Uma revolução no setor de pratos prontos

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Com cautela, concorrentes da BRF avaliam impacto das marcas Perdigão, Batavo e Rezende

 

Com vendas de aproximadamente R$ 1 bilhão e um crescimento na casa dos 20% entre 2009 e 2010, o mercado de pratos prontos e de pizzas congelados está prestes a passar por uma grande reviravolta. Dona das marcas Sadia, Perdigão, Rezende e Batavo, a BRF -Brasil Foods terá que tirar do mercado vários de seus produtos nesse segmento, por decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) do Ministério da Justiça. Diante desse cenário, os concorrentes estão atônitos. "É a primeira vez que acontece algo tão expressivo assim no setor", diz o vice-presidente da Coopercentral Aurora, Neivor Canton.

 

Pela decisão do Cade, anunciada na semana passada, a BRF terá de tirar do mercado por cinco anos as lasanhas e pizzas congeladas da marca Perdigão. A Batavo (com exceção dos produtos lácteos) será suspensa por quatro anos. Além disso, a companhia terá de vender a marca Rezende e não pode criar uma nova marca. A decisão do Cade afeta só lasanhas e pizzas. Linhas como a Perdigão meu Menu, de massas como penne e fettucine, continuam no mercado.

 

As três marcas têm linhas de pratos e pizzas congeladas. Por isso, no mercado de pratos prontos - no qual as lasanhas são 91% do volume, conforme dados Nielsen publicados pela revista "Supermercado Moderno" - será aberta uma lacuna correspondente a 37% do total vendido em unidades. Esta é a fatia da marca Perdigão, estimada pelo mercado. Batavo e Resende teriam cerca de 1% das vendas em volume.

 

A marca Sadia, também da BRF, lidera com cerca de 48% das vendas. Em pizzas prontas congeladas, a fatia da BRF é grande: a Sadia tem cerca de 44% das vendas em volume. Perdigão, Rezende e Batavo, juntas somam pouco mais de 35%. É essa parcela que deverá ser retirada do mercado a partir de março de 2012. A Aurora tem cerca de 2% do mercado de pizzas prontas congeladas e 1% do segmento de pratos congelados. A Seara, da Marfrig, fica com 4%. Nos dois segmentos, marcas regionais têm grande participação. Em São Paulo, por exemplo, a Mezzani Massas e a Massa Leve são expressivas.

 

"Com certeza, abre-se um campo de crescimento nesse mercado, mas isso não significa que as marcas rivais irão necessariamente absorver essas vendas ou adquirir ativos que a BRF terá de vender", diz o vice-presidente da Aurora. "Não sabemos qual será a reação do consumidor. Incrementar nossa capacidade de produção em virtude da saída dessas marcas é arriscado. Em vez de migrar para nossa linha, o consumidor pode concentrar suas compras na marca Sadia", diz ele. "Por isso está todo mundo muito cauteloso ainda", afirma.

 

A Aurora, que tem três fábricas em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e em Mato Grosso do Sul, produz pratos prontos congelados e pizzas. A linha de massas fica a cargo de uma fábrica em São Paulo, terceirizada.

 

O acordo feito com o Cade prevê a venda de dez unidades de alimentos, dois abatedouros de suínos, dois abatedouros de aves, além de granjas, incubatórios e oito centros de distribuição. Até a venda, "a BRF continuará operando normalmente estas unidades", disse a companhia. "O setor está muito curioso sobre esses ativos, mas ainda não se sabe se eles serão vendidos fracionados ou não", diz o executivo da Aurora.

 

O grupo JBS, que vende pizza e massas frescas com a marca Vigor, informou que "avalia todas as propostas disponíveis no mercado, mas não está participando de nenhuma negociação no momento". A concorrente Marfrig preferiu não se pronunciar.

 

A Nestlé, que tem várias marcas de pratos congelados fora do Brasil (Stouffer's, Hot Pockets, Lean Cuisine), chegou a atuar nesse segmento no país com a marca Findus, que mais tarde virou Maggi. A linha saiu do mercado na década de 90. Sobre a possibilidade de voltar a atuar com esses produtos ou de adquirir ativos da BRF, a empresa prefere não se pronunciar.

 

A Dr. Oetker, do Grupo Oetker da Alemanha, vende no Brasil misturas para sobremesas, gelatinas e bolos. Atua também no mercado de pizzas congeladas, com a marca Ristorante. A Dr. Oetker se opôs abertamente à compra da Sadia pela Perdigão, que formou a BRF.

 

O percentual dos lares que compravam regularmente esses produtos, em 2008, era de 17,1%. Em 2010, segundo a revista "SuperHiper", essa fatia passou a 30,5%.

 

Conforme a BRF, as lasanhas e pizzas prontas são fabricadas em diferentes fábricas, todas próprias. "A BRF vai reorganizar sua estrutura de produção, de modo a permitir que o futuro comprador das marcas a serem vendidas também conte com matéria-prima, abatedouros, fábricas e centros de distribuição", disse a empresa, por meio da assessoria de imprensa.

 


Veículo: Valor Econômico


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