Frio reduz a produção gaúcha de leite

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Temperaturas baixas prejudicam pastagens; em plena safra, oferta deve ter recuo de 18,5 milhões de litros

 

O frio excessivo e as fortes geadas no início deste inverno, em pleno período de safra de leite no Rio Grande do Sul, devem provocar uma queda de 18,5 milhões de litros na produção gaúcha deste mês em relação a julho de 2010. O desempenho corresponde a uma retração entre 7% e 8% na mesma base de comparação, conforme projeção preliminar do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado (Sindilat-RS), e já deve ter impacto sobre os preços do produto para o consumidor nesta semana.

 

Segundo o diretor-executivo da entidade, Darlan Palharini, a estimativa foi feita a partir do levantamento sobre a captação das indústrias na primeira semana de julho, que indica uma queda na produção local para a média diária de 7,5 milhões de litros, 500 mil litros a menos do que em junho e 600 mil a menos do que em julho de 2010.

 

O problema é que o inverno começou com duas semanas de frio muito intenso e temperaturas negativas em várias regiões do Estado. Conforme o assistente técnico da Emater-RS, Fábio Schilick, o clima prejudicou o desenvolvimento das pastagens e reduziu a produtividade das vacas leiteiras nas propriedades com poucas reservas de silagem ou ração para complementar a alimentação dos animais.

 

De acordo com Palharini, o normal é que a produção gaúcha de leite siga uma trajetória ascendente de junho até setembro, antes de iniciar o período de declínio até chegar ao período mais forte de entressafra, de janeiro a abril. Desta vez, porém, o padrão foi quebrado. Até agora o Sindilat-RS não tinha registro de queda no volume produzido em julho na comparação com junho.

 

Em Farroupilha, a produção diária das 35 vacas de Itamar Tang caiu da média diária normal de 1,35 mil litros nesta época para pouco menos de 1,2 mil litros. "E o problema é que o efeito deste frio vai durar mais 30 ou 40 dias, porque as pastagens vão demorar para rebrotar", explica o pecuarista. Segundo ele, na semana passada as temperaturas na região chegaram a 2,5 graus negativos e até a água de beber dos animais congelou.

 

Tang tem 14 hectares de pastagens cultivadas de inverno e está complementando a alimentação das vacas com silagem e ração. Só que a prática não vai durar muito, porque ela aumenta o custo de produção de R$ 0,70 para R$ 0,85 por litro, um centavo além do que ele recebe da Coooperativa Santa Clara.

 

A Santa Clara, com sede em Carlos Barbosa, costuma receber nesta época 550 mil litros de leite por dia de 4,3 mil associados. O diretor Alexandre Guerra ainda não tem um levantamento sobre a quebra do início de julho, mas já ouviu relatos de criadores sobre reduções de 5% a 10% na produção.

 

A quebra na safra de leite também vai mexer nos preços do produto. No varejo, a previsão é de 10% de alta nesta semana, diz o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados, Antônio Cesa Longo.

 

Os criadores de gado leiteiro esperam elevação ou ao menos estabilidade dos preços recebidos da indústria neste mês em comparação com junho, segundo o assessor de política agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS), Airton Hochscheid. Para junho, o valor previsto (o fechamento só será conhecido dia 18) é de R$ 0,6724 por litro com padrão de qualidade normal.

 

Diferentemente do leite, o trigo está se beneficiando do frio. Com 90% da área plantada, as lavouras gozam de uma situação de "praticamente ausência de pragas e moléstias", informa a Emater-RS. A previsão é de que o plantio alcance 844,4 mil hectares no Estado e a produção, 1,846 milhão de toneladas.

 


Veículo: Valor Econômico


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