Facilidade no uso de meio eletrônico aumentou a inadimplência entre o sexo feminino
Jorge Freitas
Com maior participação na renda familiar e no mercado de trabalho, a mulher passou a gastar mais nos últimos anos. E o cartão de crédito é a forma de pagamento favorita. Mulheres das classes B e C estão desembolsando 18% do orçamento com o pagamento das faturas, segundo pesquisa da Quorum Brasil. O meio eletrônico consome 26% de todo o dinheiro gasto pelas consumidoras com prestações mensais, mais do que com empréstimos, 22%, e financiamento de automóveis, 19%.
A comodidade trazida pelo uso do cartão, no entanto, fez também aumentar a inadimplência entre o sexo feminino. As mulheres são 55% das pessoas cadastradas no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). “Ainda assim, elas são boas pagadoras, ficam menos tempo no registro negativo”, destacou o gerente de relacionamento e negócios do SPC Brasil, Ronaldo Guimarães. Ele explica que as mulheres da faixa de 30 a 39 anos são as que mais utilizam os cartões. “Nessa idade, elas estão estáveis financeiramente e têm mais segurança para gastar. Além disso, começam a assumir compras de casa.”
A comerciante Pietra Soares da Silva, 22 anos, assume que, às vezes, se surpreende com o valor da fatura, que vem mais cara que o planejado. “Eu administro bem o cartão, mas é difícil não gastar além da conta”, disse. Roupas, lanches e supermercado estão entre os principais gastos. “Sempre procuro pagar o total da
fatura. O cartão oferece facilidades, como deixar o pagamento para outro mês. Mas isso acaba viciando”, observou.
Um dos atrativos do uso do cartão de crédito é o sistema de pontos, que dá direito a benefícios, como passagens aéreas. Por isso, muitas mulheres priorizam esse meio de pagamento, como a bancária Cimara Sena de Melo, 27. “Uso cartão por causa das milhagens. Inclusive, pretendo ir ao exterior no final do ano. O parcelamento sem juros também facilita a vida.”
O educador financeiro Reinaldo Domingos aponta que a mulher tende a gastar mais com a família e geralmente fica responsável pelas compras do mês, vestuário e necessidades dos filhos. Além disso, comprar coisas das quais não precisa é uma característica tipicamente feminina. “A maioria das mulheres têm muitos pares de sapatos e bolsas, algumas que nunca foram usadas”, afirmou.
Controle
O sócio da Quorum Brasil Cláudio Silveira, responsável pela pesquisa, salienta que mulheres da classe C têm mais despesas no cartão de crédito que as da classe B. “O segundo grupo compra mais à vista, enquanto o primeiro prefere parcelar.” Ele destaca que a tendência é que os gastos no meio eletrônico diminuam. “O governo está trabalhando para isto. A inadimplência está alta e o endividamento é preocupante”, frisou.
O especialista dá dicas para que o cartão de crédito não se torne um vilão. “Assumir uma prestação é, necessariamente, ficar endividado. Fazer um planejamento e controlar os gastos é essencial.” A estudante Lis Ribeiro, 19, está tentando ordenar o orçamento. Para ela, as mulheres devem ter mais consciência e abandonar as compras impulsivas. “Às vezes, eu passo da medida, mas, se não usar direito o cartão, a conta virá salgada no fim do mês”, alertou.
Correio Braziliense - 21/07/2011