Ascensão da classe média leva o Pão de Açúcar a lucrar R$ 91 mi

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A ascensão da classe média, que passou a comer melhor, levou o Grupo Pão de Açúcar (GPA) a lucrar R$ 91 milhões e crescer mais de 61% no segundo trimestre deste ano, ante igual período do ano passado. No cenário é possível dizer que os projetos monopolistas de Abílio Diniz às vezes têm sucesso, a despeito do que aconteceu na proposta de fusão com o Carrefour.

 

O conglomerado formado por GPA e Globex (Casas Bahia, Ponto Frio e Pontocom), fundido em 2009 teve bons resultados. "Isso inclusive em um ano não tão fácil, no qual as medidas macroprudenciais do governo tornaram o consumo mais comedido", afirmou o vice-presidente da companhia, Hugo Bethlem. O motivo que lastreia os resultados "consistentes e crescentes", segundo o executivo, é a ascensão da classe média, que passou a comer melhor. Nas operações do GPA, ao longo dos últimos meses, uma série de ações veio ao encontro do consumidor emergente.

 

A oferta de mercadorias mais sofisticadas e a transformação das bandeiras Sendas e Compre Bem em Extra figuram entre elas. "O consumidor não é mais o que só compra em promoção. Ele deixou de consumir produtos [perecíveis] básicos para comprar industrializados. As frutas ganharam maior valor agregado, assim como a área de bazar", explicou Bethlem. Em suma, os clientes das redes Pão de Açúcar (crescimento de 10%), Extra Hipermercado (24%) e Assaí (7,6%) estão gastando mais. Números notáveis no balanço da companhia - comentados em teleconferência - são os referentes às formas de pagamento utilizadas pelo consumidor. As quitações à vista já representam 51,9% do total de vendas e as feitas por cartão de crédito, 40,4%. Tais números consideram apenas as redes supermercadistas do GPA, ou seja, excluem da conta a Globex.

 

E aqui é importante realçar: os resultados do grupo são maiores quando as marcas de departamentos Casas Bahia, Ponto Frio e Pontocom são tiradas do balanço. O "GPA Alimentar", que desconsidera a Globex, faturou R$ 93,2 milhões no último trimestre, com crescimento médio de 10%. "A adequação das despesas [relativas à fusão de 2010] puxa o lucro para baixo", justificou Bethlem.

 

Em outras palavras, na voz do professor Gilberto Braga, do Ibmec-Rio, "a receita cresceu, e o que era lucro deu prejuízo. A atividade de departamentos reverteu o lucro". Contudo, o vice-presidente do GPA diz que a sinergia com a Globex está próxima de ser totalmente alinhada. Para este trimestre (julho a setembro), as expectativas não poderiam ser melhores. A bandeira Pão de Açúcar comemora aniversário no período, e as férias escolares favorecem os resultados do mês presente. Além disso, haverá a "conversão total das bandeiras Sendas e Compre Bem", segundo Bethlem.

 

Velha estratégia

 

"O GPA ganhou bastante musculatura com a consolidação das operações de Casas Bahia e Ponto Frio", avaliou Braga, diante do balanço trimestral da companhia. O professor também avaliou a relação do grupo com os fornecedores: "É uma estratégia antiga e relativamente comum: quem quer trabalhar com o Pão de Açúcar tem de aceitar as imposições comerciais que ele faz. É assim que a banda toca lá".

 

Um componente dos resultados chamou a atenção de Braga: o "GPA Consolidado", que considera a Globex, ostenta dívida de R$ 1,9 bilhão. "Não chega a ser ameaçadora [a dívida], mas compromete o lucro de um trimestre, praticamente", analisou. Na visão do professor, que leciona Matemática Financeira no Ibmec do Rio de Janeiro, as condições socioeconômicas, no Brasil, são positivas sobretudo para os negócios relacionados a comida. "Estamos num período em que a sociedade experimenta o crescimento do mercado. No caso de uma crise, a área da alimentação é a última a sofrer prejuízos, pois as pessoas optam por cortar outros itens antes do básico", observou.

 

No segundo trimestre deste ano, em comparação ao mesmo período de 2010, os supermercados Pão de Açúcar faturaram R$ 1,1 milhão; o Extra Hipermercado, R$ 2,7 milhões; o Extra Supermercado, R$ 1,1 milhão; por fim, o atacadista Assaí, R$ 0,9 milhão. No varejo não-alimentar, o GPA também apresentou resultados vigorosos. A Globex foi responsável por 44,7% das vendas líquidas dos últimos três meses e com isso faturou R$ 5,1 milhões. Neste mês, Diniz propôs ao Carrefour uma fusão com o GPA e falhou, após divergências com o sócio francês Casino. É cabível lembrar de dezembro de 2009, o Pão de Açúcar e as Casas Bahia se uniram para formar uma companhia de R$ 40 bilhões. Meses antes, em junho, o GPA anunciara a aquisição da Globex Utilidades, dona da Ponto Frio, que era, até então, a segunda maior do segmento de eletroeletrônicos do País, atrás das mesmas Casas Bahia.

 

O processo de conversão das lojas do Compre Bem em Extra Supermercado, que inclusive beneficiou os resultados do Grupo Pão de Açúcar (GPA), continua com a transformação de sete lojas em Santos, no litoral paulista, e mais sete na cidade de São Paulo. A companhia está investindo cerca de R$ 12,6 milhões na "inauguração" destas quatorze unidades, e ressalta que as primeiras lojas convertidas já cresceram mais de 30% em relação ao faturamento das antigas bandeiras.

 

Com as novas adaptações, o GPA já soma 148 unidades da rede Extra Supermercado nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Ceará. Os planos da companhia prevêem a finalização das conversões até o final de 2011, o que deve posicionar a rede de supermercados como a maior do País, com mais de 170 pontos de venda.

 

O Extra Supermercado se caracteriza como uma loja de bairro completa, com destaque para as seções de perecíveis e alimentos.

 

Veículo: DCI


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