Para se livrar de volumes excessivos de eletrodomésticos, lojas esticam prazos, cortam preços e negócios a prazo crescem 9,3% na quinzena, diz ACSP
As fortes promoções de preços e prazos feitas pelo comércio para desovar estoque de eletrodomésticos e eletrônicos acumulados na virada do semestre provocaram nova aceleração nas vendas a prazo em julho, apesar das medidas consecutivas de aperto ao crédito tomadas pelo Banco Central desde o fim de 2010.
Na primeira quinzena deste mês, as consultas para vendas a prazo cresceram 9,3% em relação ao mesmo período de 2010, segundo estatísticas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Em junho, na comparação anual, a variação havia sido bem menor, de 5,2%.
Em contrapartida, o ritmo das vendas à vista, que crescia a uma taxa de 6,7% em junho na comparação anual, recuou para 4,2% na primeira quinzena deste mês. "O mix de vendas mudou", afirma o economista da entidade, Emílio Alfieri. Ele aponta três razões para essa inversão de tendência.
A primeira delas é a forte retração dos preços. Dados coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para apurar o indicador oficial de inflação (IPCA) mostram que, em 12 meses até junho, os preços dos aparelhos eletroeletrônicos caíram 5,77% e as cotações dos itens de imagem, som e informática ficaram 12,92% mais baratos. Só os televisores acumularam queda de 24,34%. Em igual período o IPCA subiu 6,71%.
"A queda dos preços dos eletrodomésticos neutralizou a alta dos juros", observa o economista. Com preços bem menores, o valor da prestação acabou não ficando mais caro, apesar das altas seguidas da taxa de juros, que vem ocorrendo desde janeiro para esfriar o consumo.
Alfieri aponta também a base mais fraca de comparação, que é julho de 2010. Naquela época o Brasil foi eliminado da Copa e as vendas de TVs despencaram. Por último, as altas temperaturas da semana passada desestimularam as compras de roupas de inverno, que são à vista.
Promoções. Grandes redes de eletrodomésticos confirmam a reação das vendas de bens duráveis este mês, feitas à custa de promoções agressivas."Nossas vendas cresceram a uma taxa de 20% em relação a julho de 2010 na primeira quinzena deste mês", conta o supervisor geral das Lojas Cem, José Domingos Alves. Junho tinha sido um mês bem mais fraco e o faturamento havia aumentado 15% na comparação anual.
O executivo diz que os estoques estão normais, o equivalente a 45 dias de vendas. Mas, como a empresa comemora neste mês o seu aniversário, as campanhas estão muito agressivas. Todos os produtos vendidos nas lojas da rede podem ser parcelados em seis vezes sem acréscimo. Normalmente esse tipo de parcelamento é em até quatro vezes, ressalta Alves.
Para algumas linhas específicas, o parcelamento sem juros chega a dez vezes.
"Estamos tendo um mês de julho excepcional, com crescimento de 25% em relação a 2010", conta o diretor das Lojas Colombo, Thiago Baisch. Em junho, o acréscimo havia sido de 10%. Segundo o executivo, o frio intenso aumentou as vendas de aquecedores e lavadoras. Além disso, a rede decidiu ampliar os prazos de pagamento para até 12 vezes sem juros no cartão próprio.
Inadimplência do consumidor piora e preocupa
Dois indicadores de calote divulgados ontem mostram que a inadimplência do consumidor começa preocupar. No segundo trimestre deste ano, o índice de qualidade do crédito da Serasa Experian piorou e recuou para 80,1 pontos, após ter atingido 80,3 no primeiro trimestre. Dados da Associação Comercial de São Paulo revelam que o calote subiu 21,9% na primeira quinzena na comparação anual.
Veículo: O Estado de S.Paulo