmento apostou no mercado interno e investe em pesquisa, tecnologia e design para agregar valor.

 

Embora o setor calçadista do país esteja enfrentando graves problemas nos mercados interno e externo em razão da concorrência com os similares asiáticos, o segmento tem registrado bons resultados no Estado, ainda alavancados pelo consumo doméstico. A previsão do Sindicato das Indústrias Calçadistas do Estado de Minas Gerais (Sindicalçados-MG) é de crescimento de aproximadamente 10% neste ano.

 

Segundo levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), o setor apresentou 10% de expansão no primeiro trimestre. No entanto, as importações subiram 40% no mesmo período, o que indica que boa parte da demanda está sendo suprida por itens fabricados fora do país, mesmo com as medidas antidumping impostas pelo governo federal.

 

Apesar do vertiginoso aumento das importações, o presidente do Sindicalçados-MG, Jânio Gomes, acredita em um incremento ainda melhor das atividades calçadistas no Estado no segundo semestre, naturalmente mais aquecido em função das festividades de final de ano e do pagamento do 13º salário.

 

Segundo ele, as empresas mineiras ainda não foram afetadas pela chegada dos itens chineses, pois além de direcionar a comercialização para o mercado interno, evitando a concorrência ainda maior existente internacionalmente, as companhias também investiram em pesquisa, tecnologia e design para agregar valor à produção.

 

"O desempenho do setor em Minas é superior ao verificado nos outros estados porque aqui são fabricados itens mais específicos, modelos mais arrojados, que estão em patamares de qualidade, conforto e estética superiores aos calçados chineses", explica.

 

Gomes destaca também as iniciativas de divulgação dos produtos mineiros ao mercado consumidor do país, por meio da feira Minas Trend Preview, promovida pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

 

"O evento permite a apresentação das novas coleções ao setor varejista e aos consumidores, aumentando a visibilidade do produto mineiro no país todo, o que tem contribuído significativamente para alavancar as vendas", ressalta.

 

O proprietário da Luiza Barcelos Calçados, com sede na Capital, Luiz Raul Aleixo Barcelos, também afirma que os sapatos produzidos na China ainda não são uma ameaça às empresas mineiras, já que os itens asiáticos, por serem inferiores, não concorrem diretamente com a produção do Estado. No entanto, ele acredita que, em pouco tempo, as indústrias chinesas também estarão fabricando e exportando ao país calçados com maior valor agregado.

 

"A solução definitiva para a concorrência com os asiáticos é a realização de profundas reformas tributária e trabalhista, que desonerariam o setor, diminuindo o custo da produção. Além disso, a inflação precisa estar sob controle e as taxas de juros, mais baixas, assim como o câmbio, que sobrevalorizado torna maior o preço do produto nacional. Mas como esta solução parece longe de sair do papel, temos de continuar nos diferenciando pela qualidade e design dos produtos", argumenta.

 

A Luiza Barcelos registrou, no primeiro semestre, incremento de 10% no faturamento. No entanto, as exportações da empresa apresentaram retração de 20% no intervalo. "Até dezembro, a queda deve chegar a 50%. As vendas ao mercado internacional correspondiam a 8% do faturamento, mas até o final do ano o percentual deve cair para 4%. Como o nosso foco é atender ao mercado interno, o impacto não será tão significativo", prevê Barcelos.

 

Bolsas - A estratégia de investir em agregação de valor, inovação e design também tem se espalhado para outros segmentos ligados à moda, como a produção de bolsas. O setor, que não é protegido pela mesma medida antidumping que defende as indústrias calçadistas, tem sido ainda mais afetado pelas importações de itens asiáticos.

 

Conforme Rogério Lima, proprietário da empresa de mesmo nome, sediada na Capital, a única forma de não perder espaço no mercado interno é a realização de investimentos em tecnologia e qualificação de mão de obra.

 

"Como o setor não é tão expressivo quanto a indústria calçadista, não seremos contemplados por uma medida antidumping. Além disso, as reformas que desonerariam investimentos e tributos também não serão realizadas no curto prazo e a perspectiva é de que o dólar continue baixo frente ao real. Portanto, investir em qualidade é a única opção que temos", avalia o empresário.

 

Segundo ele, medidas mais pontuais e eficazes devem ser cobradas do governo federal. "Precisamos de profissionais mais qualificados, já que a escassez de mão de obra no setor é grande. A divulgação de cursos e treinamentos pelo governo é voltada aos jovens, que não estão interessados em empregos como os de sapateiro, por exemplo. O público alvo a ser atingido são pessoas de meia-idade", argumenta.

 

Ele também defende a desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) como forma de tornar o preço das bolsas produzidas no país mais competitivo. "A alíquota deste tributo é de 10%. Sem ela, o segmento pode reconquistar uma grande fatia do mercado interno", afirma.

 

Segundo Lima, a empresa registrou um crescimento de 18% no primeiro semestre e deve alcançar 30% de expansão até o final do ano. Outra tática adotada pelo empresário é a de comercializar os itens tanto para os lojistas quanto para o consumidor final. "Temos showrooms em Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia", esclarece.

 


Veículo: Diário do Comércio - MG


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