O governo interveio, e o mercado de arroz começa a se recuperar da depressão sofrida após a colheita da safra 2010/11. Depois de recuar abaixo de R$ 18 por saca em junho - uma queda de 35% ante igual período da temporada passada --, o cereal já é negociado na faixa de R$ 22 no Rio Grande do Sul. A perspectiva é de que os preços ganhem sustentação nos próximos meses.
Os preços da commodity vieram abaixo devido ao excesso de oferta e à valorização do real. A produção brasileira cresceu quase 18% neste ano, para 13,7 milhões de toneladas, segundo a Conab. O aumento foi impulsionado por ganhos de produtividade no Rio Grande do Sul, onde se cultiva mais de dois terços do arroz brasileiro.
A colheita dos vizinhos do Mercosul, com livre acesso ao mercado brasileiro, também cresceu. "Embora o Brasil importe pouco, os preços lá fora servem de âncora", diz Ovídio Ferronato, diretor da Corretora Mercado. Segundo o presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Cláudio Pereira, os custos de produção no Uruguai são até 45% mais baixos.
A demanda doméstica não consegue absorver aumentos de oferta. Os brasileiros devem consumir 12,8 milhões de toneladas do cereal na safra atual. O volume é 2,4% maior do que o registrado no biênio anterior, mas ainda inferior às 13,4 milhões de toneladas consumidas na temporada 2004/05, uma das maiores.
De acordo com balanço feito pelo governo, restaram quase 2,5 milhões de toneladas que não serão consumidas ou exportadas. A saída do Ministério da Agricultura foi entrar no mercado com R$ 1,1 bilhão em subsídios à comercialização e aquisições diretas, dos quais R$ 670 milhões já foram executados. Os recursos devem ajudar a retirar 3,6 milhões de toneladas de arroz do mercado. "É a maior intervenção da história", afirma Pereira.
Só os Prêmios de Escoamento da Produção (PEP), pagos às cooperativas e agroindústrias, enxugaram quase 1 milhão de toneladas do mercado - grande parte destinada ao mercado externo. Com isso, o Brasil deve exportar até 1,5 milhão de toneladas até o fim da safra, um recorde. "Os incentivos governamentais permitiram ao arroz brasileiro competir lá fora, explica Ferronato. Apesar disso, o mercado externo de arroz é restrito. "As exportações movimentam apenas 7% da produção mundial, e 90% desse volume está na Ásia", observa o presidente do Irga. (Gerson Freitas Jr.)
Veículo: Valor Econômico