Com a redução da concorrência, as pessoas ficam reféns de poucos fornecedores, o que reduz o poder de compra
Por trás da onda de fusões entre empresas com atuação no mercado brasileiro - ao exemplo do que vem ocorrendo, por exemplo, com as marcas de alimentos Sadia e Perdigão -, o consumidor acaba sendo o maior prejudicado à medida em que a diminuição da concorrência faz com que ele vire refém de poucos fornecedores e diminua o seu poder de compra. Para coibir abusos do poder econômico a atuação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) passa a ser determinante. A avaliação é da coordenadora institucional da Associação de Consumidores (Proteste), Maria Inês Dolci. "Com menos opções, o consumidor tem seu poder de escolha limitado. Toda vez que tem uma concentração de mercado ele fica também privado de sua marca de preferência", comenta a advogada.
Para viabilizar a fusão, algumas restrições foram impostas pelo Cade, como a suspensão da marca Perdigão em um período de três a cinco anos, dependendo do produto (almôndegas, lasanhas e pizzas congeladas).
Para o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Fernando Serson, o cliente pode ser prejudicado. "O consumidor passa a ter uma alternativa a menos de compra. Eventualmente pode haver alta de preços, se não houver concorrência", ressalta Serson. Além disso, o professor ressalta que a Brasil Foods deve seguir o padrão da Sadia. "Uma vez que a Sadia de fato assumiu a operação da Perdigão, tudo aquilo que tiver de bom e de ruim será passado e repassado. O padrão deve ser o da Sadia, na sua forma e estrutura".
Setor aéreo
Na última semana, a Gol anunciou oficialmente a compra da Webjet e a notícia gerou grande repercussão na web, levando o assunto aos Trend Topics do Twitter no Brasil. Segundo monitoramento nas redes sociais, os usuários demonstraram apreensão sobre as expectativas com relação à qualidade de serviço, preços e tarifas. "Muitos internautas mostram-se receosos sobre como a fusão pode afetar o mercado de viagens aéreas. As empresas precisam conhecer os receios dos passageiros e continuar atuando fortemente no relacionamento via web e redes sociais", observa a gerente de inteligência e marketing da Miti Inteligência, Elizangela Grigoletti.
Sobre esse caso específico, a coordenadora da Proteste observa que como a Webjet é líder em reclamações entre as companhias aéreas, trata-se de uma fusão estratégica pro competitiva. "Se ela for retirada do mercado vai é resolver um grande problema. A empresa está atravessando uma crise financeira e oferece um serviço deficitário. É grande o número de pessoas que ficam nos aeroportos sem ter como embarcar em voos da companhia", frisa Maria Inês.
Supermercado
Já o plano de união do Pão de Açúcar e do Carrefour no Brasil foi frustrado na última terça-feira, dia em que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desistiu de apoiar o negócio e o sócio da varejista brasileira, o Casino, se posicionou oficialmente contra o negócio. Ao avaliar a operação de fusão de supermercados o Cade considera a concentração de lojas em uma região específica. Os técnicos dos órgãos ligados ao Cade avaliam ainda a disposição do cliente de se deslocar de uma loja para a outra, a fim de encontrar preços mais em conta, caso determinada loja esteja elevando os valores dos produtos abusivamente.
Veículo: Diário do Nordeste